spoiler visualizarNeto 19/05/2020
História mais atual impossível
É chocante ver como um enredo de quase 200 anos atrás remete tanto aos dias atuais.
Não ficou muito claro em que ano a história se passa, mas como é feita uma menção à questão romana, que começou em 1861, e o último capítulo ocorre em 1871, podemos concluir que tudo ocorre nos anos 60 do século XIX. Portanto, o palco é Portugal do rei Luís I (neto de dom pedro I), um país ainda muito conservador (eu diria reacionário na verdade), católico, machista e preconceituoso.
O livro traz muitas críticas ao clero. Os religiosos aparecem sempre com amantes, gulosos, preguiçosos e desonestos, usando da religião para apoiar determinados políticos. Trocando catolicismo por protestantismo, não parece nem um pouco diferente do Brasil do século XXI. No entanto, como sociedade, podemos notar como o mundo melhorou.
Sobre os personagens principais. Amélia é a mulher mais bonita de Leiria (cidade que em 2020 tem mais ou menos a msm população de simões filho, mas que na época deveria ter uns 20 mil habitantes). Ela mora com a mãe, uma tia doente e a afilhada da mãe; e é noiva de João Eduardo, um aspone da máquina estatal lusitana. Com o desenrolar da história ela chuta o noivo e passa a ter um caso com o padre Amaro. Esse é o nosso triângulo amoroso principal. Um triozinho bem chato, na verdade. Apesar do drama em que ela se envolve, é difícil simpatizar com Amelinha, por ser um personagem sem graça, está lá só pra ser corrompida pelo sacerdote. Amaro sempre se mostra como uma figura abusiva, violenta (chega a bater nela), ingrata, egoísta, enfim, uma figura detestável. E João Eduardo só ganha uma dignidade no final.
Entre os personagens secundários, que são muitos, vale mencionar o cônego Dias. Um religioso velho, cansado de guerra, sem muita paciência pras carolices das beatas.
O plot básico é o seguinte, "Melinha" (Mé) conhece "Marinho" (Má) e chuta o noivo. Obviamente, é um direito dela envolver-se com quem quiser, mas chama a atenção a forma fria, cruel e desrespeitosa com que é feita o término do noivado. Fazendo com que se sinta até pena de um personagem que até o momento era inútil pra trama. O namoro do casal Mamé vai as 1000 maravilhas, até que ela engravida, o que seria um escândalo numa sociedade machista e nojenta como a de Portugal do século 19 (no Brasil era a msm coisa).
Surgindo esse "problema", "Má" tem uma ideia mirabolante de mandar a mãe de "Mé" pra praia com o cônego (amante dela, por sinal), enquanto Mé vai pra roça com a irmã do cônego ter a criança. Porém, tudo dá errado, a moça morre no parto e a criança é assassinada por uma genocida de bebês (que coisa bizarra) a mando do padre Amaro (tá aí o crime do Padre).
A história só me fez ter mais nojo do conservadorismo de araque (nada contra conservadores de vdd, que cuidam de suas vidas e não ficam impondo coisas aos outros). S. Joaneira (mãe de "Mé") tbm tinha um caso com um padre, mas jamais aceitaria que a filha tbm tivesse um com outro clérigo, e por isso, acabou perdendo a única filha. A irmã do cônego (que tbm era madrinha de amélia) começou a desprezá-la pelo CRIME de ter transado. O livro tbm mostra uma moça, que tbm teve um caso com um padre, que foi expulsa de casa e terminou a vida como prostituta. Enfim, tudo muito escroto...
No fim das contas, Amaro se manda pra Lisboa e vive feliz pra sempre. E a partir de agora só transa com mulheres casadas. A cereja no bolo.
Enfim, o livro é uma crítica social foda, vale muito a pena ser lido.