Thay262 13/04/2023
Esse livro é uma montanha-russa de emoções, tipo...
Eu o tempo todo: "gente, oque tá acontecendo nesse livro???", depois "agora eu tô definitivamente perdida nesse enredo!!", tinha momentos de risadas ocasionais com passagens cômicas de muito humor ácido (típicas do autor), outras passagens de "nossa, essa parte tá um tédiooo!", vislumbres de "uau, essa sacada foi incrível, Sr. Adams!", bem como situações de "isso foi até reflexivo! Apesar de louco, acho que entendi a sátira Sr. Adams!", as vezes eu ficava "que livro chato", pra logo então ficar "que livro perfeito", noutras vezes eu pensava "ou isso foi Nonsense DEMAIS ou sou burra DEMAIS pra não entender tal sátira. Ou será que era uma passagem nerd e eu não sou nerd suficiente pra entender esse trecho? Qual será? Ó dúvida cruel!" (Bem, sabedoria começa com a dúvida, né não Freud?!).
Pensei tudo isso junto, e as vezes separado, não necessariamente nessa ordem. [Risos].
Então sim, esse livro é montanha-russa de emoções pra mim. Eu ao mesmo tempo gosto e não gosto e...
...Gostar ou não de Douglas Adams depende de ponto de vista. Mas aqui vai umas dicas, quem (com certeza) não vai gostar desse livro:
1- Quem não gosta de Nonsense. O texto é muitas vezes desprovido de nexo, com pegada bastante surrealista.
2- Quem não acha graça alguma ou não entende Sátira. Adams faz uso de muitas sátiras e paródias sócio-culturais, históricas, biológicas, teóricas, científicas, religiosas, econômicas, políticas, etc(...) Ou seja, o texto não é completamente Nonsense pra quem entende a linguagem do deboche, da ridicularização proposital de certos ideais de mundo que temos, e da ironia. Todas as reflexões advindas dessa coleção são provenientes disso.
3- Quem não gosta ou não entende algumas "Nerdices" (porque o Adams, as vezes, mistura seu Nonsense e sátiras/paródias com coisas Nerd, e não se dará ao trabalho de ficar explicando igual aquelas ficção científicas "comuns", tipo, uma boa porcentagem do Nonsense está mergulhado em teorias Nerds sobre o espaço e tudo mais, mas o Adams não vai te explicar, ele só vai usar as ditas nerdices teóricas pra fazer as coisas ficarem ainda mais insanas no enredo).
IMPORTANTE SALIENTAR:
Quem tá no volume II e ainda buscando coerência na proclamada "Trilogia de Cinco" sofre de uma doença mental terráquea bastante comum chamada "transtorno de excesso de realidade", caracterizado por necessidade intensa de controle, com propensão a busca de verossímilhança e tendência a amar apenas conteúdo factual (segundo o Guia, é claro). Concluí-se que doses de Dinamite Pangaláctica bem gelada com os amigos costuma curar esse probleminha na maioria dos casos, e nos raros casos que não há cura a pessoa é só muito pau no uc mesmo, infelizmente.
OQUE EU ACHEI?
Infelizmente, esse volume II não tem o mesmo tom do primeiro livro (do qual gostei MUITO), Adams se perde em todo o surrealismo que criou. Eu sei que a pegada dele é essa, e isso é a melhor coisa do Adams, mas no primeiro volume ele equilibra melhor sua tríade: Nonsense, enredo nerd, e Sátira. Bem como explora melhor seus personagens (para um primeiro volume).
Quando nesse aqui ele simplesmente passa a primeira parte inteira dando destaque ao Zaphod e Marvin, a história só fica mais interessante justamente quando eles SAEM do Restaurante no Fim do Universo. E mesmo o resto não me engajou tanto, ele falou tanto do Zaphod no começo, no final fica só no Arthur e no Ford (a Trillian é irrelevante nesse livro, sério. E ele envia os Vogons no começo pra não tocar mais neles durante todo o livro).
Tem sacadas interessante e passagens engraçadas, mas só. Adams perde a mão, coloca muito Nonsense numas partes, muitas nerdices em outras, e aqui e ali enfia as sátira a esmo. E os personagens não tem balanceamento dentro da trama, como falei, passa metade do livro falando só nuns, outra metade falando só nos outros. Perdeu a mão total esse Adams.
Talvez eu tenha criado muito expectativa depois do primeiro, então esse ficou ofuscado. Ou talvez o Adams tenha perdido um pouco seu D.N.A mesmo (entendedores entenderão).
COMO FOI A LEITURA:
As vezes eu terminava um capítulo pensando "que doideira". O texto é uma loucura nerd satírica afogada no Nonsense em 95% do enredo: e tem umas sátiras engraçadas que abrem espaço pra discussões vastas, quando tô lendo as páginas passam voando por mais insanas que sejam, ou talvez seja justamente por isso! Sério, eu me perdi no tempo lendo esse (trocadilhos à parte [risos]).
Como uma pessoa cuja vida é permeada de sufocante seriedade, esse livro é como ar fresco. Nunca tinha entendido o sentido de Carpe Diem, até Adams me ensinar que daqui a uns minutos a Terra pode ser demolida, posso tá cercada de Vogons, e a resposta pra tudo é 42, e a resposta pra essa resposta continua sem resposta, e tudo é uma loucura improvável em meio a um mar de improbabilidade (por que sempre é), mas quem liga? Então vamos só deixar acontecer, "deixa rolar", Ler It Be pros gringo, porque geralmente nós achamos que as coisas são dignas de TODA a nossa preocupação e seriedade, mas talvez agente só esteja se importando demais. Então bora desencanar! (O "Carpe Diem" era pra entrar no fim desse discurso de m####, tendeu?? [Risos]).
CONCLUSÃO:
Foi legal, tô presa entre duas sensações: 1)quero fazer como o Arthur (jogar o Guia para longe de mim, pelo menos por um tempo) e ao mesmo tempo 2)há uma facilidade na leitura do Guia que fica informando algo como; símia estúpida, até parece que você vai conseguir abandonar esse filhote de parodização de filmes ficção científica sérios + satirização de tudo que a humanidade passa milênios filosofando só pro autor vir tripudiar, mas conhecida como "a louca odisséia galáctica de D.N.Adams" ou "O Guia do Mochileiro das Galáxias".
MOTIVO DA NOTA: esse volume não atendeu as (astronômicas) expectativas que eu tinha, talvez fosse melhor eu não ter criado expectativas. Mas, provavelmente, vou ler os outros por pura curiosidade de saber oque vai rolar, só Adams pra me fazer sentir coisas tão controversas.
site: entulhandoideiasdiversas.blogspot.com