Kelly Oliveira Barbosa 15/06/2018Introversão não é defeitoNão, não se trata de um livro de autoajuda como a capa e o título sugerem. Se fosse o caso eu ressaltaria aqui sem problemas, mas acredite, essa apresentação é mero recurso de marketing. Esse livro é uma análise cultural das relações humanas, isso é, a tentativa de uma melhor compreensão das diferenças entre as personalidades introvertida e extrovertida, com o enfoque principal sobre a introvertida. É sobretudo, uma afirmação da antiga dicotomia entre “o homem de ação” e “o homem contemplativo”.
Para começar, o que seria uma pessoa introvertida? Segundo Susan Cain, alguém que se reconhece nesses atributos: reflexivo, cerebral, nerd, despretensioso, sensível, pensativo, sério, contemplativo, sutil, introspectivo, interiorizado, gentil, calmo, modesto, solitário, tímido, avesso a riscos, suscetível... E bem, como você já deve imaginar eu sou uma dessas pessoas, sou introvertida. Eis o motivo pelo qual esse livro me chamou tanto atenção quando li um texto como esse de impressão de leitura no blog da Gabriele. E realmente foi uma leitura muito válida. Aprendi muito, e repassei durante a leitura, com certo alívio, vários episódios da minha vida que você só vai entender se for um introvertido também. Como quando criança ainda, eu preferia a ler um livro à correr e brincar no intervalo das aulas. Ou quando nas aulas de educação física eu me deixava ser tocada pela bola nas partidas de queimada para sair logo da quadra; ou até hoje o meu pavor à música alta e a preferência por lugares mais calmos à multidões barulhentas...
Para quem é introvertido esse livro além de ser uma aula cultural, sociológica e até biológica sobre o assunto, pode ser também um alento. Há muitos introvertidos por aí que se têm eles mesmos por pessoas estranhas e porque não esquisitas rss, só por não se parecerem com a maioria que são comunicativas, sociais, afáveis, legais, expansivas, carismáticas, descontraídas... ou melhor, só por não serem extrovertidas. Mas será que os extrovertidos são a maioria mesmo? Importante dizer, que como afirmou Carl Jung “não existe introvertido ou extrovertido puro. Um homem assim estaria em um sanatório para lunáticos”. O ser humano é complexo. Existe muitos tipos e graus diferentes de introversão e extroversão, e esses traços interagem com outros que fazem parte da personalidade humana e as histórias pessoais. No entanto, qualquer um pode perceber como a cultura ocidental hipervaloriza a extroversão. Nas palavras da autora há um verdadeiro culto à essa personalidade. Basta citar o mundo dos negócios e refletir qual tipo de profissional de sucesso vem à mente: tenho certeza que não um quieto. Ou o modelo de educação de nossas escolas e até faculdades em que somos compelidos o tempo todo em trabalhos em grupo ou incentivados/obrigados a falar alto (para toda a sala) por causa dos famosos pontos de participação...
É difícil perceber o quão absurdo são alguns padrões de nossa sociedade nesse sentido uma vez que estamos mergulhados nela. É por isso que achei fascinante quando a autora trouxe em um capítulo específico informações sobre outras culturas (China, Japão...países asiáticos) ao redor do mundo que não tem a extroversão como um ideal social.
O espaço aqui é curto para qualquer tentativa de explanar o conteúdo desse livro, mas espero estar deixando claro o seu valor como uma crítica à sociedade ocidental que parece ter espaço só para UM modelo de personalidade, de forma que muitas pessoas fingem ser o que não são. E aí fica a reflexão sugerida por exemplos que a autora traz - aliás o livro está cheio de relatos da vida real - de pessoas que chegam a ficar doentes por irem esticando quem são como um elástico até que quando aquilo se solta... você sabe, volta com tudo.
Essa foi uma das leituras de que mais marquei, risquei e escrevi no livro de que me lembre. Motivada com certeza, não só pelo conteúdo tão interessante, mas por... Continue lendo no blog: https://cafeebonslivros.blogspot.com/2018/05/eu-li-o-poder-dos-quietos-de-susan-cain.html
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