Pergunte ao pó

Pergunte ao pó John Fante




Resenhas - Pergunte ao Pó


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Maria - Blog Pétalas de Liberdade 29/01/2016

Um jovem escritor
Eu quis ler esse livro por já ter visto o nome de John Fante (1909 - 1983) ser citado como referência por outros autores que li, e que me deixaram curiosa para conhecer a obra dele. A nova edição lançada ano passado pela José Olympio também contribuiu para meu interesse em "Pergunte ao pó", já que tem uma capa linda e colorida.

A história se passa nos Estados Unidos, na década de 1930, e é narrada por Arturo Bandini, um jovem na casa dos 20 anos que foi para a cidade com o sonho de ser um escritor. Arturo publicou um conto em uma revista (esse era o seu maior orgulho), e desde então seu objetivo era conseguir escrever um novo livro, que pudesse torná-lo famoso e proporcionar-lhe uma melhor condição financeira, para que pudesse pagar o aluguel de seu quarto no hotel e comprar alguma coisa para comer.

"Vamos lá, Bandini, encontre o desejo do seu coração, consuma a sua paixão do modo como ensinam os livros." (página 115)

Se eu tivesse que descrever o protagonista do livro em uma palavra, escolheria imaturo. Ele é tão imaturo que chegou a me irritar diversas vezes. E eu digo que, definitivamente, se fosse me dada a oportunidade de conviver com ele e de ser sua amiga, eu diria: "Não, obrigada!". O que Arturo faz quando ganha algum dinheiro? Compra um monte de roupas novas, que depois ele nem usa pois as roupas novas lhe incomodam e ele prefere as velhas e gastas, porém confortáveis. Em um instante, ele se acha o máximo, um gênio, a última bolacha do pacote, e quer que todos o reverenciem, já que escreveu um conto que foi publicado numa revista, no instante seguinte ele já se sente um miserável. Creio que a maioria das pessoas passe por fases assim, de oscilação de humor e de percepção sobre si mesmo, mas o Arturo Bandini exagera!

A história foi escrita em 1939, então é esperado que a sociedade daquela época seja diferente da dos dias atuais, mas isso não fez com que me sentisse menos incomodada com a forma como Arturo tratava as mulheres e com seus preconceitos, se achando melhor do que os outros quando ele mesmo podia ser vítima de preconceito. Por causa de sua imaturidade, seu relacionamento com Camilla, uma garçonete que conheceu em um bar e por quem Arturo se apaixonou, seria cheio de desavenças e idas e vindas. Mas também foi por causa desse relacionamento estilo amor bandido, que pude perceber que Arturo evoluiu ao menos um pouquinho, quando parou de olhar só para si e precisou cuidar de alguém. No final do livro, meu nível de simpatia por Bandini aumentou consideravelmente.

"- Arturo - falou. - Por que brigamos o tempo todo?" (página 142)

"- Vai se encontrar comigo! Sua insolente empregadinha de cervejaria! Vai se encontrar comigo!" (página 133) Arturo Bandini ensinando como não conseguir um encontro com a pessoa por quem se está apaixonado.

A escrita do autor é realmente boa, a leitura dos capítulos fluía com facilidade, os personagens foram bem construídos e eu conseguia me sentir dentro da história. E, confesso, não era possível odiar Bandini completamente, afinal, seu amor pelas palavras e suas tentativas de fazer jus a seu título de escritor eram cativantes e contagiantes.

Como disse anteriormente, a capa é linda! O título e o nome do autor estão em alto-relevo. Há pouquíssimos erros de revisão, as páginas são amareladas e bem grossas, a diagramação traz letras e espaçamento de bom tamanho, as margens externas são um pouco pequenas, mas nada que atrapalhe a leitura.

"Assassino ou barman ou escritor, não importava: seu destino era o destino comum de todos, seu fim o meu fim; e aqui, nesta noite, nesta cidade de janelas escuras havia outros milhões como ele e como eu: tão indistintos quanto folhas de grama. Viver já é duro. Morrer era uma tarefa suprema." (página 150)

Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado da resenha. Fica a sugestão para quem quiser conhecer a escrita de John Fante, escritor que influencio autores como Charles Bukowski (é dele o prefácio do livro), sugiro também para quem quer viajar no tempo até os anos 1930, quando a segunda guerra mundial estava apenas começando e para quem gosta de livros com personagens escritores.

site: http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2016/01/resenha-livro-pergunte-ao-po-john-fante_26.html
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De Cara Nas Letras 23/01/2016

Pergunte ao Pó
John Fante é um autor norte-americano nascido no Colorado. Além de romancista e contista, escrevia roteiros para cinema que deram origens a filmes consagrados como Pelos Bairros do Vício e O Santo Relutante . Pergunte ao Pó foi seu segundo livro publicado, em meados de 1939.

Aqui vamos acompanhar então a vida de Arturo Bandini, um escrito com vinte anos que mora em um quarto de hotel em los Angeles e vive da renda do que publica em revistas. Mas até então ele só conseguiu publicar um conto intitulado O cachorrinho riu, por isso idolatra seu editor e se gaba pelo grande feito. Mas mesmo tento publicado um conto, ele quer algo mais grandioso, quer escrever um livro que vá lançá-lo ao estrelato literário. Ele acha que não tem muito conhecimento de mundo e precisa sair e buscar experiencias.

Numa lanchonete, ele conhece uma moça mexicana que usa sapatos, maquiagem e roupas que não são de sua tradição, tentando passar uma imagem de americana que ela não tem no sangue. O nome dela é Camila Lopez, e é por ela que Arturo Bandini se apaixona. Nos poucos momentos de encontros, na lanchonete, sempre há farpas entre eles e a relação acaba sendo complicada. Arturo se mostra um personagem durão do tipo que não foge do que quer, enquanto Camila despreza as atitudes dele.

Entre idas e volta do hotel ao café, encontros com prostitutas, dinheiro gasto de forma despretensiosa e um escritor em busca do sucesso, o livro se desenvolve em primeira pessoa sob o ponto de vista do Arturo Bandini, o alter ego do próprio John Fante. No decorrer, Bandini narra os fatos e ao mesmo tempo conversa consigo mesmo, deixando uma narrativa engraçada, tão divertida quanto os diálogos dele com Camila.

O livro tem vários pontos interessantes. Um deles é que se passa logo após a grande depressão na década de 30 e também no início da Segunda Guerra, no entanto o autor apresenta isso de forma breve e rapidamente colocando nos personagens uma indiferença para tais momentos, já que para eles aquilo é o de menos.

Em certos momentos podemos sentir pena da Camila pelo tratamento bem autoritário que Bandini tem com ela, mas compensa pelo tratamento que ela dá a ele, e quando notamos que de certa forma ela quer algo em troca e atura esses tratamentos, relevamos quaisquer resquícios de machismo.

Em uma escrita rica, John Fante nos ganha pela forma despretensiosa e sem tantos floreios ao escrever. O livro tem pouco mais de 200 páginas, mas seu conteúdo é maior do que alguns livros de 500 que falam tanto e não dizem nada. Há umas passagens que causam aflição e você perde totalmente o apetite por carne.

Pergunte ao Pó é reconhecido por influenciar a geração beat e o Charles Bukowski, eu já havia lido o On The Road do Jack Kerouac e A Mulher mais bonita da cidade, e é fácil entender porquê de ter influenciado tais gerações; no livro de John Fante temos um personagem que não se importa muito com o dinheiro que ganha, sabe que precisa dele para comprar, mas não se atem a guardá-lo e estoca-lo com o intuito de enricar, ele também se mostra bem libertino e, apesar de aparentar ser rude, tem um coração grandioso.

site: http://decaranasletras.blogspot.com.br/2015/12/resenha-129-pergunte-ao-po-john-fante.html
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marina.o 28/12/2015

Precursor de um estilo
Mal sabia Fante que sua plena sinceridade e lingua solta seriam inspiração e proximidade ao tão aclamado de uma geração de jovens insatisfeitos: Bukowski. Foi assim que o conheci e tive o prazer de "rebobinar" o estilo literário através de um "Charles mais leve", menos grosseiro.
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 01/10/2015

Imperdível
Ler um clássico muitas vezes me deixa algo ansiosa e me faz sentir incumbida de uma grande responsabilidade: a de captar todas as nuances da obra, de entendê-la e saber enxergar todo o seu valor. Outras tantas vezes nada disso acontece, e a leitura se dá completamente livre de amarras, com uma fluidez que não se deve apenas ao texto mas, principalmente, ao meu estado interno; aí a identificação é quase que instantânea. E foi esta segunda situação que marcou minha leitura de Pergunte ao Pó, livro mais famoso do norte-americano John Fante.

Apesar de não se identificar com o movimento, Fante é tido como um precursor da geração beat e influenciou a literatura de Charles Bukowski (que o tinha como um deus), dentre tantos outros. Inclusive, foi através do “velho safado” – que assina o prefácio do livro, aliás – que Fante começou a ganhar prestígio e foi um dos principais nomes da literatura underground americana dos anos 80.

Pergunte ao Pó traz Arturo Bandini, um jovem aspirante a escritor – um alter ego de Fante. Filho de imigrantes italianos, ele vive num quarto de hotel barato na Los Angeles da década de 30, e passa os dias a caminhar pelas ruas, vivendo e tentando acumular experiências para escrever um livro. Experiência, aliás, é coisa que lhe falta, inclusive no campo do amor. Com um conto publicado, Bandini tem dificuldade para produzir mais; além disso, tem problemas financeiros, se alimenta basicamente de laranjas (a única coisa que consegue comprar) e arrumar um emprego está fora de seus planos. O que Arturo Bandini pretende é viver de literatura, e apenas isso.

É no café Columbia Buffet que ele conhece e se apaixona por Camilla Lopez, em seu guarda-pó branco e “sapatos esfarrapados”. Bandini não aceita estar apaixonado por uma garçonete mexicana – ele próprio carrega certos problemas por ter origem italiana –, o que ocasiona uma série de ofensas e discussões entre os dois. A relação de amor e ódio é uma das frustrações de Bandini já que, apesar de amá-la, a moça ama outro homem.

Difícil não se envolver com o anti-herói ao acompanhar seu cotidiano em Bunker Hill, Los Angeles. À margem da sociedade, Bandini deixa entrever a vida difícil na Califórnia, local onde passou a viver na tentativa de se tornar um grande escritor. Tal como os novos californianos – essa gente desenraizada, triste e vazia – ele tenta ser parte da sociedade e levar a vida na cidade coberta pelo pó do deserto do Mojave.

Bandini é jovem e lhe falta maturidade. Está perdido, não sabe em qual direção seguir e quando a situação aperta além da conta é à mãe que ele recorre, em cartas um tanto otimistas, para conseguir pagar o aluguel e ter o que comer. Por outro lado, Bandini é pretensioso, gosta de esnobar e esbanjar, o que inevitavelmente faz quando tem algumas moedas a mais no bolso. Tempestuoso, o protagonista vai a extremos.

A relação com Camilla, a “princesa maia”, é das mais instigantes. Bandini não se cansa de ofendê-la, e mesmo de humilhá-la, para depois rastejar a seus pés. Dentro de si, tem consciência de que é a origem não americana e a condição social desfavorável o que o irrita nela – características que também Bandini tem em si próprio. O fato é que ele, apesar da ânsia por experiências, é temeroso das coisas da vida, e também das mulheres.

Repleta de pinceladas autobiográficas, a prosa conquista pela agilidade e franqueza. Em primeira pessoa, desfilam ante os olhos do leitor experiências e sentimentos muito pessoais, que ganham forma através do texto ausente de refinamento. O que predomina é a fluidez, um jorrar de palavras que, beirando a imprudência, faz transbordar verdade e sentimento.

Se o entorno parece estático e sem muita vida (empoeirado mesmo), os personagens têm movimento, complexidade, humanidade. E não me refiro apenas a Bandini e Camilla; um dos personagens que mais me chama atenção, aliás, é Hellfrick. O vizinho excêntrico de Bandini costuma perambular vestindo um roupão, vive pedindo dinheiro emprestado, tem mania de gim e desenvolve uma tremenda fixação por carne – seja ela na forma de um suculento bife ou ainda no corpo de um bezerro ensanguentado.

Imperdível, sobretudo para os fãs da literatura beat, Pergunte ao Pó fala das angústias e medos de uma juventude perdida em meio a um sonho americano já desbotado de suas cores. Durante todo o trajeto e a cada dia, a cruel constatação: a imagem daquilo que almejamos ser quase nunca é compatível com a imagem do que realmente somos.

LEIA PORQUE...
Você certamente vai gostar MUITO se: estiver nos seus 20 e tantos anos (ou vinte e todos, como é o meu caso, ou mais), identificar-se com os autores da geração beat, ou simplesmente estiver buscando uma leitura marcante.

DA EXPERIÊNCIA...
Livro simples e, ao mesmo tempo, incrível. Amei o desfecho, não poderia ter sido melhor. Gostei tanto que levei nova injeção de empolgação para ler dois autores que há anos estou planejando ler: Kerouac e Bukowski.

FEZ PENSAR EM...
Trainspotting, de Irvine Welsh. Leitura recente, aí também – só que de um jeito bem diferente – temos um retrato de uma juventude às margens e perdida. Em Trainspotting, vemos um grupo de jovens junkies e sem rumo na Edimburgo dos anos 90.


site: http://livrolab.blogspot.com
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Déia 04/09/2015

Comecei a ler esta obra com muitas expectativas, pelas ótimas resenhas que li e pelo incrível prefácio de Bukowski. Até a metade da história estava gostando, prosa simples e direta com ótimas passagens, leve, inteligente e engraçada. Mais da metade ao final é que realmente fui entender o motivo de ser um livro tão elogiado e querido, é difícil de explicar racionalmente meus motivos, mais posso dizer que é um livro extremamente verdadeiro, triste e bonito ao mesmo tempo. Entrou para minha lista de favoritos.
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Pedro Nabuco 26/08/2015

Um livro que grita
O sentimento de que falta algo, de que se pode mais, de que isso tudo é muito pouco; isso é batido, tem em todo lugar, mas aqui não vem apenas com uma bela escrita e reflexões teóricas e puramente metafísicas, não, Fante coloca sangue e alma em sua obra.
Uma leitura mais visceral, mais "outsider" do que eu estava acostumado, foge um pouco às clássicas "inquietações burguesas".
Como obra literária, fazendo uma parca comparação, eu diria que não supera alguns dos livros de "inquietações burguesas", vide o "Cadernos de Malte Laurids Brigge" de Rilke, contudo seu valor vai além da estética e da pura literatura, seu valor está em sua humanidade crua e sem floreios.

Recomendo a todos. Fica de incentivo um trecho que considero excepcional e dá um pouco o tom da obra:

"Assassino ou barman ou escritor, não importava: seu destino era o destino comum de todos, seu fim o meu fim; e aqui, nesta noite, nesta cidade de janelas escuras, havia outros milhões como ele e como eu: tão indistintos quanto folhas de grama. Viver já era duro. Morrer era uma tarefa suprema."
Arsenio Meira 26/08/2015minha estante
Romance estupendo, resenha idem!
Abs


Pedro Nabuco 26/08/2015minha estante
Obrigado Arsenio!
Realmente é um romance sensacional, enquanto o lia, eu imaginava que, se fosse vivo, seria o tipo de coisa que Dostoiévski leria ou poderia escrever, haha


Arsenio Meira 26/08/2015minha estante
É isso aí, Pedro. O Dosto é para sempre. Sua analogia é certeira, na minha opinião. Os personagens criados por Dostoiévski, para além de serem bons ou maus, guardam, dentre tantos, um atributo: o que prevalece é o seu caráter de criaturas fragmentadas e com idéias fervilhantes em suas mentes. O russo sempre teve como preocupação maior, o seu tema mais relevante, ao qual consagrou a sua força criadora, o homem e o seu destino... Para ele o homem é um microcosmo, o centro do ser, um sol em torno do qual tudo se move. Graças a Dosto, somos beneficiários da filosofia caracterizada
principalmente como uma tentativa de repensar a posição do ser humano numa época contrária a seu pleno desenvolvimento. Abraços!


Pedro Nabuco 26/08/2015minha estante
Perfeito comentário. Realmente Dostoiévski é um dos imortais da literatura universal.
Abraços!




Fabio Martins 06/08/2015

Pergunte ao pó
Comprei o livro Pergunte ao Pó, de John Fante, sem ter muita certeza do que me esperava e qual o tipo de história e narrativa ele continha. Também não tinha muita expectativa, apenas buscava alguma leitura interessante.

Logo no prefácio já me surpreendi, pois foi escrito por Charles Bukowski. Ele diz que, quando jovem, queria uma leitura realmente boa e fascinante, e encontrou em Pergunte ao Pó exatamente o que buscava em seus ideais. Anos depois, mais maduro e experiente, Bukowski chocou o mundo e mexeu com os alicerces da literatura com suas obras cruas, que mostravam uma realidade cruel do submundo americano.

Pergunte ao Pó conta a história do escritor Arturo Bandini. Ele vivia, nos anos 30, em um hotel barato em Los Angeles e tentava ganhar a vida escrevendo. Porém, todas suas publicações eram fracassadas e de pouco interesse. O maior sucesso de sua vida havia sido um conto que foi publicado em uma revista, mas não lhe deu muito dinheiro.

Certo dia ele conhece uma garçonete chamada Camilla Lopez. Ambos sentem uma atração diferente pelo outro, mas acabam sempre se ofendendo, insultando e odiando. Arturo passa a amar Camilla, mas a moça ama um garçom do local em que trabalha, chamado Sammy.

Em meio a essa confusão, uma mulher chamada Vera Rivken se apaixona por ele e eles têm um relacionamento passageiro. Mas a história de Vera é tão boa e dramática que Arturo resolve escrever um livro sobre ela, que, com certeza, será sua obra-prima.

Arturo tenta lidar com seu trabalho, mas fica louco de amores por Camilla e sempre acaba indo atrás dela. Essa paixão não-correspondida é que dá a tônica dos anseios e da angústia do protagonista.

A obra serviu de modelo para a geração beatnick, que surgiu nos Estados Unidos logo em seguida. É uma inspiração para Jack Kerouac, principal nome dessa cultura, e outras pessoas que seguiram esse estilo de vida desvairado, desregrado e livre.

site: lisobreisso.wordpress.com
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vortexcultural 18/09/2014

Pergunte ao Pó - John Fante
Por Thiago Augusto Corrêa

Aos 30 anos de idade, o ítalo-americano John Fante trazia consigo uma maturidade preciosa, repleta de autocrítica consciente sobre os anos de sua juventude, com fins de reconhecer os próprios erros de escritor iniciante e narrá-los na ficção através de seu alterego Arthuro Bandini, o ponto mais brilhante de sua carreira.

Um ano antes, o escritor deu vida e voz às peripécias da personagem em Espere a Primavera, Bandini, o primeiro do quarteto que narra a trajetória de Arthuro, tão semelhante a de seu autor que criador e criatura tornam-se sinônimos.

Lançado no país pela José Olympio detentora de boa parte do catálogo de Fante no país , foi Pergunte Ao Pó que trouxe o derradeiro destaque ao autor. A narrativa é uma pequena pérola que não busca uma grande jornada e centra-se na história cotidiana de Arthuro Bandini, de origem ítalo-americana, recém chegado de Los Angeles à procura de emprego e de destaque social como um escritor.

A maneira lúcida com que Fante narra sua história promove uma feroz autocrítica de seus dias iniciais como escritor, universalizado na figura do alterego. Bandini representa o pior que pode acometer um artista novato: é presunçoso, esnobe e vaidoso ao extremo com sua própria criação literária. Por detrás de seu ego, Bandini é tímido, vivendo do medo de não ser tão bom quanto sua capacidade requer. Como um herói romântico, deseja viver aventuras para que possa narrá-las com a pompa necessária.

É pelo viés do sentimento que a personagem conquista o público. Bandini é formado por excessos para se tornar odiado pelo leitor, tanto no reconhecimento que se pode ter diante de seus defeitos quanto a respeito de suas reações extremas. Longe de uma jornada modificadora, a narrativa retrata a juventude imatura e no âmbito da escrita a relação do escritor com sua própria história de vida entre viver para contar ou narrar como forma de viver. Fante reinventa a própria história ao recontá-la em linhas narrativas, fazendo da própria biografia elemento primordial de sua ficção.

Entusiasta do autor, Charles Bukowski incentivou a popularização de Fante na década de 70, quando, ao publicar um novo livro, exigiu de sua editora o lançamento de Pergunte Ao Pó, além de escrever o prefácio da edição. Estranhamente, Fante tem reconhecimento tímido no Brasil, embora seja influente como escritor e chave para compreender movimentos posteriores, como a geração Beat, que faz da sociedade alvo de crítica.

Ao compor um personagem que desejava se inserir na sociedade a qualquer custo, Fante analisava a época vivida em meio à crise de 29 e próxima de uma segunda guerra mundial. Dentro deste cenário, Bandini é um miserável que, assim como muitos outros americanos, viveu de maneiras parcas à procura de um sustento minguado, passando dias comendo dúzias de laranjas, único alimento que tinha dinheiro suficiente para adquirir.

Em meio a este difícil e árido cenário, Fante não tem medo de fazer de sua personagem um homem sentimental. Imaturo, difícil, mas transbordando emoções. Em seu prefácio, o Velho Safado elogia a capacidade do autor em conseguir resgatar certo sentimento perdido na literatura. Como se os autores, à procura de personagens durões, omitissem a sensibilidade natural dos seres humanos.

A épica de Bandini não carrega uma mensagem transformadora de conduta, mas confirma a imaturidade aparentemente perene de um homem ainda incapaz de reconhecer o mal que faz a si próprio.


site: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-pergunte-ao-po-john-fante/
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thaugusto 30/05/2014

[Resenha] Pergunte Ao Pó – John Fante
Aos 30 anos de idade, o ítalo-americano John Fante trazia consigo uma maturidade preciosa, repleta de autocrítica consciente sobre os anos de sua juventude, com fins de reconhecer os próprios erros de escritor iniciante e narrá-los na ficção através de seu alterego Arthuro Bandini, o ponto mais brilhante de sua carreira.

Um ano antes, o escritor deu vida e voz às peripécias da personagem em Espere a Primavera, Bandini, o primeiro do quarteto que narra a trajetória de Arthuro, tão semelhante a de seu autor que criador e criatura tornam-se sinônimos.

Lançado no país pela José Olympio – detentora de boa parte do catálogo de Fante no país –, foi Pergunte Ao Pó que trouxe o derradeiro destaque ao autor. A narrativa é uma pequena pérola que não busca uma grande jornada e centra-se na história cotidiana de Arthuro Bandini, de origem ítalo-americana, recém chegado de Los Angeles à procura de emprego e de destaque social como um escritor.

A maneira lúcida com que Fante narra sua história promove uma feroz autocrítica de seus dias iniciais como escritor, universalizado na figura do alterego. Bandini representa o pior que pode acometer um artista novato: é presunçoso, esnobe e vaidoso ao extremo com sua própria criação literária. Por detrás de seu ego, Bandini é tímido, vivendo do medo de não ser tão bom quanto sua capacidade requer. Como um herói romântico, deseja viver aventuras para que possa narrá-las com a pompa necessária.

É pelo viés do sentimento que a personagem conquista o público. Bandini é formado por excessos para se tornar odiado pelo leitor, tanto no reconhecimento que se pode ter diante de seus defeitos quanto a respeito de suas reações extremas. Longe de uma jornada modificadora, a narrativa retrata a juventude imatura e – no âmbito da escrita – a relação do escritor com sua própria história de vida entre viver para contar ou narrar como forma de viver. Fante reinventa a própria história ao recontá-la em linhas narrativas, fazendo da própria biografia elemento primordial de sua ficção.

Entusiasta do autor, Charles Bukowski incentivou a popularização de Fante na década de 70, quando, ao publicar um novo livro, exigiu de sua editora o lançamento de Pergunte Ao Pó, além de escrever o prefácio da edição. Estranhamente, Fante tem reconhecimento tímido no Brasil, embora seja influente como escritor e chave para compreender movimentos posteriores, como a geração Beat, que faz da sociedade alvo de crítica.

Ao compor um personagem que desejava se inserir na sociedade a qualquer custo, Fante analisava a época vivida em meio à crise de 29 e próxima de uma segunda guerra mundial. Dentro deste cenário, Bandini é um miserável que, assim como muitos outros americanos, viveu de maneiras parcas à procura de um sustento minguado, passando dias comendo dúzias de laranjas, único alimento que tinha dinheiro suficiente para adquirir.

Em meio a este difícil e árido cenário, Fante não tem medo de fazer de sua personagem um homem sentimental. Imaturo, difícil, mas transbordando emoções. Em seu prefácio, o Velho Safado elogia a capacidade do autor em conseguir resgatar certo sentimento perdido na literatura. Como se os autores, à procura de personagens durões, omitissem a sensibilidade natural dos seres humanos.

A épica de Bandini não carrega uma mensagem transformadora de conduta, mas confirma a imaturidade aparentemente perene de um homem ainda incapaz de reconhecer o mal que faz a si próprio.

site: http://www.vortexcultural.com.br/literatura/resenha-pergunte-ao-po-john-fante/
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Duda 24/04/2014

clássico
Pergunte ao pó, um clássico, uma ficção passada nos Estados Unidos em uma época de dificuldade econômica (década de 30 no século XXI), John Fante nos conta a historia de Arturo Bandini, um jovem que sai de uma pacata cidade onde crescera, em Chicago, e vai vier sozinho em Los Angeles a procura de realizar seu sonho: ser escritor. Nessa situação, o jovem passa por necessidades, morando em um hotel imundo, vivendo casos inusitados e se apaixonando por uma garçonete de boteco.
A obra é encantadora, simples de ler e de uma historia riquíssima que te leva à realidade de viver na miséria daqueles tempos, tentando ganhar a vida como escritor. O prefacio, escrito por Bukowski, explica muito bem o tamanho dessa literatura, ele que é um dos grandes fãs de John Fante.
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Osmar 06/01/2014

Impressionado!
"Pergunte ao Pó" relata a trajetória de Arturo Bandini, um alter ego do autor, que se muda pra Los Angeles, na busca de se concretizar como escritor. Bandini escreve alguns contos, entre eles "O cachorrinho sorriu", o mais notável até então. Com o passar do tempo Bandini percebe que a vida em Los Angeles pode não ser tão fácil, passa alguns dificuldades e alguns "travamentos", não conseguindo escrever nada satisfatório. A história de Bandini torna-se circular, e ele percebe-se que para escrever um grande romance, precisa experimentar mais a vida, viver novas experiências e conhecer novas pessoas. As coisas mudam quando Bandini conhece uma mulher, e ele passa a enxergar a vida de uma maneira nem melhor, nem pior, apenas diferente.

O que mais impressiona aqui é a forma que Fante tem de descrever as situações de uma maneira tão poética. Os sentimentos, as reações, as características que revelam a história das pessoas e das localidades são bem visíveis, e a trama fisga de modo que o leitor quer saber o desfecho o mais rápido possível.
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Leonardo 25/03/2013

Descobrindo a vida
O livro conta a história de um jovem de 20 anos, chamado Arturo Bandini, ele se muda para Los Angeles em busca do seu sonho, ser um escritor famoso.

Por longos dias, Arturo se vê sem inspiração, não consegue escrever algo bom, algo verdadeiro. Então ele se sente obrigado a caminhar pelas ruas, a primeiramente aprender sobre a vida. Experimentar o amor, para depois falar sobre o amor.

Em uma noite, ele conhece uma garçonete, e se sente ligado a ela, nesse relacionamento cresce uma relação de amor e ódio.

O livro é narrado na 1° pessoa, o que ajuda a notar as várias personalidades de Arturo Bandini, ao mesmo tempo que ele se vê rico, famoso, um escritor de sucesso, um outro lado dele o chama para realidade, mostrando a ele quem ele é, de onde veio, onde se encontra, dando nota do pó que está ao redor dele.

Arturo, como muitos jovens, parece não ter certeza de nada, é incompreendido e também não se compreende...
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Dose Literária 06/03/2013

O livro que mudou a minha vida
Intensidade dantesca. Com duas palavras, a obra prima de John Fante veio ao mundo. Pergunte ao Pó (Ask the Dust, José Olympio, 206 pág.) traduz a angústia que ocupou a mente da tumultuada geração beat. E não só. Fante conseguiu traçar personagens com vida própria, usufruindo da rara capacidade de sair das páginas fixas e construir história. Foi assim com Arturo Bandini (alter-ego de John Fante), a mexicana Camilla Lopez e até mesmo o excêntrico Hellfrick.

A história é contagiante: de um lado, o amor incontido de Bandini e Camila, lutando diariamente para superar pressões acima do bem e do mal - que eu traduzo como o contexto histórico, desespero social e emocional, e acima de tudo, um complexo das relações humanas. Sim, Pergunte ao Pó reflete a incerteza dos sentimentos; o perigo quase atômico de relações hierarquizadas. Um verdadeiro chute nas bolas do véu que todos nós - em menor ou maior grau - ostentamos, à medida que limitamos nossas possiblidades, nossos desejos, nossas necessidades e nossas prioridades em modelos pré-fabricados.

Continue lendo... http://www.doseliteraria.com.br/2012/03/o-livro-que-mudou-minha-vida-pergunte.html
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jota 17/02/2013

Jovem aprendiz
Pergunte ao Pó (1939), segundo livro de John Fante (1909-1983) não é exatamente a continuação de Espere a Primavera, Bandini (1938), embora nos dois livros o protagonista central seja Arturo Bandini, alter ego do escritor.

Arturo não está mais no Colorado, seu estado natal (como o de Fante), mas na California - tem vinte anos, não é mais o adolescente do outro livro, embora os problemas continuem a perturbá-lo em sua nova vida em Los Angeles.

Por lhe faltar dinheiro leva uma vida um tanto à margem da sociedade. Deve aluguel, alimenta-se mal, não tem praticamente lazer algum que imaginar-se rico e famoso escrevendo livros. Já teve publicada sua primeira "obra-prima": um conto chamado O Cachorrinho Riu. Mas que às vezes, o torna motivo de riso.

Além dessa pretensão artística, quer conhecer o amor, mas a vida não parece sorrir para Arturo Bandini. Apaixona-se pela garçonete de um café da cidade, Camilla. Que, no entanto, ama outro homem, que também quer ser escritor...

Antes eu havia lido 1933 Foi Um Ano Ruim (1985, publicado postumamente) e esses três livros têm como característica a presença, aqui e ali, de traços autobiográficos de Fante, mas sobretudo, contam histórias simples e muito humanas. Isso agrada a um grande público leitor. A mim também.

Lido entre 13 e 17/02/2013.
Arsenio Meira 26/02/2013minha estante
Concordo com você. Um grande romance de John Fante. Bandini, em "Pergunte ao Pó", deixa-se levar pela acídia, e não raro, o descarraga suas frustrações num misto de ódio e rejeição para com tudo e todos.

No entanto, como você bem ressaltou, o romance de Fante tem por base um pé em sua própria vida e consequentemente reflete a vida da milhares de pessoas.

Na madureza, o aspecto humano que guarnece a história, desponta aos olhos, de fato.


jota 26/02/2013minha estante
Arsenio: Depois de ler 1933 foi um ano ruim, em seguida, Espere a primavera, Bandini e finalmente, Pergunte ao pó, todos livros ótimos, descobri que se fosse para haver, a continuação de Espere a primavera... seria o 1933..., embora o personagem deste, com 17 anos, se chame Dominic Molise. Mas o pai também é pedreiro, a mãe devota, etc. E mais ainda: o nome completo do alter ego de John Fante é Arturo Dominic Bandini. Bem, de fato o que estou querendo dizer mesmo é que esses livros nos levam para além do simples prazer de se ler uma bela história. Eles nos deixam querendo mais, querendo saber mais acerca dos próprios livros, seu autor e também seus personagens. Que, para nós, se tornam como que pessoas reais e conhecidas, a quem apreciamos. Fale-se em Holden Caulfield ou em Arturo Bandini e sempre haverá alguém que os conheça... Acho que é mais ou menos por aí.




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