Rangel 17/04/2017
As representações do Ser Humano
O livro "A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana" de Leonardo Boff´parte da premissa que "todo ponto vista é a vista de um ponto", ou seja, de que cada ser humano vai ter uma visão de mundo, um ponto de vista, uma perspectiva, uma filosofia de vida ou ideologia a partir das suas próprias experiências, conhecimento adquirido, assimilações percebidas e consciência própria daquilo que aprendeu, viveu, conviveu e interpretou.
Assim, para compreender a própria vida, o autor recorre a história da águia criada como galinha, de origem africana, mais precisamente de Gana, que consta a história de James Aggrey, em 1925, quando que numa floresta, um filhote de águia caiu do ninho da floresta e foi salvo e colocado por um camponês no galinheiro criado como se fosse galinha, quando recebeu visita de um naturalista que disse que o pássaro era uma águia e não uma galinha. O camponês por sua vez disse que a águia foi criada como galinha e continuaria assim pelo resto da vida dela por causa da criação. O Naturalista o desafiou a verificar e constatar que a águia vai se auto descobrir águia e sair da condição de criação de galinha e o camponês aceitou o desafio. Houve duas tentativas frustradas, no chão e no teto da casa, que não despertou na águia sua essência de característica de águia para voar. Na terceira tentativa, no alto da montanha, a águia olhou para o sol e seus olhos despertaram para um grande horizonte e voou, alcançando o mais alto do céu.
Assim, a história remete um lição de que o ser humano nasceu para ter consciência de prática história, mas que foi condicionado a ser "galinha", no sentido de aceitar "grãos", ou seja, esmolas e pequenas condições para viver, sendo que poderia ser mais se despertar a própria consciência. O ser humano, assim como os hebreus, precisa passar por um processo de auto-realização, ou seja, de libertação, de ter auto-estima e perceber sua própria capacidade de superar os limites pela criatividade e se libertar das amarras do sistema sócio-cultural-econômico-político-religioso que lhe impõe.
Todo ser humano tem dentro de si a águia cativa que precisa ser libertada, o que requer um processo de conscientização, ou seja, de reconhecer sua realidade e complexidade, perceber o caos e o cosmos que existe em cada ser reflexivo e sua dinamicidade para entender o próprio equilíbrio, até chegar na sua plenitude possível e se religar ao universo pela unicidade, de que tudo e todos são Uno, ou seja, um só, de que tudo e todos são inter-ligados. E que para interligar o ser humano com tudo e com todos, a religião como re-ligação se efetua e se efetiva pela constatação de viver uma vida ética e moral, no sentido de tornar o ambiente saudável e a relação com os outros e demais seres vivos de modo harmônico para viver em equilíbrio.
E viver com os arquétipos dentro dos seres humanos como águia e galinha ao mesmo tempo, necessita compreender esta dualidade da consciência para superar sua dicotomia e alcançar a visão de vida de modo muito maior que o mundo convencional e a sociedade aliena e manipula.
Cada ser humano para despertar seu ser Águia precisa escutar sua natureza interior, interligar coração com a razão a fim de superar os desafios e complexidade da realidade a fim de convergir o exterior com o interior.
Voar para o alto rumo a infinito é desejo da alma de cada ser humano que desperta sua consciência como sua voz interior, quando observa Deus dentro de si, assim como a Águia despertou seu ser dentro de sim quando olha o sol, o que desperta sua verdadeira identidade.
Em relação ao coração, o amor incondicional é uma grandiosa descoberta dentro do ser humano para ter compaixão pelo próximo, a fim de fazer da própria vida um sentido e significado de razão da própria existência.
Ao desvendar e compreender os arquétipos que cada ser humano possui dentro de si, ele vai buscar viver uma vida com transparência, transcendência, imanência, de sintetizar a vida entre matéria e espírito, espiritualidade com materialidade, integração Eu - Terra - Universo, integração vida - morte - Vida Eterna.
O livro é fabuloso, muito lindo e fascinante na contextualização, no midraxe-hagadá (conto histórico), na mensagem e na reflexão, que faz pensar sobre a nossa condição humana, em qual nível estamos, e se despertamos para o grande centro numinoso da vida que é o Deus cósmico dentro do nosso interior, que nos faz sair do nosso centro egocêntrico para despertar o Eu Verdadeiro e Cósmico. Vale a pena ler! Recomendo totalmente e plenamente!
site: http://lrangel.ortiz.zip.net/