GilbertoOrtegaJr 08/09/2015Serena – Ian McEwanEu não acho que a metáfora mais apropriada para quem escreve ou leia livros seja o fato de sermos espiões, justamente por um espião ser recrutado para obter informações e se necessário envolver-se em algum caso para ter papel determinante no seu fim. Ao contrário disso o leitor é um observador passivo e sem influência na trama, cabendo a ele gostar ou não e buscar compreender um livro e a partir daí julgar aquilo que leu.
Estas comparações de que ler ficção é ser um tipo próximo ao espião surge da necessidade, por parte da editora, de criar uma ligação entre o leitor e o livro que se tem em mãos que trata justamente de espionagem e criação literária. Serena conta a história de Serena Frome, uma jovem de Cambridge, que acabou se formar em matemática, ela é uma leitora compulsiva, que acaba sendo recrutada para trabalhar no MI5 – o serviço secreto britânico- tendo como pano de fundo o começo dos anos de 1970, onde a Inglaterra se encontra em crise política e econômica e combatendo o terrorismo irlandês.
Serena que se vê envolvida no serviço secreto graças a seu amante, alguns anos mais velho que ela, acaba por ter misturada juntamente com seu trabalho alguns casos de amor, como é o caso da história mal resolvida entre ela e Max Greatorex, que a vigia de forma insistente, mesmo já tendo sido rechaçado por ela. Porém de todas a relações de amor que a personagem tem o mais emblemático será a sua ligação com Tom Haley. Eles se conhecem quando Serena, que é conhecida por ser uma leitora ávida, será recrutada para a operação tentação que se baseia no MI5 financiar de forma secreta jovens autores, para que estes autores influencie a cultura com seus livros. Só que ela acaba se envolvendo com Tom Haley de forma que ficam perdidamente apaixonados um pelo outro.
É neste jogo de vigiar quem que o autor brinca de forma magistral, Tom é vigiado por Serena, que por sua vez é vigiada por Max, que por sua vez é vigiado pelo MI5, que por sua vez é vigiado pelo leitor. Ao mesmo tempo em que a personagem deveria ser uma observadora que passa despercebida dentro da trama ela também é o núcleo que faz com que toda esta história deva ser observada de forma atenta. Enquanto Serena tenta influenciar a criação de Tom, ela é influenciada pela mão invisível do autor, e por ai vai a trama, mostrando que ninguém passa despercebido, e que muitas vezes o observador também é observado, criando um ciclo imenso.
Mas o que para mim determina que este livro é realmente bom, não é somente a capacidade do autor de criar este jogo narrativo impressionante, é justamente o contrário, o fato de que tudo isso está ao alcance que qualquer leitor de forma muito divertida e atrativa, tanto é que eu li uma média de 150 páginas na primeira sentada que dei com o livro em mãos. Ou seja o leitor tanto pode ter em mãos uma obra de arte, quanto um entretenimento de alto nível, sem que uma opção anule a outra, é este o grande triunfo de Ian McEwan ao longo das 382 páginas que compõe Serena.
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