Paulo Sousa 27/04/2019
a queda, de albert camus
Título lido: A queda
Título original: La chute
Autor: Albert Camus (Nobel de 1957)
Tradução: Valerie Rumjanek
Editora: BestBolso
Lançamento: 1956
Esta edição: 2015
Páginas: 112
Classificação: 4.5/5
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"não sabia que a liberdade não é uma recompensa, nem uma condecoração que se comemora com champanhe. tampouco, aliás, um presente, uma caixa de chocolates de dar água na boca. oh, não, é um encargo, pelo contrário, é uma corrida de fundo, bem solitária, bem extenuante. nada de champanhe, nada de amigos que ergam sua taça, olhando-nos com ternura. sozinhos numa sala sombria, sozinhos no banco dos réus, perante os juízes, e sozinhos para decidir perante nós mesmos ou perante o julgamento dos outros. no final de toda liberdade, há uma sentença; eis por que a liberdade é pesada demais, sobretudo quando se sofre de febre, ou nos sentimos mal, ou amamos ninguém" (Posição no Kindle 1130/84%).
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ler camus é muito mais que ler um romance. sua escrita poderosa sempre tem um quê filosófico, uma angustiante busca pelas mazelas humanas e isso é um deleite sem igual.
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em "a queda", vemos o advogado jean baptiste clement, auto-proclamado "juiz-penitente", que esmiúça justamente essa decadência humana. ao entrar num bar em Amsterdã, o méxico City, e diante de um estranho, nosso personagem narrador começa a abrir sua vida, e mais que isso, traz à tona toda uma decadência moral e existencial que, discrepante de tudo que achou que era e fazia, mostra o homem em sua mais profunda ruína.
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nesse ?diálogo?, o narrador vai dizendo quem é e do que gosta sem dar a chance do outro adivinhar. assim vamos desencapando o personagem. sabemos que é um homem de meia idade, frequentador dos bares do porto, que já foi bem sucedido, mas que por algum motivo (que vamos descobrindo) abandonou a vida anterior. mora no bairro judeu na pós- guerra, depois de hitler quase arrasar com tudo. conta tudo sobre o seu passado, sua vida plena e feliz. adorava ajudar os demais, sentia- se bem com isso, recompensado; era equilibrado, boa saúde, bom corpo, belo, honesto, bem conceituado, era respeitado. fazia tudo o que esperavam dele. um típico cidadão modelo. se considerava um sujeito de sorte, no entanto, queria sempre mais e mais. ?cada alegria fazia-me desejar outra?, revela.
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mas então algo acontece em uma noite de outono perto do sena, em paris, e tudo mudou. esse dia ficou marcado: o início da sua queda. o homem cheio de virtudes ajudava os demais por vaidade. ele conseguia enganar a sociedade, os amigos e clientes, no entanto, o auto-engano é impossível de ser encoberto. roído por tamanha descoberta, se sente infame, chega mesmo a pensar em suicídio, trata sobre absolvição, lascívia e liberdade. a conversa sai dos limites do bar, chegam a seu apartamento de onde, no dia seguinte, partem para um golfo próximo. a. conversa continua (desconfio que na verdade não havia ninguém ali, só a consciência marcante de jean baptiste) e o leitor vai sendo levado pelas lamúrias de um homem derrotado pela falsidade que há em si.
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camus, de quem li "o estrangeiro" e, nos arrogantes anos da adolescência, "a peste", tem essa capacidade de gerar desconforto em novelas que só parecem ser singelas. ainda bem!