Mia Fernandes 02/05/2020
Tudo começa com uma garota... (porque sim, sempre há uma garota)
Um livro que prometeu um mundo para mim, mas no qual eu só ganhei a Rua Charlotte Street. Através da capa e da ótima sinopse, eu teci inúmeras possibilidades para esta história, porque quando as coisas estão nas mãos do destino, momentos bons estão por vir. E eu acabei me decepcionando, porque a história se desenvolve com passos de tartaruga. O jeito introspectivo, depressivo, empacado do protagonista impediu de levá-lo a sério e de me empolgar novamente.
Jason Priesley é um homem na faixa dos 30, ex-professor, ex-namorado que acha que superou a sua ex, que divide o apartamento com o melhor amigo Dev, nerd fissurado em vídeo games retros, vivendo em cima da loja de videogames de Dev, e ao lado de um edifício que todos pensam ser um bordel, mas não é. Atualmente, ele trabalha como freelancer para um jornal gratuito, distribuído pelo metrô de Londres, escrevendo resenhas sobre qualquer coisa que passam para ele. Os seus textos são baseados mais no seu humor, do que no caráter jornalístico, ele não leva muito em consideração sobre o que está analisando. Apesar desta maneira transloucada de escrever, é neste seu distorcido senso crítico que saí as maiores pérolas da história, como “O brilho de Brigton” para denominar a revelação de uma nova banda inglesa. E também como a propaganda “Um pedaço da pizza do Paraíso” definindo um péssimo restaurante, mas que a boa crítica trouxe uma enorme publicidade para o local.
Mesmo não sabendo dar uma opinião coerente com aquilo que está apurando, Jason possui o dom da palavra, instigar as pessoas ao seu redor a seguir em frente, a lutar por seus objetivos, a como “agarrar o momento”. Ele é também aquele famoso ditado: Casa de ferreiro, espeto de pau. Porque ele mesmo não segue os seus conselhos, continua empatado na sua vidinha. Como se estivesse se desligado do mundo. Mas num dia rotineiro de pubs em pubs da Charlotte Street, ele a vê, uma garota atrapalhada cheia de sacolas e pacotes tentando pegar um taxi, neste momento, seguindo um impulso, ele para e vai ajudá-la com as compras, eles trocam um sorriso e olhar, e num piscar de olhos, o taxi já partiu, e o que sobre para Jason deste efêmero encontro é uma câmera descartável 35mm, dela.
Este encontro desperta dentro de Jason, a esperança, aquele momento que ele e o Dev sempre procuraram viver nas suas vidas. Mas a vida dele tem ainda muitos nós para se desenrolar, como: a sua não-superação em relação à sua ex, Sarah, no qual descobre através do Facebook que está noiva de Gary, que ela seguiu totalmente a vida; a sua insatisfação com o trabalho e poucas expectativas para um futuro promissor; e o seu amigo esquisito, Dev, seu único amigo depois da pós-vida Sarah.
Mas este encontro, a possibilidade de ser o TAL MOMENTO, de ela ser A GAROTA, faz com que ele gradativamente, abandone a sua toca, e aumente o seu circulo social, conhecendo novas pessoas – como a assessora da banda – se tornando uma pessoa que busca que se arrisca mais, e finalmente, uma pessoa que assume os seus erros e está disposto a resolvê-los. A parar de remoer o passado.
As fotos tiradas pela A Garota conta uma história em 12 poses, cada um mostrando onde ela saiu até chegar a ele. E o mesmo acontece com ele, que compra uma câmera, e partir de um filme começa a fotografar os momentos, a dúzia de instantes únicos que o levam para mais perto da nova fase da sua vida, a maturidade, onde com vontade e determinação, tudo é possível acontecer.
XOXO
Mia Fernandes.