Vitória 01/04/2022
"O assassinato não existe. Nós é que criamos o assassinato e este só existe para nós."
Um excelente suspense policial que se aprofunda na investigação detalhada e na ciência comportamental, explorando as profundezas da mente humana e sua dualidade.
Dois massacres brutais fazem com que Will Graham volte à ativa e enfrente, mais uma vez, o lado sombrio da sua mente. E a partir daí temos um dos pontos principais da trama: com sua imaginação fértil e um raciocínio fugaz, Will é capaz de interligar as provas e ver detalhes que outros não percebem - e foi assim que ele conseguiu capturar dois assassinos em série antes, quase morrendo nas mãos de um deles. Mas essa habilidade tem um preço, e Will é assolado com pesadelos e pensamentos sombrios que fazem com que ele não se sinta seguro sobre si mesmo.
E, do outro lado, temos a história de Francis Dolarhyde, o Dragão Vermelho. Uma das melhores partes do livro, a narrativa constrói um personagem complexo e nos faz compreender como ele se tornou quem é a partir de uma infância traumática e trágica. Porém, mesmo com seus atos deploráveis e sua mente deturpada, surge um vislumbre de esperança em seu relacionamento com Reba, que põe em questão a luta interior entre sua humanidade e sua necessidade de matar.
O doutor Hannibal Lecter em si não aparece muito, mas, ao mesmo tempo, sua influência está presente em quase todos os momentos. Ele é o fantasma que assombra Will, tendo deixado nele uma marca tanto física quanto mental, sempre relembrando o agente de sua presença através de cartas e, ao longo da história, instigando o Dragão a atacar Will e aqueles que ele ama. Nas poucas páginas em que aparece, Hannibal rouba a cena com toda a sua terrível elegância e seu prazer sádico.
Focando mais nos aspectos psicológicos do investigador e do assassino, a narrativa tem um tom mais lento e, às vezes, muito detalhado, mas a tensão crescente conforme a investigação avança e o excelente desenvolvimento do Dragão valem a pena.