Rodrigo 22/11/2012
Morte e sua capacidade de mudar o pensamento humano
Inicialmente devo enfatizar a beleza desta edição que possuo, é um relançamento da Coleção Novelas Imortais do ano de 1987, que por sua vez, fora organizada e apresentada por Fernando Sabino com um breve discurso nas primeiras páginas de cada obra, pela editora Rocco. Esse relançamento traz o selo Rocco Jovens Leitores, que possui a proposta de trazer, de uma forma leve, barata e bonita, clássicos da literatura dos séculos passados. O trabalho feito pela retina78 está realmente primoroso.
Sou um tanto quanto suspeito ao se tratar de literatura russa, por esse motivo a novela do até então desconhecido Leonid Andreiev, obteve créditos extras logo no primeiro momento da leitura. Nesta edição contém a introdução à americana, com explicações basilares para o correto entendimento da obra e o que ela almeja nos mostrar: isso é fundamental ao se tratar da literatura do leste, que difere em tantos aspectos com a cultura ocidental.
Em termos de conteúdo, de maneira geral, a obra aborda somente aqueles relacionados às penas capitais, que não são poucos, mas que não exigem do leitor grandes bagagens bibliográficas, até por se tratar de uma Coleção para apresentar aos jovens o vasto mundo da literatura. Trata-se das sensações que permeiam o limite da sanidade (acredito que em muitas situações esse limite está quase imperceptível) com a iminente chegada da morte, que é certa. Em uma passagem, onde determinada personagem afirma “como podia não existir a imortalidade, se ela já era imortal? De que outra e intolerável, de que outra morte poder-se-ia tratar, se ela já estava morta e imortal, viva na morte, como estivera morta em vida?” mostra claramente a justificativa para afirmar que o protagonista da obra é a própria Morte, ou o que esta pode fazer com a mente humana.
Por não ser um romance, não há espaço para conhecer profundamente cada personagem, ou não explicitamente, já que é mostrado grandes traços de cada personalidade, suas diferenças e adaptações, ou não, em situações-problema. Ao todo é uma excelente leitura, que se analisada a fundo traz sérios questionamentos da história mundial do passado e do presente, e a relativização da vida humana em tempos difíceis, ou no auge da globalização fundamentalista do mundo ocidental.
Trecho marcante: "O que sentia não era o medo da morte; a morte agora lhe seria bem-vinda. A morte, com todo o seu mistério e sua eterna incompreensão, era mais aceitável à sua razão do que esse mundo fantasticamente distorcido. Além do mais, a morte parecia ter sido destruída nesse mundo louco de fantasma e fantoches, perdendo sua importância colossal e enigmática, tornando-se algo mecânico, e apenas por esta razão, terrível...".