Laís Helena 27/08/2014
Resenha do blog "Sonhos, Imaginação & Fantasia"
A cidade de Imardin todos os anos passa pela Purificação, onde os pobres são expulsos da cidade para viverem nas favelas, fora da Muralha Exterior da cidade. Sonea e seus tios, Jonna e Ranel, estão dentre aqueles que foram expulsos da cidade. Sonea se separa dos tios e reencontra seus antigos amigos, da época em que morou na favela pela primeira vez. Harrin e Cery a convencem a se juntar aos jovens que atiram pedras contra a proteção mágica dos magos, responsáveis por organizar a Purificação. Atirar as pedras é inútil, pois elas não ultrapassam a barreira, no entanto, Sonea consegue fazer com que uma das pedras ultrapasse a barreira e atinja um dos magos. E isso só pode significar que ela é, também, uma maga.
Como raramente um mago é capaz de libertar seus poderes sozinho, os magos assumiram que ou alguém tinha libertado os poderes da garota ou ela era uma maga poderosa e não precisava de outros para liberarem seus poderes. De uma forma ou de outra, era perigoso ter um mago à solta, que não era controlado pelo Clã dos Magos, e assim se decidiu que uma busca deveria ser feita — deveriam encontrar a menina e convencê-la a se aliar ao Clã, antes que seus poderes se fortalecessem e se tornassem perigosos, para Sonea e para as pessoas ao redor.
Assim, iniciou-se uma perseguição. Sonea, criada na favela, foi educada para ver o Clã dos Magos de uma maneira ruim, por estes se envolverem na Purificação, e, acreditando que os magos desejavam sua morte, decidiu que precisava se esconder — para isso contanto com a ajuda de seus amigos. Enquanto isso, os magos debatiam quaisquer meios que tornassem possível encontrar a garota o quanto antes — antes que ela perdesse o controle sobre seus poderes e se tornasse perigosa.
A história é contata sobre vários pontos de vista — Sonea, seu amigo Cery e dois magos, Rothen e Dannyl. Quase a metade do livro se dedica à fuga de Sonea do Clã dos Magos, mas a autora consegue não tornar isso repetitivo. Ao longo da perseguição, Sonea e Cery passam por diversos esconderijos e negociam com os Ladrões, o que nos permite conhecer melhor seu mundo, os costumes e a complexidade das relações entre as pessoas. Os capítulos sob os pontos de vista dos magos nos permite saber mais sobre o próprio Clã dos Magos — as divergências entre eles, as regras e os jogos de poder. O livro em sua maior parte prende o leitor pela ação e pela expectativa do que acontecerá a seguir, e não tanto pelo mistério.
A caracterização do mundo criado pela autora não é muito detalhado. Grande parte da história de Kyralia é contada pelos magos, e não por Sonea ou seus amigos, o que é condizente com a condição de vida destes últimos. Ainda assim, senti falta de alguns detalhes culturais, e um pouco de exploração das questões políticas — aparentemente, existem várias casas de nobres, mas a autora não foca muito nelas. Embora ainda tenham mais dois grossos volumes, acredito que isto merecia ser mais detalhado, uma vez que muitos dos magos vêm destas casas e o Clã deve obediência ao rei.
O real vilão é apenas apresentado no final do livro, e não nos é revelado o que ele deseja ou o que tem feito para alcançar suas metas. Durante a maior parte deste primeiro livro o principal antagonista é o próprio Clã dos Magos, quando está perseguindo Sonea, e os conflitos que surgem são resolvidos rapidamente.
Os quatro principais personagens são os mais bem explorados — suponho que os demais terão mais espaço nos próximos volumes. Gostei especialmente de Sonea, com seu jeito desconfiado e sua maneira de enxergar com clareza as injustiças do mundo em que vive e até mesmo propor soluções. É o tipo de protagonista que consegue passar por adversidades e até mesmo escapar delas, e aproveita as oportunidades quando elas aparecem, sem hesitar. E, apesar do medo, conseguiu enfrentar todos os problemas sem fazer drama.
Há apenas uma leve sugestão de romance, o que achei muito bom, pois torna os personagens mais reais e o próprio romance mais verossímil, escapando daquele “amor incondicional” e do “faço tudo por você”. O que certamente contou pontos, pois este não é o foco da trilogia.
O final, apesar de nos reservar algumas surpresas, é previsível, embora deixe muitas coisas para serem exploradas nos próximos volumes, nos quais espero ler um pouco mais sobre como funciona a magia, abordada de maneira tão diferente nesta trilogia.
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