Todos os belos cavalos

Todos os belos cavalos Cormac McCarthy




Resenhas - Todos os belos cavalos


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Rodrigo 18/12/2012

Não é a toa que dizem que Cormac é o herdeiro da prosa de William Faulkner.
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Aguinaldo 02/02/2011

Todos os belos cavalos
Descobri noutro dia que don Ronái e eu lemos quase simulteneamente "A estrada", de Cormac McCarthy, que já resenhei aqui. Os livros sabem sim proporcionar bons encontros e conversas. Dividimos um café animados e discutimos sobre o quão opressivo e verossímel é o livro. Depois falei com entusiasmo do outro único livro que havia lido de McCarthy, ainda em meados dos anos 1990. Como "Todos os belos cavalos" é o primeiro volume de uma trilogia (da qual não li os dois volumes restantes) resolvi relê-lo agora. Difícil não se apaixonar pelo estilo de McCarthy. Ele usa uma pontuação muito particular para construir os diálogos e isto dá uma vivacidade especial ao texto. O tom é contido, seco, mas com isto acompanhamos a história como se ouvíssemos mesmo os personagens. O enredo da história se concentra no nordeste mexicano, perto da fronteira com o Texas, uma região muito dura, onde os elementos e os animais selvagens apenas toleram a presença do homem. Achei um mapa e acompanhei a história com ele. Isto foi muito útil. Descobri também que esta região tem um passado geológico muito rico e uma diversidade de espécies, em lagos e rios, particularmente distinta. Bom, vamos a história. John Cole, um rapaz de seus dezessete anos vive o que acredita ser uma idílica vida no campo. Mas trata-se de um mundo condenado à transformação (o texto se passa em 1950, a vida de vaqueiro já é um anacronismo). Com a morte do avô (último membro de uma família com várias gerações de criadores de cavalos) e a separação dos pais a grande fazenda é vendida, impedindo que ele continue fazendo a única coisa que ama: domar e criar cavalos. Cole e um amigo/primo, Rawlins, decidem fugir juntos. Assim, dois garotos montados em seus cavalos entram no México, encontram um terceiro jovem, Blevins, sem dinheiro ou comida que se junta a eles. Este novo garoto é provavelmente um ladrão de cavalos, mas os dois amigos decidem acolhê-lo mesmo assim. Ao passarem por uma cidade este terceiro garoto se mete em uma confusão dos diabos e perde seu cavalo, separando-se dos dois amigos, que continuam sua jornada. Em função de suas habilidades em domar cavalos são admitidos em uma grande fazenda mexicana, por um "hacendado". Este tem uma jovem filha, Alejandra, que vez por outra vem da cidade do México visitá-lo e o romance entre o jovem rapaz e esta menina é inevitável. Como em toda narrativa que tenha a pretensão de épica após a ascenção segue-se a queda. O pai da garota os denuncia à polícia mexicana, que os prende, sem perspectiva de julgamento ou denúncia formal. No meio do caminho eles reencontram Blevins, o garoto que os acompanhou, igualmente preso, mas com o agravante que ele matou duas pessoas para recuperar seu cavalo perdido. O capitão mata Blevins e abandona os dois amigos, Cole e Rawlins, em uma prisão. Lá eles têm de brigar muito para sobreviver e eventualmente Cole mata um homem, ficando bastante ferido. Como em um passe de mágica após se recuperar ele é solto da cadeia, junto com Rawlins. Ficamos sabendo que a avó da garota, matriarca sofisticada da família do hacendado, pagou por sua liberdade. Cole tem uma longa conversa com esta avó, e aí ficamos sabendo um tanto da desgraçada história do México, sua sucessão particular de déspotas e sanguinários governantes. Rawlins volta aos Estados Unidos e Cole decide reencontrar Alejandra. Ela prometera a avó jamais revê-lo e após um final de semana juntos ela volta à cidade do México, abandonando-o definitivamente. Cole decide recuperar seus cavalos (roubados dele e de Rawlins quando foram presos). Para isto primeiro ataca o capitão que o prendeu e através dele localiza os sujeitos que estão com seus cavalos. Após um embate realmente vibrante, mesmo bastante ferido, consegue recuperar seus cavalos. Um grupo de mexicanos o ajuda e leva o capitão preso, como um prêmio, para um destino incerto. Cole volta para os Estados Unidos. É preso como ladrão de cavalos, mas em juízo convence um velho juíz da veracidade de sua mirabolante história, mostrando todos seus ferimentos e cicatrizes. Libertado, mesmo procurando muito não consegue descobrir de quem é o cavalo roubado pelo garoto Blevins. Volta com os cavalos para sua cidade natal e descobre que seu pai já é morto. Sua avó de criação, uma mexicana de origem indígena, também morre. Devolve o cavalo de Rawlins. A história termina com as intensas reflexões sobre o destino, o deserto, a força dos cavalos e a vida. Este é mesmo um livro poderoso, um romance de formação típico, onde um sujeito aprende algo de si mesmo, amadurece, que se transforma duramente em um curto mas intenso período de tempo. O mundo encantador dos filmes de Hollywood não existe neste belo livro. A geografia, os hábitos das pessoas e dos animais, a natureza, tudo é descrito de uma forma incrível neste livro. É mesmo tempo de continuar por esta curiosa triologia. [início 23/03/2010 - fim 28/03/2010]
"Todos os belos cavalos", Cormac McCarthy, tradução de Marcos Santarrita, editora Companhia das Letras, 1a. edição (1993), brochura 14x21 cm, 272 págs. ISBN: 85-7164-341-5
Alanis 30/01/2024minha estante
Que spoiler!!!!
Comecei a ler o livro e acredite, já desanimei em continuar a lê-lo - o bom de quando se lê um livro é não saber nada, ou muito pouco daquilo que irá encontrar pelo percurso de leitura...
Já perdi o tesão e para se ler Cormac McCarthy, uma boa dose de tesão se faz necessária, pois é um escritor atípico que não agrada a todos os paladares...rsrs
Li dele O Passageiro que tem uma outra abordagem e é um soco no estômago.
Sou fã das suas resenhas, mas essa me decepcionou e me irritou ...rsrs




Eduardo 08/12/2010

primeiro volume de uma trilogia. o segundo é "a travessia"
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Fabio 13/07/2010

Às vezes sou meio atrasado. Quando conheci Cormac McCarthy pensei estar descobrindo a roda, mas uma rápida pesquisa na internet me mostra que ele já não é nenhuma novidade. Me faltava até a informação de que ele era o autor do livro que gerou o Oscar de "Onde os fracos não tem vez". Mas falemos de "Todos os belos cavalos".

Ao terminar este livro me alegrou o fato de não ter gostado apenas por ser um romance ao estilo faroeste, impressão que tive quando o peguei. Sim, estão lá todos os elementos do western: a violência crua, o senso de justiça individual (um pouco diferente da justiça coletiva), tão afeita aos "cowboys" do velho-oeste.
Comecemos pelos contras para chegar aos prós: John Grady Cole é um protagonista clássico. Daqueles que logo de cara nos identificamos e defendemos. A história também possui uma narrativa clássica, numa terceira pessoa que tudo sabe e tudo vê. O panorama que se desenha para um livro "normal", no entanto, é quebrado por dois fatores que relativizam isso: a história em si e a narrativa. A riqueza de detalhes geográficos, a naturalidade de construir ambientes inóspitos e fascinantes torna o livro, do ponto de vista panorâmico, ótimo. Quanto ao estilo da escrita, o autor mostra uma segurança invejável. Não há absolutamente nada que falte e quase nada que sobre (para não ser só elogios, o começo é meio arrastado e a parte da vingança é longa demais). O clima é seco, o personagem é seco, a escrita é seca. Violenta, visceral.

"Todos os belos cavalos" é sim um livro para se ler mastigando cada diálogo, cada paisagem, ou decisão tomada. Aliás, talvez em alguns pontos seja difícil conceber a idade do protagonista. Acredito que o autor colocou-o com dezesseis anos para justificar certo tipo de rebeldia, mas em certos momentos tais atitudes não condizem senão com um adulto. Acho que a intenção é justamente essa, o amadurecimento precoce no lombo de um cavalo. A descoberta da responsabilidade, da amizade, da vocação, da responsabilidade, do amor, da vingança, do sangue, das armas. Talvez seja justamente essa a característica do livro que mais me chamou a atenção: um homem duro, amargo pela vida, mas que acima de tudo age sempre em nome da amizade, sincera e crua, e de uma paixão, igualmente honesta. Todos os atos de vingança, violência, ou truculência de sua parte são, como na física, uma reação apenas. Uma forma de resistência e sobrevivência.
Esse livro me fez querer ler todas as outras obras do autor. Como de costume, colo aqui um trecho. Um diálogo entre John Grady e seu melhor amigo, Rawlins. Ele não usa travessões:

"Rawlins balançou a cabeça., Eu podia fugir de onde me botaram. Era só uma enfermaria de hospital.
Por que não fugiu?
Por que você não?
Não sei. Você me acha burro por não ter fugido?
Não sei. É. Talvez.
Que teria feito você?
Não ia deixar você.
Isso não quer dizer que não seja burrice.
Rawlins quase sorriu, depois desviou o olhar.
Tinha outro cara lá, disse Rawlins. Todo retalhado. Na certa não era um cara mau. Saiu sábado à noite com uns dólares no bolso. Pesos. Patético pra caralho.
Que aconteceu com ele?
Morreu. Quando levaram ele de lá eu pensei como teria parecido estranho a ele se pudesse ver. A mim me pareceu e nem era eu. Morrer não está nos planos das pessoas, está?
Não.
Ele balançou a cabeça. Botaram sangue mexicano em mim, disse.
Ergueu o olhar. John Grady acendia um cigarro. Sacudiu o fósforo e o pôs no cinzeiro e olhou para Rawlins.
E daí?
Daí que quer dizer isso? Perguntou Rawlins.
Dizer o quê?
Bem, quer dizer que sou mexicano?
John Grady tragou o cigarro e recostou-se e soprou a fumaça no ar. Meio mexicano? perguntou.
É.
Quanto eles botaram?
Disseram que mais de um litro.
Quanto mais?
Não sei.
Bem, um litro já torna você quase um mestiço.
Rawlins o olhou. Não torna, torna? Perguntou. Não. Diabos, não quer dizer nada. Sangue é sangue. Não sabe de onde veio.
O garçom trouxe os bifes. Eles comeram. Ele observava Rawlins. Rawlins ergueu o olhar.
Quê? Perguntou.
Nada.
Você devia estar mais feliz por se ver fora daquele lugar.
Eu estava pensando a mesma coisa sobre você.
Rawlins balançou a cabeça. É, disse.
Que vai fazer?
Ir pra casa.
Tudo bem.
Comeram.
Você vai voltar lá, não vai? Perguntou Rawlins.
Vou. Acho que vou.
Por causa da moça?
É.
E os cavalos?
A moça e os cavalos."

p. 191-193.
Giliade 13/07/2010minha estante
Não é nenhuma novidade o fato de você ter gostado tanto da obra, afinal, a nota por si só já justificava isso. No entanto, eu percebo que no decorrer da narrativa você foi se envolvendo a tal ponto, que cada descrição passou a significar a sua própria vida. Melhor que essa, só as outras que virão. Parabéns pela resenha!
Em todo caso, antes tarde do que nunca!*

*Em relação à descoberta tardia do senhor oestino Cormac Mccarthy.




Fabio 13/07/2010minha estante
Valeu cara. Por sinal devo a você, que me emprestou o livro, a descoberta dele, hehe.


jota 12/04/2011minha estante
Pois é, Fábio. Comecei com Todos os Belos Cavalos, depois Meridiano Sangrento, em seguida A Travessia (fabuloso) e agora espero ler A Estrada (vi o filme, muito bom, e sei que vou gostar do livro). Até.


Ricardo Rocha 13/03/2016minha estante
a gente tá inventando a roda, essa é a verdade =)


Bueno 07/02/2017minha estante
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