Coruja 31/08/2012Comprei esse livro para dar de presente de aniversário e acabei atrasando a entrega em mais de um mês porque comecei a ler e aí não podia enviar até terminar e aqui não queria mandar mais e ficar com ele para mim... Muito complicado isso... mas tudo bem, porque se mandei esse volume no final das contas, chegou pra mim outro volume da série e ah... tô enrolando, vamos ao que interessa...
Dica importante: Uncle Montague’s Tales of Terror foi traduzido aqui no Brasil, mas a edição em inglês tem capa dura e foi menos da metade do preço da nacional. Só pra variar, né...
Tio Montague vive sozinho numa casa meio assombrada em meio a um bosque pelo qual você não gostaria de andar à noite. Ele é o tio preferido do jovem Edgar (o único também...), que sempre que pode, foge do convívio monótono de seus pais – que não sabem exatamente o que fazer com uma criança – para ouvir os contos bastante assustadores do tio.
E Montague tem um sortimento aparentemente inesgotável de histórias, todas com finais infelizes, todas com acontecimentos estranhos, todas de fazer o coração disparar, as mãos suarem frio e o vento na janela parecer subitamente soar como uma voz que assombra pesadelos.
Aos poucos, contudo, uma tarde aparentemente tranqüila sentado ao pé da lareira ouvindo contos assombrados e assombrosos, acaba se tornando bem mais do que Edgar barganhara ao sair para visitar o tio.
Enquanto eu ia lendo esse livro, ficava me perguntando como exatamente é que ele estava sendo vendido como livro infantil. O nome do sobrinho não é mera coincidência; Poe é uma óbvia influência de Pristley, enquanto que as ilustrações me faziam lembrar o tempo todo das animações de Burton.
Existe uma mistura de macabro e colorido exótico nos contos que me fez pensar muito em A Noiva Cadáver ou Coraline - e, sério, seria fantástica uma adaptação dessa história no estilo desses filmes – mas eles são um pouco mais pesados no sentido de que não existem moralismos do tipo ‘se você se comportar bem tudo dará certo no final’. Boas crianças não são recompensadas com doces e finais trágicos são meio que a regra dos personagens que Montague apresenta ao sobrinho.
Priestley nunca mostra de frente as criaturas de pesadelo responsáveis pelo deslinde de cada conto. Ele nos dá apenas vislumbres e deixa que nossa imaginação faça o resto, introduzindo pouco a pouco novos elementos que vão nos deixando na ponta da cadeira, tão nervosos e assustadiços quanto Edgar, numa colcha de retalhos em que pequenos objetos vão tomando um significado cada vez maior e mais sombrio – uma casa de bonecas e uma porta que dá para lugar nenhum, uma carranca de madeira cujos sussurros te levam à insanidade, uma bruxa cega e seu pomar, uma sombra partida no penhasco, uma foto que não deveria existir.
Agora, um último conselho... não leia antes de dormir...
(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)