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Fun Home Alison Bechdel




Resenhas - Fun Home


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Adonai 04/04/2020

Sua família é potência ou é destrutiva?
Como é para um LGBTQIA+ conviver em família? Sendo um, sei o quanto é doloroso, o quanto quebramos expectativas e o quanto precisamos ter paciência para aguentar algumas coisas.

Essa autobiografia em quadrinhos da Alison Bechdel é um ótimo caso específico que se desdobra em tantas características sociais, coletivas e que afetam tantas pessoas e não só ela.

Sentir-se distante dos próprios familiares, correr em busca de algum pertencimento e ainda compreender que cada sujeito possui sua complexidade, tentando retirar essa ideia de que somos bons, ou somos ruins.

Um livro sensacional. Precisamos discutir sexualidade, gênero, identidades. A tonalidade da narrativa aponta tantas coisas, mas causa em mim uma sensação de emaranhados, bagunçando sentimentos, esperanças, os fatos e principalmente, o quanto somos afetados por pessoas próximas e também o quanto as afetamos.
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Edmar Lima (@literalgia) 26/03/2021

Fun Home
Nessa graphic novel, Alison Bechdel nos conta sobre sua infância, sua adolescência e também sobre a delicada relação que tinha com seu pai. Ele era uma figura misteriosa, isolada e um pouco impulsiva, mas despertava a curiosidade dos filhos. Dono de uma vasta biblioteca e de verdadeiras relíquias, o senhor Bechdel dedicava os seus dias consertando, pintando, reparando e organizando a sua casa. Uma casa que parecia demandar mais cuidado que seus próprios filhos. Como competir pela atenção do pai?
Bechdel aprofunda cada vez mais nessa personagem enquanto traça também as suas descobertas. A autora aborda a sexualidade, as primeiras experiências, as conflituosas relações familiares, o amor próprio de uma maneira muito sensível, intimista e bem humorada. Bechdel abre as portas de sua Fun Home e nos mostra o que estava no cerne de sua família. Um pai misterioso e distante, uma mãe em busca de seus sonhos e filhos que se sentiam sozinhos numa casa imensa e recheada de antiguidades.
Essa foi uma das melhores graphic novels que já li. Eu particularmente sou muito leitor de narrativas que trazem a figura paterna como um dos elementos e com Fun Home não foi diferente. A autora nos intriga e nos revela, sem pudor, quem era seu pai e os seus segredos mais íntimos, porém ela não discorre somente sobre o pai. De uma forma genial, Bechdel entrelaça a sua própria história com a do pai e nos mostra como eles estavam conectados, mesmo que não percebessem na época. Além disso, Fun Home traz uma chuva de referências que eu fiquei anotando enquanto lia: Proust, Camus, Fitzgerald, entre outros. Os desenhos são bonitos, os trechos citados de outras obras casam perfeitamente com o tom do livro e a história em si é muito emocionante. Uma leitura que mexeu comigo e que pretendo voltar um dia. Quero dar esse livro de presente para amigos, familiares e fazer propaganda em todas as rodas de conversa que eu estiver!
Daniel 17/05/2022minha estante
Eu achei incrível! Não tenho costume de ler HQ, mas esta superou muito as minhas expectativas




Ygor Gouvêa 23/07/2021

Que obra! Gosto de tudo que Bechdel fez aqui! Um grande exercício de memória. Como a Alisson disse em algum momento, ela teve que passar por revisionamentos de sua vida. Se vê que a obra é uma grande investigação sobre o pai; em alguns momentos ela vai atrás de dados, informações mais seguras que possam lhe dar mais segurança no que faz, mas em suma é um grande exercício de memória e todos seus esforços falam mais sobre ela, sobre seus conflitos e necessidades. É uma das coisas que a torna tão grande. Sabemos o quão delicado isso pode ser, a memória é fragmentada, incerta, fugidia. O próprio instante vivido já é impregnado de distorções perspectivas, de necessidades momentâneas. Por isso, colocar tudo em perspectiva, pouco ou muito tempo depois, é impregnar tudo de interpretações a posteriori que inevitavelmente também leva a diversas distorções e o próprio ato é revelador de nossas necessidades, mas temos necessidades de narrativas, de alguma forma organizar esse caos para nós mesmos e isso ela faz com maestria. Se percebe muita honestidade, muita sensibilidade da parte dela ao trabalhar tudo, ao se expor. Todo o quadrinho é permeado pelo símbolo da busca, de si, do pai, de se entender e aceitar, de entender e aceitar seu pai, de se aproximar de seu pai. Seu fim é bem emblemático por isso, não só por citar Ulysses e tudo que ele pode representar, mas por suas escolhas. Ela, além de dizer que classificar o pai é uniformizá-lo de acordo com suas necessidades, nos mostra que suas próprias escolhas dos quadros, de falar das mulheres lésbicas que editaram Joyce, tem múltiplo sentido, não só questiona a questão da paternidade, mas evidencia que todo seu trabalho foi permeado por escolhas, afinidades. Isso é evidente em toda a obra. Ela traça muitos paralelos com obras literárias, muito bem feito por sinal, que acrescentam muitas camadas à obra. Vide o capítulo 2, A Morte Feliz: Ela além de citar essa primeira obra do Camus, fala muito do Mito de Sísifo, mas o que ressoa durante todo o capítulo, sobre como ela lida com o luto é O Estrangeiro, essa ela não precisa colocar em palavras, está ali gritando sutilmente pra ser visto. As escolhas dos quadros são sempre pra servir a sua narrativa, isso se evidencia mais em alguns fechamentos de capítulos, que costumam ter um tom mais poético, e em algumas feições, mas também se percebe que eles não são ilustrativos, que tem seu papel de memória, soando mais como a lembrança de um momento por uma imagem, por uma cena estática, tornando a obra uma sobreposição de instantes. Ao ler, se percebe todo o domínio que ela tem, o quão ciente ela está das limitações de uma tal empreitada e é magnífico como ela busca contornar tudo isso.

Estou falando de toda sua construção narrativa e do quão incrível é, de tudo que ela nos passa através dela, mas é claro que está longe de ser o único ponto alto da obra, pelo contrário, esse é um suporte pra toda a diversidade de questões que ela aborda em suas mais variadas especificidades. Toda a questão social e principalmente familiar que ela levanta sobre uma família com um ou mais membros LGBTQ+ é muito rica, fundamental. A questão do pai não se aceitar, de todos seus conflitos e do que isso causou a si mesmo e a toda sua família; toda a tensão que foi pra ela crescer nesse meio, nessa família destroçada (pra ficar com uma das múltiplas traduções de ‘perdu’ que ela nos alerta) e do que isso lhe causou; do se silenciar, se fechar, se distanciar, não se permitir. E claro, todo o processo que lhe foi necessário e que gerou esse quadrinho: suas buscas. Através de todo esse processo, possivelmente curativo, ela suscita as complexidades e contradições de si, sua família e seu pai, se aproximando finalmente dele.
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Cinara... 22/06/2021

"Joan era poeta e "matriarquista" passei pouco tempo do semestre seguinte fora da cama dela. Que era coberta de livros uma fusão inédita para mim entre palavra e ato. Perdi o rumo. O dicionário havia se tornado erótico. Algumas de nossas histórias de infância favoritas viraram propaganda... E outras pornografia. Sob a luz implacável do irromper do meu feminismo, tudo parecia diferente essa mistura de despertar político e sexual foi a mudança bem-vinda."

Grafic Novel autobiográfica da autora. Repleto de referências literárias como Oscar Wilde e James Joyce, livros caindo por toda parte do início ao fim, relações familiares e descobertas sexuais um túnel que nos puxa pro anos 60,70.
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Maria4556 15/12/2021

.
Puts, as referências artísticas são incríveis, mas em alguns momentos fiquei um pouco confusa por não reconhecer todas. Fora isso, a linguagem subjetiva é de uma destreza de outro nível.
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May 15/11/2022

Uma verdadeira tragicomédia
A cartunista Alison Bechdel, revelar em sua autobiografia nem uma forma divertida e trágica como foi a sua relação com seus pais e irmãos e a quando ela se revelou para família que e lésbica e como a morte do seu pai Brunce Bechdel um homossexual enrustido que cometeu suicídio, impactou a sua vida.
Uma história real que falar sobre morte, amor e aceitação e também a sua complicado com vivência com seu pai.
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Livros e Pão 11/05/2021

As complicadas relações familiares
Essa HQ me pegou de surpresa. Ela é repleta de referências literárias e é extremamente sensível, com uma história realmente tocante. Uma ótima leitura durante a pandemia. Essa HQ é lindimais! No meu vídeo-resenha, elaborei mais sobre as minhas opiniões e percepções do livro. Se tiver interesse, dá uma conferida no link abaixo :)

site: https://youtu.be/Ooo72gvKCR4
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Iarley Estrela 07/05/2020

Livros citados em Fun Home
Foi impossível não criar uma lista com todos os livros mencionados ao longo da leitura dessa Graphic Novel. Apesar dos conflitos silenciosos e traumáticos que a personagem enfrenta na relação com sua família, imagino o quanto foi incrível crescer no meio de várias referência literárias. Essas, que em muitas ocasiões acabam levando respostas aos questionamentos e reflexões da mesma.

Livros citados em Fun Home:

03. Anna Karenina - Liev Tolstói
15. O Nu - Kenneth Clark
19. As pedras de Veneza - John Ruskin
21. Histórias Assim - Rudyard Kipling
27. A morte feliz - Albert Camus
32. O Tambor - Günter Grass
47. O Mito de Sísifo - Albert Camus
61. O Sol Também se Levanta - Ernest Hemingway
61. O Grande Gatsby - F. Scott Fitzgerald
63. Este Lado do Paraíso - F. Scott Fitzgerald
69. A Megera Domada - William Shakespeare
75. O Poço da Solidão - Radclyffe Hall
75. Frederica - Georgette Heyer
75. Lady Of Quality - Georgette Heyer
75. Adeus, Mr. Chips - James Hilton
75. Homossexualidade - Masters & Johnson
76. Delta de Vênus - Anaïs Nin
76. Maurice - Edward Morgan Forster
79. Safo (Poetisa lésbica e queer)
80. Gyn/Ecology - Mary Daly
80. O Sonho de Uma Língua Comum - Adrienne Rich
80. Beginning With O - Olga Broumas
80. O Mundo de Pooh
81. James e o Pêssego Gigante - Roald Dahl
82. Wallace Stevens (Poeta modernista)
84. Zelda: A Biography - Nancy Milford
92. No caminho de Swann - Marcel Proust
108. Sodoma e Gomorra - Marcel Proust
109. À Sombra das Raparigas em Flor - Marcel Proust
116. The Worm Ouroboros - Eric Rücker Eddison
119. O caminho de Guermantes - Marcel Proust
130. O Vento nos Salgueiros - Kenneth Grahame
140. O Cisne Encantado - Baptista Cepello
142. Johnny Tremain - Esther Forbes
154. A Importância de Ser Prudente - Oscar Wilde
160. O Médico e o Monstro - Robert Louis Stevenson
170. O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
172. Mulherzinhas - May Alcott
185. The Waterfall - Margaret Drabble
198. A Sociedade do Anel - J. R. R. Tolkien
198. O Apanhador no Campo de Centeio - J. D. Salinger
199. Orgulho e Preconceito - Jane Austen
201. O Sol Também se Levanta - Ernest Hemingway (Citado na pg 61)
201. Ulisses - James Joyce
201. Retrato do Artista quando Jovem - James Joyce
201. Dublinenses - James Joyce
203. Odisseia - Poema por Homero
204. Os Mortos - James Joyce
204. Helena de Troia
205. A Autobiografia de Colette
205. Paradis Terrestre - Colette
205. Orlando - Virginia Woolf
205. Rubyfruit Jungle - Rita Mae Brown
205. O Poço da Solidão _ Radclyffe Hall (Citado na pg 75)
205. Deserto do Coração - Jane Rule
205. Os Diários Cecil Beaton (Britânico fotojornalista e fotógrafo de moda)
205. The Homosexual Matrix - C. A. Tripp
207. Nação Lésbica - Jill Johnston
207. Maurice - Edward Morgan Forster (Citado na pg 76)
207. Mrs. Stevens Hears the Mermaids Singing - May Sarton
209. As Cartas de Virginia Woolf
217. Flying - Kate Millett
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@eu_rafaprado 22/09/2022

Necessário!
Fun Home - Uma Tragicomédia em família. (Alison Bechdel).

Primeiro preciso ressaltar o quanto de dicas literárias é possível encontrar nesta obra! Eu fiquei doído pra ler vários dos livros citados neste HQ.

O HQ ?Fun Home? conta em quadrinhos a história de Alison e seu relacionamento conturbado com o pai.


Pouco depois de revelar à família que é lésbica, Alison Bechdel recebe a notícia de que seu pai morreu em circunstâncias que poderiam indicar um suicídio.

Ao revisitar anotações em livros colecionados por seu pai, Alison percebe uma conexão maior entre os dois, o pai viveu a vida toda tentando esconder sua homossexualidade, se relacionando escondido com outros homens.

Trata-se de um livro de memórias, como destacaria a revista @time ?Uma obra-prima sobre duas pessoas que moram na mesma casa, mas em mundos diferentes, e sobre as misteriosas dívidas entre elas?.

- Fun Home é uma obra-prima sobre sexualidade, relações familiares e literatura. Um labirinto da memória trazido à tona com graça, humor e a força das maiores realizações artísticas ( @todavialivros )

Em 2006 foi eleito o livro do ano pela revista Time e, em 2015, foi levado à Broadway num musical vencedor de cinco prêmios Tony.

Eu adorei conhecer um pouco sobre a história de Alison e me senti presente em vários momentos, consegui refletir o quanto a luta da comunidade LGBTQIAP+ sempre foi muito difícil e necessária ! Quantas pessoas já decidiram desistir de viver por não suportar mais não poder ser quem são ! É preciso repensar toda forma de exclusão e preconceito, nada é mais importante que a vida e a liberdade de ser quem se é!
Caso você em algum momento precise de ajuda, busque o @cvvoficial , alguém estará disponível 24 horas por dia pra te ouvir !
E se eu puder ajudar de alguma forma, estou sempre por aqui para conversar !
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@emedepaula 17/05/2023

Incrivelmente melancólico
Excelente primeira incursão em quadrinhos mais literários por assim dizer. Incrivelmente melancólico. Acho que o distanciamento temporal entre quando os eventos ocorrem e quando a obra é criada, adiciona profundidade e maturidade as observações críticas de Bechdel, que apesar de florear o fato de que o pai se relacionava com menores de idade, evitando a todo custo a palavra pedofilia, ainda consegue fazer nos simpatizar com ela que teve seu momento de saída do armário eclipsado pela morte de alguém tão importante na trajetória dela. E acredito que ela buscou humanizá-lo de certa maneira. Enfim, uma trama super complexa, mas feita numa linguagem acessível, e mesmo as referências literárias que é improvável que o leitor terá tido contato com todas, ficam sendo alusões contextuais onde dá pra pegar a ideia geral no uso de tais referências. Os desenhos são ótimos também. Foi uma leitura e tanto.
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Lauraa Machado 30/03/2022

Melhor do que eu esperava!
Acho que não precisa muito de uma resenha ou recomendação minha para alguém ler um livro em quadrinhos como esse, mas preciso dizer que me surpreendi com a história. Primeiro, por ser tão naturalmente pessoal, confusa e imperfeita, como uma história autobiográfica deve ser. Mas principalmente pelo jeito que ela consegue se amarrar e, ao mesmo tempo que não tem respostas exatas, é bastante corajosa e não se limita ou se segura em parte alguma.

A narradora, que é a própria autora, é bastante incerta e não muito confiável, e isso só contribuiu para eu me conectar com ela. Como é uma história feita em muitas partes de lembranças infantis, o que nunca é confiável, encaixou perfeitamente suas confusões e cenas muitas vezes abstratas. A relação dela com o pai, tão diferente da minha com o meu, é tão real e complexa, que me deixou mais curiosa ainda depois do livro.

Outra coisa que me surpreendeu foi o desenho da autora, bonito e interessante como cenas de um filme. Quis ler em seguida seu outro livro, sobre sua mãe!
Recomendo para quem procura uma história autobiográfica, complexa, corajosa e imperfeita.
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Alessandro 13/10/2010

Sobre amar e odiar um pai
Um trabalho árduo que levou em torno de sete anos, envolvendo histórias nada agradáveis sobre seu pai e contextualizando uma família abalada por diversos episódios envolvendo sexo, morte e perda. Em uma definição bastante reducionista, isto é Fun Home, graphic novel da americana Alison Bechdel. Ainda que continuamente (e inevitavelmente?) o trabalho seja resumido às suas questões da homossexualidade, seria bastante injusto encerrar a importância desta obra tão somente nisto. É bom que se esclareça, portanto, sua trama.

Em Fun Home, a quadrinista Alison Bechdel mergulha em pesadas memórias de infância para contar a história de sua família. Neste emaranhado, considere os seguintes elementos: a fase infantil envolvendo brincadeiras com os irmãos em uma casa funerária pertencente à família, às voltas com um pai adorador em excesso de decoração, jardinagem e literatura clássica - acrescente aí uma obsessão por Scott Fitzgerald - e uma mãe resignada, que prefere se enfurnar em sua tese de mestrado e seus exercícios de dramaturgia amadora. Elementos suficientes para a criação de um belo drama familiar ou um dramalhão lacrimoso. Felizes somos que a autora tenha conseguido, magistralmente, compor uma obra que, sem dúvida, se enquadra na primeira definição. Porque, além dos elementos já citados, vamos incluir os que têm contribuído para definir muitas vezes o livro de Bechdel como uma obra que leva "homossexualidade e morte às HQs": na adolescência, Alison descobre-se lésbica, o que faz com que sua mãe conte que seu pai, Bruce, é gay - pai este que morrerá de forma violenta três meses depois deste manancial de revelações. O resultado disto transformado em quadrinhos é tão bem construído que a autora ganhou em 2007 com ele o Prêmio Eisner.



Muitos são os fatores que contribuem para fazer de Fun Home uma obra tão delicada e sofisticada em sua elaboração, sem entender por sofisticação recursos gratuitos e pretensamente intelectuais que a obra teria todos os motivos para conter. Sim, porque há ali a inserção de muita referência literária, citações por vezes claras e creditadas e por vezes sutis, a obras de Proust, Joyce, Camus, entre outros. Nunca gratuitas, deixemos isto bem claro. Já seria rebuscado o bastante se a autora o fizesse como elemento de estruturação de sua trama, mas as mesmas ainda se justificam pelo fato de terem feito parte da formação intelectual da família, presentes nas estantes vitorianas da clássica biblioteca de seu pai. Um pai que reunia uma séria de ocupações que, desde já, asseguram sua presença no panteão de ótimos personagens para se construir. Senão vejamos: professor de inglês e literatura, também trabalhava como embalsamador da funerária da pequena cidade onde viviam, uma empresa que era uma herança familiar. Desta segunda ocupação surge o título da HQ, Fun Home (casa da diversão), contração de Funeral Home (casa funerária). Não bastasse isto, sua grande paixão também era restaurar casas e mesetas de arquitetura clássica - o que fazia, em sua comunidade - e cuidar de jardins, com um conhecimento apurado sobre plantas e flores. "Uma bicha", como define a própria Bechdel em um dos quadrinhos.

Alison Bechdel escreve e desenha a tira Dykes to Watch Out For (algo como “Sapatas para ficar de olho”), desde 1983, em publicações gays. É fato que, com Fun Home, seu espectro de admiradores se ampliou intensamente, uma vez que o mesmo - e isto é bom que seja repetido - não se concentra em uma abordagem sexual, investigando causas e motivações para a homossexualidade de pai e filha. A obra trata de contar a história de uma família. E para isto a autora mergulhou fundo na investigação de cartas, documentos, registros policiais entre outros. Incluindo aí as histórias contadas por sua própria mãe, apoiadora em uma primeiro momento da decisão da filha em contar a história da família, mas que se confessou traída com certos segredos ali revelados.



Escolhida pela Time Magazine como melhor livro de 2006, nunca concentra um olhar simplista pela história que aborda. Assim também é vista a morte violenta de seu pai, atropelado em uma rodovia enquanto trabalhava em um jardim - por vezes a autora é fatídica ao enunciar tratar-se de suicídio; outras, deixa somente a nebulosidade por um talvez terrível acidente: todas suposições largadas a partir dos diversos aspectos da vida do pai que a autora apresenta. A narrativa se dá como as lembranças surgem em nossa memórias, de forma não linear, adiantando-se e recuando nas histórias de sua família. São cruzamentos que a autora faz entre as diversas fases da sua vida, indo e vindo em constantes elucubrações e conclusões, apoiando-se em cartas, fotografias e toda sorte de elementos que, como uma detetive, utilizou para registrar a história. Esta forma não-linear de cruzamento de histórias mostra-se extremamente eficaz para aliar a elas obras literárias cujos aspectos estéticos compartilham com sua própria história ou foram peças de formação que construíram seu caráter e de seu pai.

Narrativamente, Fun Home, se utiliza do voice off: frases no alto dos quadros que explicam o que está sendo mostrado na cena. Diferente do comumente aplicado em hqs, aqui a utilização dos balões é reduzida enquanto prática de elaboração de diálogos completos, servindo mais como pontuação de frases. O que Alison consegue, entretanto, usando este recurso considerado no cinema como forma pobre de narração, é evitar a redundância que comumente este show and tell me poderia (e quase sempre o faz) possibilitar. A narrativa escrita se complementa à narrativa desenhada, não a explica. Assim, a autora pode - e faz muito - uso da ironia entre o que está sendo dito e o que está sendo mostrado, criando um jogo de contraposições rico (e por vezes cruel) o bastante para enunciar lembranças dolorosas e mórbidas, motrando cenas líricas e cândidas - e vice-versa. O cuidado com a linguagem - escrita e desenhada - é tão preciso que, mesmo na sua sagacidade, a autora nunca resvala para o cinismo que uma história tão repleta de mágoa poderia suscitar.

Graficamente, a autora tem um estilo de traço que remete a Robert Crumb - refinado e realista, preciso na medida para construir personagens com quem nos importamos e que são tão claros em seus sentimentos, mesmo em se tratando de um cartum. Em preto e branco, somente fazendo concessões ao azul para quebrar a monotonia. Em Fun Home, Alison Bechdel se empenha genialmente em juntar pedaços a fim de construir também sua própria personalidade. Analisando com amor e ódio uma figura tão contraditória quanto seu próprio pai, a autora também constrói e descobre sobre sua própria formação, o quanto uma família disfuncional contribui para fazer dela quem ela é.
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Gabriela3420 26/03/2020

Fun Home
Fun Home: Uma tragicomédia em família é uma graphic novel autobiográfica de Alison Bechdel. Foi eleito o livro do ano pela revista Time em 2006 e, em 2015, foi levado a Broadway num musical vencedor de cinco prêmios Tony.
Em uma narrativa não linear e repleta de referências literárias Alison descreve a sua relação com a família, especialmente com seu pai, desde a infância até seus anos na unversidade.
De uma forma ao mesmo tempo crua e delicada a autora nos conta como sua família era disfuncional e excêntrica. Seu pai, um leitor assíduo de autores clássicos como Proust, Homero, James Joyce, Oscar Wilde, Hemingway, Fitzgerald, entre outros, ganhava a vida como professor de inglês era um homem frio e distante na relação familiar e assim como Alison era homossexual.
Logo após assumir sua homossexualidade para a família, Alison recebe a notícia que seu pai morreu supostamente em um acidente de carro, porém ela desconfia que ele tenha cometido suicídio. A partir daí Alison revisita as suas memórias para remontar toda a sua relação com o pai, que era ligada profundamente pelo interesse de ambos em arte e literatura. Ao mesmo tempo ela recorda sua própria infância, em meios aos cadáveres e caixões da funerária da família até o momento em que se assume lésbica mas vê este anúncio sendo ofuscado pela descoberta de que seu pai também era gay, mas que nunca se assumiu e viveu com sua mãe uma casamento de 20 anos em nome das aparências.
Alison tem um traço brilhante e soube captar com maestria todo o contexto e emoções dos personagens nos quadrinhos, o que enriqueceu muito a narrativa. Gostei bastante da leitura que alterna entre momentos cômicos da vida familiar e também muito tensos, porém sinto que não absorvi tudo da historia porque ainda não li nenhuma das referências dos livros clássicos citados. Além disso, algumas vezes fiquei perdida entre momentos que a autora transita em fatos do presente e do passado.
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Luisa Jordana 23/01/2021

Fun Home
É um quadrinho de não muitas páginas, que conta a história de uma família como muitas outras, com seus dramas próprios, suas dificuldades, seus anseios, problemas e segredos. Alison Bechdel tem um talento como poucos para expor seus sentimentos e experiências de forma tão profunda, em tão poucas palavras.
Alison é lésbica e quando decidiu contar isso à sua família por telefone, quando já estava na faculdade, sua mãe revelou que o pai de Alison é um homossexual enrustido, que teve diversos casos amorosos com homens durante sua vida, às vezes casos com adolescentes, que resultaram inclusive em problemas com a justiça. Lembrando que esse é um quadrinho que se passa nas décadas de 70 e 80, de forma que o cenário era outro quanto aos direitos LGBTQIA+ (que direitos?). A obscuridade era regra e os que não tinham medo de revelar seu verdadeiro eu, eram considerados transgressores e imorais.
O resultado dessa realidade era um pai de família reprimido ao extremo, descontando suas frustrações em hábitos compulsivos, incapaz de expor seus sentimentos mais íntimos à própria família, nem mesmo sentimentos de carinho, afeto ou amor.
Alison nunca foi boa em reprimir a si mesma e eu me apeguei à essa mulher de personalidade forte e inteligência absurda logo nas primeiras páginas. Eu lia cada página com respeito por sua jornada de vida, que não teve nada de extraordinário, mas que mesmo sendo uma vida como muitas outras, ainda nos dias de hoje desperta preconceitos e ignorância. Alison vai muito além da sexualidade, abordando as personalidades de cada membro de sua família de forma íntima, sempre traçando paralelos entre o seu dia-a-dia e literatura que tanto ama. Aliás, este sendo o único ponto de ligação entre a autora e seu pai, o amor pelos livros.
Não sei mais o que dizer, apenas que leiam e vivam essa experiência incrível. Mesmo que você consiga apenas raspar a superfície de significados, em qualquer nível que você chegue, poderá ser maravilhoso.
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Elane.Medeiross 27/07/2021

Me interessei por Fun home pela sua temática LGBTQIA+ e os Tonys que ganhou.
A Obra é um trabalho autobiográfico da autora que foca muito na relação com o pai, suas lembranças de infância e adolescência e seu descobrimento sexual.
Adorei as referências a autores clássicos como Proust e Oscar Wilde. os Personagens são muito interessantes e observar como leitor a dinâmica um pouco incomum da familia da Alison foi fascinante. Grafic Novel recomendadíssima.
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