Mirele 30/09/2021
Uma narrativa de sua época
O Gene Egoísta é um livro histórico na biologia, com toda certeza, e os conceitos que ele trás são até hoje empregados, inclusive foi aqui que a palavra meme foi criada.
Tendo isso em mente, é importante falar que esse livro é totalmente produto de seu tempo. Foi publicado originalmente em 1976, com a segunda edição (que foi a que eu li) em 1989. Nessa época o genoma humano ainda nem tinha sido sequenciado. A gente não sabia muitas das coisas que sabemos hoje sobre genética e biologia molecular, duas áreas que mudam completamente a cada 5 anos, em que artigos de 2 anos atrás já são considerados obsoletos. Por isso, eu acho muito importante ter uma leitura crítica ao pegar o livro.
Algumas coisas que me incomodaram muito na leitura é que Dawkins desconsidera muito o ambiente. No último capítulo ele até abre um pouquinho pra esse ponto, mas ele parece esquecer que a seleção acontece sobre os genes através do fenótipo e que fenótipo é genótipo (genes)+ambiente. Um gene pode originar fenótipos totalmente diferentes em ambientes diferentes. Como isso entraria na teoria dele (isso já era sabido na época)? Ele também se prende muito aos animais em seus exemplos e teorias. O que faz total sentido, ele é zoólogo, mas a transmissão de genes em plantas, fungos, bactérias e, principalmente, em vírus, é diferente. Hoje nós sabemos que um mesmo pedaço do DNA pode fazer parte de mais de um gene, que mais de 80% do nosso nem tem genes, que provavelmente o RNA foi o primeiro replicador, antes do DNA, a gente conhece o splicing alternativo, a epigenética, entre outras coisas.
Então O Gene Egoísta deveria ser jogado no lixo como um livro sem importância? Não, A origem da espécies ainda é importante, mesmo sendo escrito antes da descoberta do DNA e da genética. Mas vão com calma, não tratem o livro como a bíblia da Biologia evolutiva. Em Ciência, as coisas andam muito rápido. Hoje a gente leva o DNA um pouco menos à sério.