Renata CCS 29/03/2014“Gostar de um livro depende também da possibilidade de encontrar-se nele.” (Serena)
"Não há nada em que paire tanta sedução e maldição como num segredo." (Soren Kierkegaard)
Já faz um tempinho que eu estava curiosa para ler alguma coisa de Ian McEwan. Confesso que SERENA me conquistou logo na sinopse, principalmente por causa das palavrinhas mágicas “serviço secreto”. Sempre gostei de filmes de conspiração, tramas complicadas e agentes duplos, logo, uma premissa como essa não me passou despercebida. E o cenário em que a narrativa se passa - a década de 70 na Inglaterra, ou seja, em plena Guerra Fria - é propício para uma boa história.
Nesta história acompanhamos Serena Frome (pronuncia-se Frum, ela faz questão de esclarecer) nos contando suas memórias, suas experiências literárias e amorosas, e em como estas últimas estão intimamente ligadas. Serena é uma jovem inglesa apaixonada por literatura. Durante sua juventude colecionou algumas aventuras amorosas e, entre elas, estava Tony Canning. Com muita inteligência, cultura e um encantador chalé utilizado de refúgio amoroso nos finais de semana, ele conseguiu conquistá-la a ponto de mudar sua vida para sempre. Sem que ela desconfiasse, Tony a preparava para entrar no MI5, o Serviço Secreto Britânico. E depois de sofrer uma grande decepção amorosa com Tony, Serena vê seu ingresso no Serviço como uma espécie de recomeço. Mas, se no início pensava que seu trabalho seria estimulante, a decepção veio quando tornou-se uma espécie de secretária arquivista.
A reviravolta em sua vida começa apenas quando ela é selecionada para fazer parte do projeto Tentação que, apesar do nome sugestivo, a coisa é aparentemente simples: ela deve convencer Tom Haley, um jovem e promissor escritor a aceitar a ajuda financeira de uma instituição para poder dedicar-se inteiramente aos livros. Isso porque o Serviço acha que seria muito conveniente ter uma forma velada de propaganda, como outros estados produzem, e sem que o autor perceba que é isso que ele está fazendo. Tom Haley não pode saber que o dinheiro que recebe vem do MI5 e nem pode desconfiar que ele foi escolhido a dedo para o papel. Só que no meio do caminho - entre a leitura dos contos e o primeiro contato com Tom - Serena já estava apaixonada (mesmo que ainda não pudesse ter certeza). E mais uma vez o amor é responsável por todas as reviravoltas de sua vida.
Este pequeno resumo que fiz não é nada digno no livro de Ian McEwan, mas sinto como se qualquer coisa que eu diga possa estragar as surpresas da história. O que posso dizer é que SERENA é uma novela de leitura fácil na aparência, mas que, na realidade, é muito mais do que isto. McEwan chama o leitor para jogar, em uma espécie de brincadeira que parece só ter as regras esclarecidas na conclusão.
Serena é uma protagonista com quem simpatizei facilmente, não só por sua paixão pelos livros, mas porque ela fica próxima do leitor comum, pois tem os mesmos anseios e medos. Um deles é o amor. Ela é humana e por isso nos conquista tão facilmente!
Um fator bastante explorado – e que mais me conquistou - é a importância da literatura. Diria até que é o elemento chave, aquela peça fundamental que dá importância a toda a história. Ela está presente em tudo: no amor que a protagonista sente pelas palavras, nas missões secretas e, de forma ainda mais evidente, na própria escrita do autor. Além disso, a política também é um elemento bastante presente em toda a escrita. Dá para perceber a preocupação que o autor teve em situar os leitores no momento histórico e apresentar o panorama geral, sempre de forma diluída, inserida no contexto.
Criar uma ficção envolve uma espionagem real, pois é preciso pesquisar sobre a veracidade daquilo que se está narrando. Em SERENA, o autor mostra não ter o menor pudor em usar seu talento para manipular o leitor.
Vocês deviam ler Ian McEwan! Desvendar os mistérios dessa história, meus queridos, depende de vocês!
PS: obrigada querida Nanci pelo lindo presente!
Resenha publicada originalmente em 14/03/2014.