Silvana 06/02/2022
Iris Marle tentou não pensar na morte da irmã após ela ter se suicidado, mas agora ela precisa se lembrar. Iris e Rosemary nunca foram próximas. A diferença de seis anos entre elas sempre pareceu ser maior do que realmente era. Seus interesses sempre foram diferentes e somente depois de adultas é que elas conviveram um pouco mais já que Iris foi morar com Rosemary e seu marido George Barton após a morte de sua mãe. Marido esse aliás, que Iris nunca entendeu o motivo de ele ter sido o escolhido de Rosemary, já que George era quinze anos mais velho que ela e apesar de ser um homem gentil, não é bonito e nunca teve dinheiro, diferente de Rosemary que herdou uma fortuna de seu padrinho.
E contrariando as expectativas, Rosemary foi muito feliz em seu casamento, pelo menos até aquela semana antes da tragédia acontecer. Rosemary estava se recuperando de uma gripe quando Iris a encontrou chorando sobre a mesa da sala de estar. E quando Rosemary saiu rapidamente afirmando que estava tudo bem, Iris encontrou sob a mesa uma carta endereçada a ela que mais parecia um testamento e que acabou sendo uma das provas que corroborou com o veredito de suicídio devido a uma depressão pós-gripe para a morte de Rosemary. E essa explicação foi aceita por todos, até agora. Prestes a completar um ano da tragédia George recebe algumas cartas anônimas afirmando que na verdade Rosemary foi assassinada.
Certo de que a polícia não vai voltar a investigar um crime já resolvido por eles, George tem a ideia de recriar o ambiente onde tudo aconteceu. Foi em um jantar para comemorar seu aniversário com os amigos mais íntimos que Rosemary tomou aquela taça envenenada. E será possível que um deles seja o responsável pela morte dela? George chama as mesmas pessoas para um jantar, dispõe os convidados da mesma maneira e infelizmente a tragédia volta a acontecer. Mas qual deles é o assassino? Ruth, a secretária apaixonada pelo o patrão; Iris, a irmã que herdou todo o dinheiro; Stephen, um possível amante, Alexandra, a provável esposa traída; Anthony que parecia enfeitiçado por Rosemary; ou até mesmo George que pode ter descoberto a traição da esposa? E qual seria o motivo para o assassino ter agido novamente?
"— Sandra, Rosemary está morta.
— Está? Às vezes, parece que ela está bem viva..."
Esse sempre foi um dos meus livros favoritos da Agatha. Não pelo mistério ser um dos melhores, mas por eu ser uma romântica de plantão e esse é um dos poucos livros da Agatha que temos romance nele hehe. Mas entendo ele não estar entre os mais lidos dela e nem estar entre os melhores na escolha dos fãs da autora. Primeiro porque não temos os tão amados detetives Hercule Poirot e Miss Jane Marple, e segundo porque o começo do livro é um tanto arrastado e o mistério nem é tão misterioso assim. Mas como cada um tem suas preferências seja por qual motivo for, eu gosto muito dele. E não temos os dois detetives citados, mas temos um velho conhecido, o Coronel Race, que aparece em outras três histórias da rainha.
Para quem não sabe a Agatha trabalhou em uma farmácia antes de aceitar o desafio da irmã e escrever seu primeiro romance policial. Então grande parte de seus "assassinatos" são cometidos com venenos. E nesse até temos um deles no título. E o grande mistério dos crimes é saber como esse veneno foi administrado porque era algo praticamente impossível de acontecer. E o engraçado é que era essa a única coisa que eu lembrava da história, a forma como o crime tinha acontecido, e mais especificamente o segundo assassinato. Eu não lembrava quem era a segunda vítima, nem quem era o culpado, por isso foi bom essa releitura porque foi como se fosse a primeira vez.
E falando em culpado, nesse livro todos os personagens podem ser o assassino. Todos sem exceção têm motivos para matar a Rosemary e fica aquela dúvida pairando sobre nossa cabeça até quase o final do livro. Vamos acompanhar os personagens em capítulos específicos e é como se cada um deles admitisse sua culpa pelo ocorrido, então fica mais fácil procurar alguém inocente do que o culpado, porque todos eles carregam algum tipo de culpa por algo do passado com Rosemary, que pode ser tê-la matado ou não. E como citei antes, temos romance nessa história e a gente torce pelos casais e por isso além de tudo fica aquele desejo de que eles sejam inocentes.
E o interessante de reler um livro anos depois, é vermos a diferença com que vamos ver certas questões. Aqui no caso nessa segunda leitura minha visão sobre a Íris por exemplo, foi completamente diferente da primeira leitura. Também lá se vão vinte e poucos anos entre as duas leituras e a Silvana adolescente não pensava igual à Silvana de quarentena anos. Mas ainda assim esse livro continua sendo um dos meus favoritos da autora. Quanto à edição, eu o reli nessa edição maravilhosa que a Harper Collins está lançando com as capas duras coloridas. Tem gente que não gosta, mas eu amo e vou ficar na torcida para que lancem boa parte dos livros dela e não parem na metade como é de costume.
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