Naty__ 31/12/2016Esse foi um dos livros de parceira que mais demorei a ler e, confesso, se eu não tivesse o compromisso em resenhar, não teria lido até agora. Embora O Código da Vinci seja um dos livros que mais tive vontade de ler, acredito que comecei pela pior parte: uma edição diferente da versão original.
E você poderia me dizer que mudaram poucas coisas, que apenas reduziram e colocaram imagens. Não importa! O conteúdo, para mim, foi prejudicado. Alguns detalhes deixaram a desejar – e não sei precisar se o original também peca nisso. Ressalto que peguei a edição completa para conferir algumas coisas e, duas das cenas que não gostei, o conteúdo permanece praticamente o mesmo.
A dúvida que permeia minha mente é: por que criar uma edição para jovens cujo conteúdo é reduzido? Não me parece muito coerente diminuir a quantidade de páginas de um livro a fim de fazer os jovens lerem, como se quisesse insinuar outra coisa. É certo que a obra possui algumas imagens e isso poderia chamar a atenção dos leitores mais novos (o que não exclui os mais velhos). Todavia, diminuir algumas partes da história soa um tanto quanto exagerado e desnecessário.
Não posso afirmar que houve mudanças brutais, pois não li a versão original, como mencionei. No entanto, sou adepta à teoria de que não importa a quantidade de páginas se um livro prende o leitor. Também entendo o fato de muitos jovens não possuírem o gosto pela leitura e reduzir as laudas seria uma forma de incentivá-los. Contudo, já pararam para pensar que isso poderia apenas significar algo diferente do que verdadeiramente é?
Certa vez vi uma notícia de que os livros de Machado de Assis seriam reescritos com uma linguagem mais simplificada para atrair os leitores mais jovens. Alguns estudiosos consideraram a adaptação um ultraje; outros tantos argumentam que as obras do autor são difíceis de interpretar e exige um esforço maior do leitor. Será que modificar a escrita de um livro não seria tirar a essência da narrativa; a essência do próprio autor que o escreveu? O que seria de nós, amantes leitores de Assis, sem essa escrita diferenciada e que prende a nossa atenção? Não seria Machado, seria uma ideia dele, mas palavras de outrem. Seria um novo livro e, querendo ou não, outro escritor.
É com esse mesmo sentimento que indago se a redução de páginas não seria desnecessária, quando, na verdade, o leitor não precisa de poucas laudas, mas de um conteúdo chamativo e que o prende. É óbvio que quem não está acostumado com leituras, dificilmente iniciará por uma obra volumosa. No entanto, essas mesmas pessoas não começarão com livros densos, este, em especial, não é uma típica história que chama a atenção de qualquer iniciante.
Acredito que facilitar para o leitor, seja reescrevendo ou diminuindo as laudas, não é algo que irá beneficiá-lo futuramente. Pode ser que aos ingressantes na vida acadêmica possa surtir algo efeito, mas, ao ingressar na faculdade, não é bem assim que as coisas funcionarão. Afinal, quem sente dificuldade em entender Machado de Assis e quem não leria 400 páginas de uma obra de Dan Brown, será que enfrentaria um livro como Crime e Castigo de Dosto ou algum livro de Niet? Será que a solução está nas obras ou nas pessoas? Parece mais razoável modificar páginas para aperfeiçoar o entendimento ou melhorar a educação dos jovens para incentivá-los a compreender o que o autor quer nos passar?
Ainda que O Código da Vinci seja um dos livros mais vendidos do mundo, não se pode olvidar que muitos não gostam do gênero, assim como não se sentem atraídos por histórias que envolvam religião e coisas afins. Não posso opinar com precisão sobre isso; todavia, a história trazida em O Código da Vinci (especial para jovens) não foi uma leitura proveitosa e que sentia prazer em ler.
Em diversos momentos a narrativa não fluía e me sentia obrigada a dar continuidade, como se quisesse entender o motivo de tudo aquilo, mesmo acreditando que nada fizesse sentido. Um exemplo claro disso está na morte dentro do Museu do Louvre, assim como a busca desenfreada para chamar Langdon num hotel, em plena madrugada, para descobrir o segredo protegido por uma sociedade secreta desde os tempos de Jesus Cristo. Ao ser chamado, o recepcionista liga para ele e avisa que tem uma pessoa indo até o seu quarto. Como estamos lidando com um livro cujo mistério e reviravoltas estão sempre presentes, já é de se imaginar que pode ser um bandido, ou até mesmo o assassino, e não um tenente da Diretoria Central da Polícia Judiciária. Quem poderia imaginar que um recepcionista de um hotel liberaria a subida de um cara para o quarto sem a autorização de seu hóspede?
Algumas cenas parecem um pouco forçadas por não ter alguns elementos de lógica, como o que citei acima. No entanto, é incontestável a qualidade do autor em descrever cenários que passaríamos anos visitando e não conheceríamos tudo. As descrições são tão bem feitas que chega a ser uma leitura arrastada, em alguns momentos.
Não me contentei com o lançamento lido e desejo ler a versão original para fazer uma análise melhor, já que mergulhei numa obra com conteúdo reduzido e que não me deixou por satisfeita. Para quem já conhece a história, de repente gostará mais dessa edição do que eu gostei. A capa está bem bonita e a diagramação é caprichada. A editora colocou oito páginas com fotos para deixar o trabalho mais chamativo. Uma pena que para mim não tenha funcionado – não quer dizer que aconteça o mesmo com você.
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http://www.revelandosentimentos.com.br/2016/12/resenha-o-codigo-da-vinci-edicao.html