spoiler visualizarBruninha 29/04/2013
Aprendendo a amar
O livro "Amar, verbo intransitivo", do genial Mário de Andrade, é uma obra tipicamente modernista, onde podemos encontrar diversas passagens que confirmam isso. Primeiramente, não encontramos a narrativa dividida em capítulos, apenas o espaçamento nos dá a ideia de conclusão de um pensamento, além de ser empregada uma linguagem coloquial que deixa uma sensação de livro "ouvido", e não "lido". Podemos reparar uma ausência de pontos e vírgulas, e, ao decorrer da história, um patriotismo mesclado com críticas. Todos esses fatores demonstram o "rompimento" com Portugal e características principalmente da primeira fase modernista.
A história contada é a de uma família burguesa de São Paulo, os Sousa Costa. Eles eram os típicos burgueses paulistanos, novos ricos, uma família patriarcal que achava que o dinheiro solucionava qualquer problema e gostava de exibi-lo, como vemos na passagem "Sousa Costa usava bigodes onde a brilhantina indiscreta suava negrores nítidos". O senhor e a senhora Sousa Costa queriam esconder a sua origem mestiça com o novo dinheiro, poder, como podemos comprovar no trecho em que fica evidente que a senhora alisava seu cabelo.
A família é composta por Felisberto Sousa Costa, D. Laura, Carlos, Audina, Laurita e Maria Luísa. Carlos estava na idade de ter sua iniciação sexual (15/16 anos), e seu pai tinha medo de que com a ausência de mulheres em sua casa o menino procurasse prostitutas que poderiam explorá-lo ou até passar doenças e torná-lo viciado, devido a sua inexperiência. A solução encontrada foi contratar Elza, que, com o disfarce de governanta e professora de alemão, deveria iniciar sexualmente Carlos. Podemos reparar nesse momento da narrativa a comprovação da teoria anteriormente apresentada de que os burgueses achavam que tudo deveria ser resolvido com o dinheiro.
Elza aceitou o trabalho com a condição de que Felisberto contasse à esposa o que realmente ela iria fazer na casa. A governanta chega e rapidamente se adapta à rotina da família, tornando-se uma peça chave para o funcionamento da casa. Logo começa com as aulas de alemão para Carlos e suas três irmãs. Inicialmente o garoto não apresenta interesse por Elza (que passa a ser chamada de "Fräulein", palavra alemã que se assemelha à "senhorita"), mas após uma convivência com a professora passa a se interessar por tudo vindo da Alemanha. A mãe, percebendo o repentino interesse de Carlos, decide demitir Elza, demonstrando não saber do tratado da mulher com seu marido. Então é realizada uma reunião para esclarecer o real papel da governanta (que se auto intitula "professora de amor").
Após este episódio, Fräulein intensifica suas investidas e seduz Carlos, até que o casal vai para a cama. Eles mantém seu caso em segredo por um longo período, e então os dois ficam realmente envolvidos. Nesse tempo, em um plano secundário, Maria Luísa fica doente e a família viaja ao Rio de Janeiro e retorna à São Paulo.
Acreditando ter terminado seu trabalho e com um certo receio de estar sentimentalmente envolvida, Elza e Felisberto armam para o mesmo flagrá-la na cama com Carlos. Quando isso acontece, o patriarca dá uma lição de moral no menino para que ele não se envolva com prostitutas, e Fräulein vai embora com seu pagamento para iniciar outro garoto burguês (e juntar o dinheiro para retornar à Alemanha, seu sonho).
Carlos sofre por um longo tempo por sua amada, mas aprende com sua dor (o que era a intenção de Elza, iniciá-lo no amor em seu completo sentido, não apenas sexualmente). Elza também não esquece por completo o menino, ficando chateada ao encontrá-lo durante o carnaval e o mesmo dar atenção apenas para a companheira, sem demonstrar o menor interesse por sua ex-professora. Porém, ao mesmo tempo que o "homem-dos-sonhos" (dentro de Elza) fica chateado, o "homem-da-vida" (mais realista e prático) fica feliz, pois tem a certeza de que teve sua missão cumprida.
O livro conta com diversas digressões em seu decorrer, como a explicação da situação dos países europeus ou até mesmo o preconceito absurdo dos alemães com negros e latinos, por exemplo, o que deu base ao nazismo. A intenção de Elza era ensinar o rapaz a amar intransitivamente para depois poder amar transitivamente e construir uma família.
A obra é de fácil leitura e conta com uma história envolvente, portanto a recomendo para todos que gostam de ler e apreciar um livro clássico com tamanha importância para a literatura brasileira.