Matheus Lins 23/08/2009
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Bernhard Schlink é, internacionalmente, um dos autores alemães mais bem-sucedidos da atualidade. Seu polêmico O Leitor, cuja premissa funciona como metáfora para o zeitgeist de culpa e vergonha alemão do pós-guerra, foi um best-seller tanto dentro quanto fora do seu país, culminando numa adaptação para os cinemas em 2008, dirigido por Stephen Daldry e com Kate Winslet e Ralph Fiennes nos papéis principais.
No Brasil, o título repetiu o sucesso internacional, com uma reedição lançada concomitantemente ao filme que permaneceu várias semanas na lista de mais vendidos, o que incentivou a Record a publicar outros de seus trabalhos por aqui, caso deste O Outro.
Um sujeito comum descobre que sua falecida esposa, a quem ele confiava totalmente, teve um caso, por anos, com Outro, ao checar uma correspondência do dito cujo, ignorante do falecimento dela. O víuvo, então, aproveitando-se da anonimidade da língua escrita, personifica-a em cartas, a fim de descobrir as circunstâncias e a natureza dessa traição e, no processo, aprendendo a respeito dela, de si e do Outro
A premissa é instigante, mas o seu desenvolvimento não faz jus à expectativa criada – a narrativa de Schlink é tão concisa que todo o potencial dramático da história é sufocado. Os eventos são narrados friamente, com escassos lampejos poéticos; os personagens são meros esboços de pessoas, vazios, desprovidos de empatia e com caracterizações pífias.
A proposta do livro havia de oferecer farto material para reflexões, se abordada com mais sensibilidade. Bengt (chamado Peter no longa-metragem) encontrara conforto na rotina, e, sem perceber, afastara-se emocionalmente da sua esposa, o que se manifesta na sua total ignorância quanto aos anseios de sua falecida amada, embora, fisicamente, nunca tenham se separados. Infelizmente, esses são temas trabalhados superficialmente, jamais alcançando um efeito dramático poderoso no leitor.