Ruan Ricardo Bernardo Teodoro 12/03/2023
Ortodoxia: a heterodoxia da Modernidade
Ortodoxia, tá aí uma palavra desprezada pela modernidade.
Sua origem é grega e vem da junção de "orto" (correta) e "doxa" (opinião), ou seja, significa a "opinião correta". Como se pode presumir, o mero anúncio em voz alta de uma palavra como "ortodoxia" atrai rapidamente olhares reprovadores das autoridades intelectuais contemporâneas e quase sempre a suspeita de que aquele que a defende é um intolerante.
Se a palavra "heresia" pode ter um uso secular, é razoável dizer que a ortodoxia cristã é a heresia dos nossos tempos secularizados. Não obstante, no mar da loucura da liberdade irrestrita de pensamento, o Cristianismo é a barca com a âncora que nos permite manter a sanidade.
Um exemplo particular dessa descoberta vem de um escritor britânico com um forte senso de humor (intragável para alguns), G. K. Chesterton.
Em sua obra "Ortodoxia", Chesterton conta como quase fundou sua própria heresia e que, quando finalmente o fez, descobriu que não era heresia coisa nenhuma, mas a própria ortodoxia e que já a haviam descoberto a 1800 anos atrás. O escritor relata que nenhuma das filosofias dominantes do final do século XIX (as quais consumiu veementemente em sua juventude) satisfez suas indagações sobre os mistérios do mundo.
Enquanto o materialismo defendia que só existia aquilo que era físico, Chesterton sempre soube da verdade contida nos contos de fadas. Enquanto o racionalismo advogava que a única autoridade digna de crédito era a razão, Chesterton sempre confiou na autoridade espantosa do senso comum. Enquanto os pessimistas deixavam de admirar o mundo, Chesterton nunca deixou de se surpreender com ele.
E, como ele relata, de todas as indagações que formulava, apenas a chave cristã era capaz de encaixar em todas as fechaduras. Nietszche, Spencer, Tolstoi, Shaw, Blavatsky e outros, um a um eram rejeitados por suas contradições ao quererem explicar racionalmente os desvios do mundo, os quais só podem ser compreendidos a partir de uma visão valiosa e mística das coisas.
Contudo, foi na ortodoxia, mais especificamente a cristã, que Chesterton encontrou que "é preciso amar o mundo sem nele confiar; como é preciso amar o mundo sem ser mundano" (p. 100), bem como que se há algo estranho na teologia cristã, geralmente também há algo estranho na Verdade (p. 105).
Paro por aqui, mas fica o convite de conhecer essa doutrina que é ao mesmo tempo tão espantosa e tão verdadeira, tão restritiva de certo modo e tão libertadora, tão áustera e tão bela, tão pacífica e tão militante. O Cristianismo é um paradoxo e é o paradoxo mais digno de se ter fé.