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Ficções Jorge Luis Borges




Resenhas - Ficções


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Arsenio Meira 24/12/2013

Natal Borgiano

Vou me ater aos contos que mais gostei. Melhor, os que mais me marcaram, pois na verdade, gostei de todos. E merecem deferência especial os contos "Pierre Menard, autor de Quixote", "Funes, o memorioso", "A seita de Fênix", "O fim" e "A Loteria da Babilônia".

Além do gosto pelas narrativas curtas e pela poesia, Borges tinha em comum com Edgar Allan Poe a versatilidade de seus contos, do fantástico ao cômico, do drama ao policial. O homem era um bólido. Gênio. Já escreveram isso 895 milhões de vezes. Problema dos números. Escrevo, e ponto. O quarto conto da seção Artifícios é um sofisticadíssimo conto policial ("A morte e a bússola"). Sofisticado leia-se, sem pedantismo, porque Borges nos faz imaginar que terá uma solução mais ou menos previsível (as iniciais dos assassinados formariam o nome oculto de Deus), mas na verdade nos conduz a uma revelação mais sutil e engenhosa, em que os crimes são praticados não por inspiração de uma seita hasídica, mas tão somente pelo desejo do assassino de valer-se do acaso para criar uma armadilha de vingança.

O protagonista é o agente Erik Löonrot, mais dado a pistas e interpretações intelectuais dos crimes do que à busca de evidências banais.

O desenho dos crimes (no caso, o losango) não deixa de ser uma solução interessante para a época em que Borges escreveu, em que assassinatos em série não haviam sido banalizados pelo cinema e pela televisão. O que agrada no conto, no entanto, é a ideia de construção dos crimes seriais a partir do acaso (a frase que a primeira vítima havia deixado sobre a máquina de escrever) e do desejo de envolver a vítima principal num labirinto que irá encantá-lo e conduzi-lo à própria morte. Nenhum assassinato terá tido execução mais literária, nenhuma dupla assassino-vítima terá sido mais borgiana, e é isso, esse elemento puramente lúdico, literário e labiríntico que encanta nesse belo conto policial.

O tema principal do conto O milagre secreto, é a questão do tempo, sua forma e limites. Em que medida o tempo é linear ou cíclico, limitado ou infinito? Um instante é indivisível ou pode compreender uma hora, um dia, a eternidade?

Jaromir Hladík, um escritor de origem judaica, é preso em Praga pela Gestapo cinco dias após a invasão da cidade pelas forças alemãs, em março de 1939. Sua sentença à morte logo lhe é revelada, e ele terá de esperar dez dias para sua execução. Nesses dias finais, imaginará execuções para si (com a expectativa alimentada por um detalhe ocasional, capaz de salvar-lhe o pescoço), buscará consolo na ideia da eternidade de uma noite, de um momento e acabará encontrando o verdadeiro refúgio na ideia de concluir sua única obra que lhe parece digna de permanecer. Hladík dedica-se à tarefa, mas consciente do escasso tempo para concluí-la, implora a Deus um ano mais. Por meio de um sonho, Deus avisa que seu pedido será atendido.

O milagre secreto é mais um conto de Borges construído a partir de uma ideia fantástica e filosófica ou, melhor dizendo, fantástica porque nas fronteiras inapreensíveis do pensamento filosófico. A agonia de Hladík é mais um pretexto para Borges liberar suas deliciosas fantasias sobre o tempo.

No magistral "Ruínas Circulares", Borges conta as conquistas e desilusões do personagem sonhador, que alterna fases de sono permanente e crises de insônia, abstinências de sonhos e sonhos induzidos, sempre desta que é a matéria mais imponderável. Não há referência a livros ou autores imaginários. Tão-somente uma bela idéia desenvolvida em forma de história: a possibilidade de que alguém crie, por meio do sonho, um personagem que se torne real. O protagonista, um aldeão que navega rio abaixo e vive a dormir sob o abrigo das ruínas de um templo, sofre a obsessão: Eis aqui o sonho último do artista, em particular da literatura.

O aldeão faz por fim um pacto com o deus fogo do templo em que se abriga, e consegue criar e fazer viver sua criatura, seu filho. Este deve abandoná-lo, deixando-lhe apenas o receio de que o filho viesse a saber que não passava de produto da imaginação. O final do conto é tipicamente borgiano, circular, infinito, como o título já sugere. Li e reli essa pequena obra-prima. É um caminho sem volta.

Conto tipicamente borgiano, porque mistura livros e personagens reais e imaginários, e nos traz uma idéia central mirabolante e criativa, é Tlön, Uqbar, Orbis Tertius. Um grupo de pessoas cria um país e um planeta imaginário e insere verbete sobre o tema numa enciclopédia de prestígio (como a Britannica) ou mesma edita uma enciclopédia inteira sobre o planeta, com estudos sobre sua geografia, sua história, sua teologia, sua literatura. É um ótimo pretexto para Borges contar-nos as peripécias dos autores anônimos, enfiar fatos que misturam personagens como Bioy Casares e Alfonso Reyes, e falar de uma curiosa língua e metafísica. Uqbar é um país de localização incerta, de fronteiras imprecisas, na Ásia Central, Tlön é um planeta, o Orbis Tertius, onde as nações são arraigadamente idealistas e onde a metafísica é afinal um dos pilares da literatura fantástica.

Em Tlön, predomina a idéia do sujeito único, os livros não são assinados, porque se imagina que sejam produtos de um único autor, intemporal e anônimo. Como num jogo, em que o prazer maior é a verossimilhança, Borges mostra-nos com extrema delicadeza a maneira como surge a idéia do planeta imaginário, as referências aos livros e autores que o dissecam, as peculiaridades do lugar. As descrições do mundo imaginado são deliciosas, como nas cidades invisíveis de Calvino, embora Borges, ao contrário do escritor italiano, deleite-se mais com a criação dos criadores e do processo de criação em si do que com o objeto criado.

Há também um fino humor tanto sobre os americanos (o magnata que escarnece a modéstia de um projeto de criação de um país imaginário e propõe a concepção de um planeta inteiro) como sobre os ingleses e saborosa é a crítica direta às ideologias do século XX, que soa como música num conto tão sutil e inteligente.

Entenda-se ou não como conto, aliás, o leitor "é o sujeito mais livre do mundo", como decretou o nosso genial Nelson Rodrigues, chame-se de narrativa curta ou qualquer outro nome, o fato é que A Biblioteca de Babel, de Borges, é um exercício supremo de imaginação. A Biblioteca é o universo, e se não é infinita, a questão é irrelevante, já que seus limites são inacessíveis ao homem. Não há existência fora dela, ela abarca tudo. Lá estão os homens e todas as possibilidade de combinações de 25 símbolos (22 letras, espaço, ponto, vírgula) em livros de quatrocentos e dez páginas, com todos os idiomas e formas criptográficas possíveis, distribuídos em salas hexagonais que se comunicam por meio de pequenos vãos com outras salas hexagonais ao lado e acima, como uma colmeia perfeitamente geométrica e sem fim.

A grandiosidade do universo é melhor percebida na morte: a sepultuta dos homens ocorre no ar insondável, ao vento da queda do corpo no fosso que atravessa as colunas de hexágonos e nunca termina. Borges aproveita sua Biblioteca para lançar outras imagens geniais, como a idéia do livro cíclico de Deus, cuja lombada envolve uma sala circular, ou do livro de folhas de espessura infinitesimal que poderia conter todos os livros; a idéia do falso predomínio do caos e da falta de sentido sobre a plausibilidade (já que mesmo a esmagadora maioria dos livros com combinações aparentemente aleatórias podem fazer sentido em linguagens que não dominamos; a busca pelos homens do livro sobre seu futuro entre tantos livros sem sentido e tantas biografias futuras falsas de si mesmo; a busca do livro que revela a origem do Universo/Biblioteca...

A Biblioteca de Babel é, ao mesmo tempo, a metáfora da vida de Borges, em que o mundo são os livros, e o melhor espelho de sua imaginação vertiginosa.

Daniel 10/01/2014minha estante
Este livro ficou muito tempo na minha lista "vou ler". Mas um leitor de gosto semelhante ao meu me disse que tinha achado "muito chato". Vou colocá-lo de novo na lista.


Arsenio Meira 10/01/2014minha estante
Daniel, realmente aqui, ou a gente vai gostar muito, ou vai pular fora... Eu também fiquei um tempão para ler esse livro. Uma prima minha legítima, que é fanática por Borges e Cortázar me deu de Natal o livro. Eu já tinha um outro exemplar. Estava novinho... Entao, peguei o que ganhei e resolvi ler e espontaneamente, Borges me mostrou o porque dele ser considerado gênio. Preparo-me para o Cortázar. Sem hora marcada, mas vou ler. Abraços


Flávio 24/01/2014minha estante
Daniel, Borges é fascinante. Merece ser lido.
Arsenio, excelente resenha. No ponto. Não é fácil, mas nada deveria ser tão fácil.


Thiago Ernesto 15/10/2015minha estante
Sempre um prazer ler suas resenhas Arsenio! Lembro-me que quando mencionei minha intenção de, em breve, ler Ficções você me mandou ir com calma rs Pois é, não aguentei. Assim que li Pierre Menard não me contive e tive que procurar mais Borges! Abraço!


Marcos.Azeredo 19/07/2018minha estante
Estou querendo ler este livro de Borges, já que gosto muito de literatura latina-americana, Li Garcia Márquez e Cortázar, dois grandes escritores.


Márcio_MX 09/01/2019minha estante
Gostaria muito de ter tido a oportunidade de discutir Borges com você, amigo.
Mas sua resenha já foi um alento.


Marcos.Azeredo 22/07/2020minha estante
Esperava mais deste livro do Borges.




Regis 04/06/2022

Uma viagem insólita...
Jorge Luis Borges nos conduz por Ficções através de espelhos, labirintos, jardins, bibliotecas e livros de uma maneira que te torna espectador de cada história.

Uma leitura densa que deve ser repetida. São contos marcantes e fantasiosos que bem poderiam ser sonhos insólitos, vivenciados durante uma febre.

Jorge Luiz Borges que influenciou autores como Umberto Eco e Adolfo Bioy Casares, nos faz viajar a cada conto tentando entender esse trajeto fantasioso que as vezes nos foge a compreensão.

Uma leitura maravilhosa, imersiva e que necessita um retorno para aprofundar o entendimento de alguns contos.

Recomendo cada conto desse livro. Destaque para: As Ruínas Circulares, A Biblioteca de Babel, A Loteria em Babilônia e O Milagre Secreto.
DANILÃO1505 04/06/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro


Cleber 05/06/2022minha estante
????




Lista de Livros 19/10/2021

Lista de Livros: Ficções, de Jorge Luis Borges
“A verdade é que vivemos adiando tudo o que é adiável.”
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“Dormir é distrair-se do mundo.”
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“Então compreendi que a covardia de Moon era irremediável. Pedi-lhe sem jeito que se cuidasse e me despedi. Aquele homem com medo me envergonhava, como se fosse eu o covarde, não Vincent Moon. O que um homem faz é como se todos os homens o fizessem. Por isso não é injusto que uma desobediência num jardim contamine a todos; por isso não é injusto que a crucificação de um único judeu baste para salvar todo o gênero humano. Talvez Schopenhauer tenha razão: eu sou os outros, qualquer homem é todos os homens, Shakespeare é de algum modo o miserável John Vincent Moon.”
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GiSB 14/12/2021minha estante
Comprei pra ler. Estou na expectativa pra ver se o tal do Borges é esse rei da cocada preta que todo mundo diz. Comprei Tb o jogo da amarelinha dele, pelo nosso motivo. Mas gostei da sua resenha, cativante e instigante.


caio.lobo. 14/12/2021minha estante
Borges é um alucinógeno




Guilherme Amin 27/04/2024

Uma leitura do primeiro conto: ?Tlön, Uqbar, Orbis Tertius?
Segundo Borges, este conto é uma nota sobre livros imaginários: ?The Anglo-American Cyclopaedia? e ?A First Encyclopaedia of Tlön. Vol. XI. Haer to Jangr?.

A meu ver, a escolha de enciclopédias para constituírem os livros fantasiosos revela a pura paixão de Borges pelo conhecimento enciclopédico, algo que ele próprio buscava ter.

Um dos ?personagens? é o escritor também argentino Adolfo Bioy Casares, de quem Borges foi amigo inseparável na vida pessoal e profissional, tendo sido até padrinho de casamento dele com a escritora Silvina Ocampo.

A passagem adiante é uma pista que Borges nos dá para informar que uma das coisas que mais importam nestes escritos, neste livro, é a forma, o estilo como ele o escreveu. Isso serve de conforto para o leitor não esmorecer diante da aridez do conteúdo dos textos (p. 14):

?No dia seguinte, Bioy me ligou de Buenos Aires. Disse-me que tinha à vista o artigo sobre Uqbar, no volume XXVI da Enciclopédia. Não constava o nome do heresiarca, mas, sim, a referência a sua doutrina, formulada em palavras quase idênticas às que repetira, embora ? talvez ? literariamente inferiores.?

Ainda assim, Borges pressupõe ou ao menos não subestima a inteligência de seu leitor (p. 15): ?Essas quatro páginas adicionais compreendiam o artigo sobre Uqbar; não previsto (como terá notado o leitor) pela indicação alfabética.?

E aparentemente do nada, na página 18, Borges não resiste a inserir um dado sobre o islamismo e o mundo árabe em geral, pelos quais ele se interessava muitíssimo ? o que se constata claramente na coletânea ?O Aleph? (1949), por exemplo.

Em ?Tlön, Uqbar, Orbis Tertius?, Borges cria um mistério em torno de dois livros enigmáticos para construir uma espécie de aventura de intelectuais que saem em busca da possível verdade sobre: 1) uma estranha enciclopédia (?The Anglo-American Cyclopaedia?) que contém verbetes sobre um falso país chamado Uqbar; 2) uma segunda enciclopédia inaudita (?A First Encyclopaedia of Tlön. Vol. XI. Haer to Jangr?) que trata inteiramente de um planeta imaginário, de nome Tlön.

Inicialmente, Tlön aparece na primeira enciclopédia como mera região que já era imaginária e citada nos livros daquele país ignorado (Uqbar) ? páginas 15/16 do conto.

Depois, Tlön aparece como um planeta imaginário na segunda enciclopédia: ?A First Encyclopaedia of Tlön. Vol. XI. Haer to Jangr?, na qual Borges encontra o ?vasto fragmento metódico? de um planeta imaginário: Tlön, agora não mais uma região fictícia de Uqbar. A partir disso, examina a linguagem e especula as possibilidades da linguagem nas nações desse planeta, inclusive em relação a como os idiomas de lá constroem as próprias realidades locais, de um ponto de vista metafísico ? como no filme ?A Chegada? (2016), por exemplo. Desenvolve então uma complicada narrativa filosófica, associada à lógica, à matemática e à arqueologia, de difícil compreensão, que por enquanto não suscita meu interesse (páginas 22 a 28).

É em algum momento não descrito no conto que Tlön ascende da condição de ?região? mítica do país Uqbar para se tornar, Tlön próprio, um país. No pós-escrito de 1947, Borges explica que a posterior conversão de Tlön, de país em planeta, deu-se pela proposta do milionário Ezra Buckley, um megalomaníaco como muitos estadunidenses. A sociedade secreta e multigeracional que inventara Uqbar e Tlön então empreende o projeto sugerido por Buckley e designa essa revisão das falsas enciclopédias pela expressão ?Orbis Tertius? (latim para ?terceiro mundo?).

Como se trata de um conto fantástico, Borges decide acrescentar relatos de duas intrusões do mundo fantástico no mundo real (páginas 30/31), justamente num ponto em que a narrativa, pela extensão e pelo teor, estava começando a parecer realista.

Na sequência, a ?Primeira Enciclopédia de Tlön? é descrita por Borges como ?Obra Maior dos Homens?, talvez em contraponto à Bíblia, que seria a obra maior de Deus. Aparentemente, há nisso alguma referência ao pedido do milionário financiador de ?Orbis Tertius?: ??A obra não pactuará com o impostor Jesus Cristo?. Buckley descrê de Deus, mas quer demonstrar ao Deus inexistente que os homens mortais são capazes de conceber um mundo? (página 29). Em todo o caso, ambos são textos escritos, e o que Borges quer dizer é que o poder da linguagem é capaz de alterar o mundo em que vivemos.

Ao fim, Borges conclui que, desde que haja uma aparência de ordem, tanto as piores ideologias (antissemitismo e nazismo, sem prejuízo de outras) quanto a irrealidade e a estupidez (a exemplo da disseminação de pseudo-conhecimentos sobre mundos inventados, que é o caso do planeta Tlön) podem inflamar a humanidade e, afinal, emburrecê-la. E o fazem por meio das diversas manifestações da linguagem. De fato, é mais fácil obedecer pacífica e acriticamente a leis e hábitos irracionais, quando hegemônicos, do que questioná-los. A alegoria de Tlön é a da domesticação das sociedades por meio da prevalência do senso comum, introduzida pela linguagem dos agentes dominantes (?o contato e o hábito de Tlön desintegraram este mundo? ? página 32). Por isso, quando submetida à autoridade de instituições que aparentam ser bem ordenadas, ?a humanidade esquece e torna a esquecer que é um rigor de enxadristas, não de anjos? (página 32) ? de poderosos e estrategistas, portanto, e não de forças sobrenaturais ou entidades espirituais. Tanto é assim que o megalomaníaco Ezra Buckley queria, com as enciclopédias, ?demonstrar ao Deus inexistente que os homens mortais são capazes de conceber um mundo? ? por meio da linguagem.

Na interpretação que faço do conto, a realidade, então, é ordenada pelos que detêm o poder, seja nas sociedades capitalistas, seja nas ditaduras de esquerda: eles é que determinam não só o presente, como as memórias do nosso passado ? basta ver as correntes revisionistas da história que ainda hoje grassam. Quando a estupidez generalizada enfim dominar a sociedade, ?aí desaparecerão do planeta o inglês, o francês e o mero espanhol. O mundo será Tlön? (página 33).

Mas será que podemos fazer algo para impedir isso? Que poder temos contra as nações hegemônicas, contra os monopólios empresariais, contra os Putin, Maduro, até os Elon Musk deste planeta? Ciente de sua impotência, de que morrerá sem conseguir parar essa escalada, Borges resolve sossegar a mente, finalizando o conto: ?nada disso me importa; continuo revendo, na quietude dos dias do hotel de Adrogué, uma indecisa tradução quevediana (que não penso publicar) do ?Urn Burial? de Browne?. ?Urn burial? pode ser traduzido, justamente, como ?urna mortuária?. De todo modo, essa acomodação, que Borges não consegue deixar de encarar (no espelho, metaforicamente), o assombra: ?os espelhos têm algo de monstruoso? (página 15).
Kassio Coimbra 27/04/2024minha estante
Estou encantado com seu texto. Não sei se conseguiria ler esta obra diante da complexidade, mas fiquei instigado a tentar! ???????


Guilherme Amin 28/04/2024minha estante
Obrigado, amigo! ??


Vania.Cristina 28/04/2024minha estante
Eu já estava querendo ler Borges, agora então...


Guilherme Amin 28/04/2024minha estante
Que bom, Vania!




Tiago Mujica 04/06/2022


Li quando era mais garoto vários contos do Borges e conforme fui envelhecendo, eu os reli e curioso que sempre que os relia entendia algo diferente da história, as reinterpretava e encontrava novos significados para o texto. Não sei se não era um leitor muito atento na época, ou se existe realmente essa magia nesses contos.

Borges era um fascinado pelo tema do labirinto perfeito que englobaria o Todo numa espécie de repetição infinita, numa infinidade de variantes. Tudo isso deixa o leitor atordoado e imóvel no olho da tempestade. “Ficções” também está imbuído de uma forte poesia melancólica que torna cada conto atemporal.
Borges leu tudo, sua imaginação fértil alimentada por suas leituras abundantes de tudo que chegava às suas mãos (literatura ocidental, oriental...), suas metáforas e seu simbolismo aberto a todas as interpretações, sua maneira original de nos levar a refletir, imaginar, examinar, buscar para descobrir, abrir novos caminhos para nós. Encontrei também ali, o homem labiríntico que é Borges, que conduz o leitor por onde ele jamais poderia ter entrado! Para ler este livro pequenino, é preciso uma referência rica, é preciso se adaptar ao estilo de Borges, a toda essa informação histórica (mais mitológica), científica (matemática). Além disso, Borges é o homem no espelho, um mundo tem seu duplo. E este ad infinitum; o mundo da biblioteca, o homem e o seu duplo de sonho, o real e o imaginário, o destino e o acaso.

Borges é o homem da biblioteca, o seu livro é uma hábil mistura de todos os escritos universais mas também das enciclopédias que consultava. As peças (porque não podemos nomeá-las ou classificá-las) que esta coleção reúne são variadas e originais (em termos de forma e conteúdo). Borges, que defende a releitura, apresenta-nos uma obra a ser relida interminavelmente. Porque essas peças são como vidro pulverizado que mostra um reflexo diferente toda vez.

Se Kafka queria (entre outras coisas) representar o mundo transformando-o em sonho (ou pesadelo), Borges queria recriar o mundo que não verá mais, por causa de sua cegueira.

“A Biblioteca de Babel” e “Pierre Ménard, autor de Dom Quixote”, me destacam particularmente entre os contos presentes nas Ficções. Ambos os contos apresentam caricaturas irônicas que simbolizam o absurdo e a vaidade absoluta da busca frenética do conhecimento em que nossa civilização atualmente parece se encaminhar. Também apreciei muito a luta pela liberdade expressa em vários contos, incluindo “Tlön, Orbis Tertius” e especialmente “A Loteria da Babilônia”.
Um leitor precisa conhecer certas informações precisas, apenas para captar o sentido do que é expresso e a impressão que deve emergir dele, e é à palavra que Borges sempre lhe dá a medida certa. Obviamente, é possível que a mensagem não chegue a alguns, mas todas as chances serão disponibilizadas para eles, a fim de manter sua atenção e interesse em seus níveis máximos.

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Valter.Guedes 29/01/2022

A arte do sonho.
Borges, um poeta introspectivo do século 19 caminhou trôpego e sereno pelo século 20, o século da máquinas grosseiras e das cinzas. Parece pesar a lama em seus sapatos finos enquanto caminha guiado por sua bengala, recriando a cada passo uma nova vida inteira em que o fantástico que dele se afasta é arrastado para ele quando Borges aceita ser o que era, um oráculo. Ainda que cercados por multidões de fieis, todo protagonista de seus contos se encontra sozinho, mesmo entre seus pares.

Seja em um quarto de pensão em que espera o disparo na nuca, seja sentado diante de uma cadeira em alguma biblioteca na qual em uma enciclopédia encontra um verbete que faz referência a um continente perdido, o protagonista é sempre alguém sozinho em seu mundo, por ser o centro de seu mundo sonhado.

Borges tornou sua cegueira, sua solidão, sua voracidade mágica em seu labirinto e o mobiliou com seu passado fantasiado de criança. Um homem perdido entre sombras, mas que as conheceu muito bem.

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larissa dowdney 05/02/2011

Contos sobejamente cansativos. Apesar de curtos, exige uma leitura lenta que - no meu caso - causou uma certa repulsa. Indo contra a maré da maioria das pessoas que adoraram os contos, eu não gostei de absolutamente nenhum e muito menos me admirei com a escrita detalhada do Borges.

Uma decepção!
Ronnie K. 08/12/2014minha estante
Aaaahhhhhh...!


Salomão N. 15/03/2017minha estante
Também não gostei, mas não merece uma estrela. É de uma criatividade singular, apenas não me agradou!


Bob 22/07/2017minha estante
Entendo perfeitamente os elogios, mas também não vem me agradando.
Assim que acabar de ler pretendo reler um ou dois contos novamente, com mais calma.




Leonardo 22/05/2021

Uma tortura
É inquestionável a genialidade do autor. Os contos demonstram toda a sua erudição. Porém as histórias são muito sem graça. Você fica com a sensação de que os contos duram uma eternidade, tornando a leitura uma tortura, o que é um paradoxo, porque o autor logo no prefácio enaltece o poder de síntese.
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Brenda 23/02/2024

As ruínas circulares e o inferno da repetição. O assombro na realidade e no homem.
Menos de 200 páginas, e que me custou 2 meses de leitura. A densidade é tamanha, que atravessar esse livro é uma aventura de fôlego. Borges não facilita, ele resenha narrativas complexas, entregando-as no mínimo de linhas, e é desse pouco imenso que extraímos alguma coisa (e confesso que só cheguei na superfície). Mente de titânio kakaka ele entrega tudo! Esses contos que desafiam a realidade, o tempo, destino... Preciso fazer releituras e mais releituras...
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Jonara 06/07/2010

Ler as ficções de Borges é como entrar num labirinto de espelhos. A gente escolhe um caminho, anda até o fim e dá de cara com uma parede. Retorna, se ilude com um espelho e encontra outro beco sem saída. Anda pra um lado, pra outro e se perde completamente. Isso é especialmente interessante. Eu pelo menos, duvidava do que tinha lido. Li cada conto mais de uma vez, e tinha certeza que não tinha lido direito, que tinha perdido alguma parte. Pretendo ler de novo, porque parece que este é um livro sem fim, nunca se lê um conto da mesma maneira.
Marcela Kühn 06/07/2010minha estante
Sem dúvida, achei que foi muito bem dito. Um livro que não acaba, infinito. Além de muitas vezes ser ininteligível!
Parabéns pela resenha


Patricia 28/04/2012minha estante
Você descreveu com precisão a minha impressão do livro. Eu me dei ao trabalho de relê-lo e ainda assim todos os contos parecem totalmente non-sense com exceção de "As Ruínas Circulares" o qual tem um final óbvio.




Flavia.Janielly 05/05/2021

É uma leitura bem complexa, precisei reler alguns contos mais de uma vez. Mas também, quando parei para analisar, percebi a genialidade na escrita de Borges. É incrível, mas recomendo apenas caso se interesse pela temática, pelo autor..Caso contrário, a leitura pode ser um tanto arrastada, como foi para mim no início.
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Paula.Brener 11/04/2024

Ficções de Borges
A obra possui escrita erudita, tornando a leitura difícil e cansativa. Mas vale o esforço. Alguns contos trazem reflexões impressionantes e marcantes. Destaco como os que me marcaram em especial: A Loteria de Babilônia; Funes, o memorioso; O Sul; Pierre Menard o autor do Quixote; e Tlön, Uqbar tertius.
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Gabriel 10/02/2022

Realmente genial, não há o que discutir. Borges é no fundo um brincalhão, joga conosco o tempo todo. Usa da metafísica e suas próprias obsessões e erudição pra criar um universo. Não há um endosso desses interesses, mas sim uma ficção por cima deles. Existem vários signos nos contos e nada está ali por acaso. Entendo quem não se identifique, pois vários contos só fazem sentido se o leitor tiver um conhecimento prévio de muitos assuntos (inclusive há um intenso diálogo entre eles). São contos que dão nó na cabeça, mas que no final vale a pena. Para os que não leram sugiro que antes ou durante a leitura conheçam a figura de Borges para ter uma melhor experiência.
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