JH 24/03/2011
Os anos 80 são uma verdadeira Era dentro de uma década. Tecnologia, liberdade de pensamento e qualidade de vida são expressão destes tempos, tão adorados por Lestat, tempos tão semelhantes ao rococó parisiense onde iniciara suas aventuras. Um tempo de vampiros. Mas, apesar deste seu encantador clima suburbano, arredio e jovial, que serve de plano de fundo para o desenrolar da estória, não são estes últimos anos que definem o seu cerne. Foi em tempos muito antigos, antes da invenção da escrita, na idade das primeiras civilizações, que tudo começou.
A Rainha dos Condenados trata do Gênese e do Apocalipse dos vampiros. Anne Rice resgata mitos e lendas para criar fatos coerentes para o surgimento dos bebedores de sangue – seriam a grandiosidade e a engenhosidade do Egito antigo, por exemplo, frutos do reinado de reis vampiros? – e, com a mesma objetividade, cria Akasha, um ser milenar de infinita complexidade, que carrega em si não apenas a chave para a existência de todos os vampiros, mas também a síntese do pensamento humano através dos anos.
Quando Akasha resolve atender ao chamado das canções de Lestat, desperta de sua imobilidade milenar e decide, no auge de sua força e sabedoria, encarregar-se da tarefa de trazer um mundo de paz e plenitude para a humanidade, um mundo organizado em torno da Deusa Mãe que ela novamente representaria.
E como primeiro passo para alcançar seus objetivos, Akasha erguera-se como uma nuvem negra viajando pelo globo, varrendo quase que completamente da face da Terra todos os vampiros existentes. Pois detestava especialmente sua raça, seus próprios “filhos”, que em dado momento da História foram adquirindo a leda convicção de serem “filhos do diabo”, ou uma praga enviada por Deus aos homens, ou qualquer outra coisa do gênero que justificasse o mal que sua natureza representava para suas vítimas. Para ela, estes seres delinqüentes e irresponsáveis eram incapazes de compreender que o verdadeiro mal do mundo estava além da ordem moral que se empenhavam em infringir; estava, sim, na miséria que os homens trazem para si mesmos, na doença e na morte das quais não poderiam nunca escapar.
Mas a humanidade não necessitava, realmente, desviar de seu curso natural e retornar a uma Era de crenças e superstições a fim de alcançar os ideais de paz e justiça. Então, longe de ser o ser onisciente e onipotente de seis mil anos de idade, Akasha provava estar sendo apenas orgulhosa, ao tentar assumir uma posição para si nos novos tempos, nem que para isso tivesse de destruir metade do mundo. Desta forma, os últimos vampiros restantes, alguns tão antigos quanto a rainha, reúnem-se para tentar, de alguma formar, detê-la. Mas a questão é: como destruir a Rainha dos Condenados sem destruir a ligação mística com ela que os mantinham vivos?