Menino Javali 29/06/2010
Princípios da Libertação
"As almas baixas não crêem de modo algum nos grandes homens: escravos vis sorriem com ar de troça à palavra liberdade". Apesar de concebida no longinquo século XVIII, a bibliografia de Jean-Jacques Rousseau exibe uma linguagem contemporânea e realista, muito à frente de seu tempo. Inspirador dos preceitos de liberdade, igualdade e fraternidade que moldaram o Iluminismo, culminando posteriormente na Revolução Francesa e influencia dos principais pensadores socialistas, "O Contrato Social" apresenta-se não apenas como análise crítica, contundente, clara e objetiva, mas também visionária, acerca da elaboração e execução das leis, maquinações políticas e servidão popular, oriundas da delegação de funções e responsabilidades do povo ao despotismo de seus eleitos.
Condena de forma rigorosa as inversões de valores e uso das legislaturas e recursos políticos com fins particulares, recorrentes do mal uso dos tributos impostos à sociedade e do descumprimento das reais obrigações dos representantes do Estado. “O ato que institui o Governo não é de modo algum um contrato, mas uma Lei; que os depositários do poder executivo não são os senhores do povo, mas seus funcionários”, constata.
Infere que a liberdade não há de ser conquistada sem um mínimo de igualdade e distribuição das riquezas, aproximando os graus extremos tanto quanto possível e previne para que "não aceitem nem pessoas opulentas nem miseráveis. Esses dois estados, naturalmente inseparáveis, são igualmente funestos ao bem-comum: de um saem os promotores da tirania; do outro, os tiranos. É sempre entre eles que se faz o tráfico da liberdade pública: um a compra, o outro a vende".
Pouco afeito aos dogmas cristãos e as resignações subservientes, sendo recorrentemente perseguido pelo clero por suas idéias agnósticas, Rousseau explicita que “o cristianismo prega apenas servidão e dependência. Seu espírito é por demais favorável à tirania para que esta não se aproveite sempre dele. Os verdadeiros cristãos são feitos para serem escravos”.
Não raro, o autor questiona sem complacência a ingenuidade das massas e a legitimidade de suas escolhas. “O povo pensa ser livre; está muito enganado, pois só o é durante a eleição dos membros do parlamento; tão logo estes são eleitos, ele é escravo, é nada. Nos curtos momentos de sua liberdade, o uso que faz dela mostra bem que merece perdê-la".
Obra de inestimável importância filosófica e histórica, de compreensão relativamente fácil, cujas considerações nos levam a refletir sobre os meandros das relações políticas e da dignidade humana. Para ler e reler. Recomendável para revolucionários, conspiradores, estudantes anarquistas, historiadores, teóricos geopolíticos e psicóticos em geral.