Anna Laitano 08/01/2015Nem oito, nem oitentaComo já falei, meu primeiro contato com o autor foi através do famoso 'O Leitor'. Apaixonada pelo tema e a escrita de Schlink, precisava conferir outra obra do autor, então, ao surgir a oportunidade de efetuar uma troca aqui no skoob, não hesitei. O livro de menos de 100 páginas pode ser lido facilmente em uma tarde, até mesmo pelos que não estão acostumados a passar muito tempo lendo. Infelizmente, a história não é tão forte assim.
Narrado em terceira pessoa, observamos os fatos pela perspectiva de Bengt e, assim, podemos acompanhar tudo que ele sente quando as verdades sobre seu casamento desmoronam, suas impressões sobre o Outro e sobre si próprio.
A narrativa é linear, e segue os acontecimentos que se sucedem à morte de Lisa, passando pela descoberta das cartas de Rolf, a troca de correspondências entre o marido e o amante, até eles passarem a conviver.
Bengt é um homem sério, frio, distante. Ao descobrir sobre a suposta traição, ele começa a reavaliar o passado e começa a finalmente notar tudo isso. Notar que talvez sua atitude tenha afastado a esposa.
Rolf é o oposto. O amante é descrito como um verdadeiro 'fanfarrão', que vive de lembrar dos tempos dourados do passado que, na verdade, estão apenas sendo embelezados por ele, com seu talento em encontrar sempre o lado bom das coisas.
De Lisa só sabemos o que cada um dos homens tem a oferecer, a faceta que conheceram. No fim das contas, ela acabava sendo o meio-termo, a conexão entre o homem que vivia sem preocupações e o que não vivia de tantas preocupações.
Durante a leitura, pensei algumas vezes que a história parecia pressão editorial. Vocês sabem, aquele livro que o autor acaba escrevendo porque precisa publicar algo. Uma história curta e despretensiosa, sem o drama contraditório e polêmico que fez do autor tão reconhecido.
A ideia geral do livro acaba sendo de equilíbrio. Você não pode ser tão fechado e reservado, nem sair festejando adoidado. Mas, e aí? É um livro com uma mensagem e que, sim, te faz refletir. Contudo, não cumpre sua função tão bem como um romance. Falta algo interessante, que empolgue o leitor, especialmente no clímax/desfecho. É uma história morna, que pode ser lida rapidamente e será apreciada, mas que não chega a se tornar fantástica, nem de longe.
A edição é bastante simples, e segue o padrão de todas as outras obras do autores publicadas no Brasil pela Record. A fonte utilizada no corpo é grande, assim como espaçamento entre linhas, garantindo conforto na rápida leitura. Além disso, não encontramos erros de digitação nem falhas de tradução em nenhum momento.
Bernhard Schlink mostra que sua escrita é intrigante, e que sabe penetrar a alma humana, mesmo que não se apresente em sua melhor forma, neste caso. Para quem nunca teve contato e já ouviu falar maravilhas do autor, este livro poderá decepcionar. Da mesma forma, quem se encantou com O Leitor também poderá acabar se questionando se o autor é um escritor de apenas um título. Embora eu ainda não tenha lido uma terceira obra dele para tirar a dúvida, acredito que esse não seja o caso. Mas isso, só o tempo dirá. E, para tirar suas conclusões, você terá que se arriscar na leitura.
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