Sabrina Castro 02/09/2013Simplesmente Sensacional: no topo dos meus favoritos!Nora é uma adolescente de 16 anos que tenta levar a vida após a morte de seu pai, doutor Victor Dearly. Nora estuda em uma escola para garotas com sua melhor amiga, Pâmela Roe, mas ao fim de cada ano letivo, retorna para casa e para a companhia de sua insuportável tia Gene, uma viúva fútil que pensa apenas em alcançar o status mais alto da sociedade, nem que para isso precise sacrificar Nora e arranjar-lhe um bom casamento.
Apesar da educação que recebe para tornar-se uma dama de primeira classe, Nora sempre fora diferente das outras garotas. Sempre gostou de saber sobre as grandes batalhas e histórias de guerra e interessava-se pelo movimento Punk (os que rejeitavam a aristocracia na qual o novo mundo vivia). Gostava de ter voz, não de ser ignorada pelos rapazes e ter que ficar apenas entre as senhoritas de sua idade falando sobre joias ou da última moda. Sua vida pacata ia bem, até o dia em que um sujeito misterioso tenta raptá-la.
E então seu mundo vira de pernas para o ar.
No ano de 2195, Lia Habel nos traz de volta a era vitoriana. Após a devastação de inúmeros países por desastres naturais, guerras e a explosão do supervulcão do parque de Yellowstone, o planeta virou uma grande bola de gelo e, o que sobrou da humanidade, foi obrigado a migrar de forma massiva para as Américas Central e do Sul. Os sobreviventes mais fortes reuniram-se em tribos, formando uma mescla de remanescentes de todas as nacionalidades tornando-se responsáveis pela reorganização dos territórios. Foi então que o vitorianismo foi eleito o melhor exemplo de civilidade.
A era de gelo me cobriu de branco. A lava do Yellowstone chegou até meus joelhos, deixei chover sobre meu rosto as cinzas iridescentes que bloqueariam a luz do sol. As flechas que descreviam o movimento da humanidade em direção ao Equador me atravessavam. Nunca havia experimentado algo assim. Era incrível. Pág. 65 – Nora assistindo uma holografia.
Mesmo num futuro distante e havendo toda a tecnologia que se possa imaginar, a série foi enquadrada dentro do gênero steampunk (que tem tecnologia demais para seu tempo) por ter adotado o neovitorianismo (onde viam-se carruagens, damas usando vestidos longos e sombrinhas... como em Drácula e Moulin Rouge) e acredito que toda a magia da história deve-se a isso. Uma vez que as mocinhas não contentam-se em ser frágeis damas e arregaçam as magas para lutar por suas vidas e por quem amam.
Dearly, Departed narra, de forma brilhante, uma nova perspectiva acerca dos zumbis. Embora Nora Dearly seja cotada como a protagonista, outras personagens foram tão bem caracterizadas e construídas, que poderia ser qualquer uma delas. Apesar de “secundárias” por assim dizer, cada uma narra a partir do seu ponto de vista e temos então uma visão panorâmica de toda a trama. Hora você é Nora, hora sua melhor amiga Pâmela, hora um zumbi chamado Bram, hora um doutor conceituadíssimo chamado Victor, ou por fim, um casca grossa do exército chamado Wolfe.
Os zumbis entram em cena após a propagação de uma proteína que sofreu mutação, a Príon Zr-068, que se replica de forma rápida e fatal no organismo humano. Chamada de Síndrome de Lázaro (aquele a quem Jesus ressuscitou) esta doença é semelhante a da vaca louca, que danifica, especialmente, o cérebro. E, após reanimar e controlar o corpo dos mortos, busca um novo hospedeiro. Vide Resident Evil e a experiência da Umbrella Corporations. Porém, diferente do mega sucesso RE, Lia desenvolveu dois diferentes tipos de zumbis: os Cinzas, zumbis descontrolados ávidos por entranhas de qualquer coisa que tenha sangue quente, e os Não-Vivos, zumbis que não tiveram seu tecido cerebral gravemente danificado e são capazes de nutrir inteligência e raciocínio - apesar de terem um curto tempo de “vida” após a morte -, controlando o desejo por carne.
O corpo se reanima em qualquer momento entre um segundo e seis minutos depois da morte. Quanto mais rápido isso acontecer, mais saudável você será. O cérebro não perece até que o coração e os pulmões parem... é a falta de oxigênio que o mata. Pág. 173
Esse conjunto de informações citados acima (e muitos outros não citados - ou escreveria um livro ao invés de uma resenha), formam um livro sensacional repleto de nerdices (história, ciência, tecnologia), ação, suspense e, claro, romance. Um romance puro e inocente que você acompanha desde o nascimento e torce a cada página por ele. É impossível não se envolver.
Ele beijou meu pulso, no lugar em que o botão deixava uma abertura e depois deixou minha mão cair. Naquele instante achei-o total e absolutamente atraente – a maneira sincera como me beijou, e seu jeito elegante de ocupar o espaço. Ele era tudo isso, quando, em sua condição, não deveria ser. Pág. 322
- Você é a garota certa! – rugiu de repente. (...) Você é a garota certa, por dez mil razões! Nunca senti nada assim antes... (...) Mas Wolfe está certo. Eu não sou o cara para você. Sei que nunca poderei ser... Nunca poderei ser o que você precisa. (...) Mas tenho vivido os melhores momentos da minha vida, fingindo que podia ser seu. Obrigado por me permitir isso. Págs. 324/325
Apesar dos vários pontos de vistas, a narrativa não é, em nenhum momento, cansativa ou perde o ritmo. Ao contrário, é de uma fluidez impressionante e você não quer largar até terminar. Fui capaz de construir cada cena e cheguei a sentir o coração acelerar enquanto lia sobre os mocinhos correndo do mar de monstros, subindo e descendo escadas, escalando telhados... E me derreter com as palavras apaixonadas de Bram. Além de sentir um ódio mortal por certas personagens peçonhentas que não posso citar, senão estarei entregando o ouro a vocês.
Dearly, Departed é de tirar o chapéu e indicar a todos que AMAM sobrenatural. E zumbis. Claro. É, até agora, meu melhor livro lido em 2013, embora não tenha lido tantos quanto gostaria.
xoxo