Raphael 23/06/2020Troféu surpresa literária 202013° livro do ano: A Sucessora, de Carolina Nabuco.
Nota: 5,0/5,0.
Brasil, década de 1930. Duas fotografias: de um lado, um Brasil arcaico e patriarcal, que há pouco saíra formalmente da escravidão, com uma elite proprietária cuja ascendência com frequência remontava aos primeiros conquistadores; de outro, um Brasil que se queria moderno, industrializado, urbano e cosmopolita.
Marina é uma jovem inteligente e imaginativa, filha de uma tradicional família proprietária, nascida e criada na Fazenda Santa Rosa, no interior do Rio de Janeiro, sob rigorosa educação religiosa a cargo da mãe.
O viúvo Roberto Stein é um milionário cosmopolita, grande industrial estabelecido na então capital do país, dado a luxos e modas europeias. Os salões de sua mansão são dos mais concorridos entre a alta burguesia carioca, em reuniões que costumavam ser presididas por Alice, sua deslumbrante esposa, morta tão precocemente.
"A Sucessora", em certa medida, é a história do casamento entre esses dois Brasis, tão diferentes. Marina, nascida e criada naquele mundo rural, ao casar-se com Roberto, se depara com um mundo em que tem dificuldade de se encaixar.
Mais crucial. Marina se sente assombrada por um retrato de Alice, pintado por um grande artista francês, que faz com que ela sinta a presença da esposa morta de Roberto por toda a casa, sentindo em vários momentos a sua hostilidade. Alice paira onipresente sobre o casamento de Marina, transtornando-a, infelicitando-a. Inteligente, porém submissa, Marina se escraviza aos gostos e às relações do Marido e a todo momento sofre com a comparação com a antiga Madame Stein.
Um romance psicológico e intimista de primeira, que me arrebatou de um jeito que eu não conseguia largar o livro. Narrativa inteligente, reveladora de uma escritora de primeira grandeza, infelizmente esquecida durante tanto tempo. Fica fácil entre as três melhores leituras do ano.