@apilhadathay 30/09/2012
Fofo.
E com vocês, a participação mais que especial de Jason Priestley, fazendo sua crítica para Charlotte Street, a história de sua vida!
"Edição: relativamente boa.
Narrativa: medianamente apreciável.
Atitude: lamentável.
No Geral: nada mal para um cara simples que vive na Caledonian Road, sobre uma loja de videogame, entre uma agência de notícias polonesa e esse lugar que todo mundo pensa ser um bordel, mas não é; definitivamente, nada mal para o ex-professor que decidiu perseguir o sonho do Jornalismo depois do fim de um namoro nada promissor. Atualmente solteiro. Frequentador dos piores restaurantes. Espectador de filmes horrendos, que vai criticar para o jornal gratuito do metrô, que todos pegam, mas ninguém lê."
As semelhanças entre o famoso Jason Priestley [o gato americano que arrasou corações em "Barrados no Baile" (90210 Bervely Hills) nos anos 90] e o jornalista britânico, cuja história é narrada neste livro, resumem-se a um nome na certidão.
Jase estava no pior momento de sua vida. Deixou a escola onde era professor e acabou tornando-se jornalista freelancer, fazendo avaliações de restaurantes e filmes para o London Now, um jornal gratuito, entregue numa estação metrô da capital inglesa, e que aparentemente, ninguém lê. Ele não superou o fim do namoro com Sarah, que curiosamente, está no melhor momento de sua vida, com o novo namorado Gary, o "adulto que Jason nunca soube ser", e todas as novidades avassaladoras. Depois de uma bebedeira e de uma grande burrada pública numa rede social, ele percebeu que qualquer esperança de reatar com sua amada Sarah poderia ir pelo brejo, junto com sua cara arrastada no chão.
Porém... Em uma das curvas da vida, Jason vê uma garota toda atrapalhada, tentando entrar no táxi. Apesar de não ser o hábito londrino, ele sentiu que deveria oferecer ajuda, e ela lhe deu um sorriso inesperadamente cativante. Ali estava um momento especial. Certo? Bem, ela soltou um "Obrigada", entrou no táxi e foi embora, deixando na calçada da Charlotte Street um Jason impressionado, reflexivo e... com a câmera descartável dela em mãos. Sem saber nada sobre A Garota, além do que o filme na câmera poderia revelar, Jase se une a seu melhor amigo Dev, ao ex-aluno Matt, e à produtora musical Abbey numa jornada de rastreamento daquela que pode ser A Garota da sua vida.
"Eu estava parado na esquina da Charlotte Street quando tudo aconteceu. Acho que eram seis horas, e uma garota - sempre tem uma garota - estava brigando com a porta do táxi preto e segurando uns pacotes. (...) Eu estava prestes a passar reto por ela, porque é o que se faz em Londres, e, para ser sincero, quase passei...
E ela sorriu para mim." (Jason Priestley, ex-professor e jornalista)
CHARLOTTE STREET é um livro fofo, hilário, espontâneo e cativante, especialmente por seus personagens. Danny Wallace (autor do sucesso Yes Man) me fez cair de amores por seu humor britânico ácido, que esconde a imensa doçura de um personagem inteligente, sarcástico, apaixonado e recalcado.
Já vi em muitos romances a figura do melhor amigo acabar sendo mais carismática e atrair o público [mais até do que o protagonista], e neste caso não foi diferente. Eu me apaixonei por Dev - um fofo, engraçado e companheiro para todas as horas [certamente, a maior razão de Jase empreender a busca pel' A Garota]; vi também uma grata surpresa em Matt, alguém que eu não esperava encontrar por trás daquela aparência misteriosa e bruta.
"É o "E se"? O "E então"? E nós sabemos que, se formos atrás, e nos arriscarmos, imediatamente nos posicionamos para perder tudo isso. Mas uma parte de nós acredita que o sentimento é especial demais para não ser. Acreditamos que alguma coisa foi dividida, mesmo que a evidência seja... O quê? Um olhar que durou uma respiração mais longa do que o normal? Um segundo olhar, quando o primeiro poderia ter sido para checar se havia algum táxi vindo, ou se a jaqueta que estamos vestindo ficaria boa no namorado dela...?" (Jason Priestley, ainda o jornalista britânico)
Com amigos e estranhos, Jase transformou a busca pela Garota, com base em umas poucas fotos aleatórias de uma câmera descartável, em algo significativo, relevante e filosófico. Eu nunca avaliara a importância paradoxal das coisas descartáveis como Danny. O autor aborda a forma como estranhos podem tornar-se importantes na sua vida, discute a possibilidade; o agir x esperar o destino e ver se aquela pessoa vem até você. O que você viu existiu mesmo, ou só estava vendo coisas demais?
O livro é muito bom, mas não é perfeito.
Primeiro, um ponto que eu particularmente abomino em adaptações ao idioma é traduzir referências de outra cultura para o nosso ambiente - nesse caso, trocar libras por reais, no texto. Quando vou ler um livro estrangeiro, curto entrar de cabeça em uma cultura nova, mesmo que haja poucas diferenças; gosto de ver o mundo do outro lado, de ser desafiada a pesquisar e entender melhor a história, para rir o dobro quando estiver relendo.
"Ficar parado é retroceder, pois se você fica parado, o mundo passa por você, e isso é a mesma coisa." (Matthew Fowler, quer ser engenheiro de som)
Outro ponto que ressalto [e que fez o livro perder uma estrelinha] é o fato de o autor se estender demais em assuntos que poderiam ter sido desconsiderados; faltaram cortes. A história da busca pela Garota perdeu brilho para a lamentação por Sarah e deixou a desejar, do meu ponto de vista, apesar do final espetacular, que me emocionou demais. Eu desejava meios mais dinâmicos, vorazes, um jogo contra o tempo, baseado em tudo que ele sabia sobre ela.
O livro não tem tantos ganchos como um Riordan, mas alguns capítulos te impedem de esperar pelo outro dia para ler. Há tensão, perigo, amizade, momentos embaraçosos e hilários e reflexão sobre a vida e o amor, o destino e o impulso. E por favor... Leiam o livro todo, jamais o final antes, ok? É importante, porque vale a pena chegar lá ;-)
Você vai desejar dar uma volta no Nissan envenenado de Dev; vai se estressar com as descrições prolixas do mundo imaginário de Jase, um cara inteligente, romântico disfarçado e com grande talento na escrita, mas totalmente confuso com o rumo que sua vida tomou. Sobretudo, vai aprender a ver a diferença entre ter esperança e alimentar esperanças demais, e a reconhecer o amor nos riscos. Recomendado! Quero o filme!
"Eu sempre achei que se você não se arrisca, termina com absolutamente nada." (James Ward, operador de citometria de fluxo, casado há quatro anos e meio)
\\o Boas Leituras o//