Fabiane Ribeiro 14/02/2013
Resenha - Cavalo de Guerra
Eu li Cavalo de Guerra já tendo assistido ao filme de mesmo nome, mas confesso que, em nada isso atrapalhou a emoção de ler as linhas escritas por Michael Morpurgo.
O livro é simples, curto e mais rápido do que se pode imaginar, mas condizente com sua proposta, que é a literatura infantojuvenil.
Nele, temos a narrativa em primeira pessoa feita pelo cavalo Joey. É isso mesmo, o cavalo narra a história. Minha surpresa foi muito grande, pois confesso que esperava um livro em terceira pessoa. Mas, de forma alguma, a escolha do autor foi errada, pelo contrário, foi uma grata surpresa, pois a narrativa de Joey traz a sutileza necessária para a obra, e ainda cumpre o belo papel de despertar no leitor o grande amor por sua espécie, seus sentimentos e sofrimentos.
Joey é um cavalo comprado quando ainda pequeno em um leilão. Para seu pesar, seu novo dono não era nada agradável, porém, tinha um filho, Albert, que se tornaria seu grande amigo.
Albert é sempre gentil e o trata com carinho, além de protegê-lo do pai, principalmente quando este chega em casa embriagado.
Com o tempo, o pai exige que Albert treine Joey para os trabalhos da fazenda em que vivem, e, assim, Joey se torna um animal de trabalho, principalmente tração.
As coisas mudam quando a guerra chega, e o pai de Albert aproveita a oportunidade de ganhar o dinheiro de que estava precisando através da venda de Joey para a cavalaria.
Assim, de animal de fazenda, Joey é treinado para ser um cavalo de guerra. E se torna excelente em sua nova função, ficando na linha de frente da batalha, ao lado dos ingleses.
“Cada hora de marcha nos aproximava mais e mais dos distantes disparos de canhão e agora, já noite, o horizonte se iluminava com sinalizadores cor de laranja de um extremo ao outro. Eu ouvira tiros de rifle no quartel, e isso não me incomodara nem um pouco, mas o crescente estrondo dos canhões dava-me arrepios de medo e transformava o meu sono numa sucessão de pesadelos entrecortados” (Pág. 48).
Na guerra, longe de Albert e da fazenda, e em meio a batalhas sem fim, muitas coisas acontecem na vida do amável Joey. Descrevê-las aqui tiraria as surpresas que há na narrativa, mas que acontecem de forma rápida, justamente por ela ser curta. O principal a se dizer é que a vida de Joey na guerra não é fácil. Muitas pessoas cruzam seu caminho, ele também faz amizade com o fiel cavalo Topthorn, que muito o ajuda, e, claro, sofre também danos físicos com as batalhas.
O final é muito aguardado, para revelar-nos se Joey e Albert se encontrarão novamente.
O livro é uma graça e nos conduz à reflexão sobre o amor e os cuidados aos animais e sobre as guerras, que tanta destruição trazem ao nosso mundo. Além de ser uma lição sobre amizade e lealdade e de como lidar com as perdas. Leitura recomendada e aprovada para todas as idades. E não deixem de assistir ao filme baseado na obra, que também é maravilhoso.
Curiosidade: Cavalo de Guerra foi adaptado para o cinema em 2012, sob a direção de Steven Spielberg, tendo sido indicado ao Oscar em seis categorias.
Trecho: “O posto de primeiros socorros, que ficava atrás da linha de frente, estava lotado de feridos, de modo que tivemos de trazer uma carga muito mais pesada do que o normal. Felizmente, o caminho de volta era uma descida. De repente, um dos homens lembrou-se de que era manhã de Natal, e todos começaram a entoar cantos natalinos. A maioria dos feridos estava cega devido ao gás. Alguns gritavam de dor, outros cantavam, percebendo que nunca mais voltariam a enxergar. Naquele dia, fizemos muitas viagens e só paramos depois que o hospital ficou lotado” (Pág. 84).