Rafaelle 10/05/2022MiddlemarchUm clássico é assim chamado por continuar dialogando com as pessoas 10, 50, 100 anos após ter sido escrito. São livros que não perdem o significado, que os problemas e questionamentos apresentados seguem sendo atuais geração após geração. Middlemarch sem dúvidas é um clássico. E um clássico que não apenas continua conversando com os leitores mais de 150 anos após sua publicação como também tem a capacidade de conversar de forma diferente com cada um que lê suas páginas.
Ler esse livro em leitura coletiva evidenciou a força que ele tem. Os debates mostram como cada um sente essa história de forma diferente, como cada núcleo toca cada leitor de forma única. Afinal, Middlemarch não é uma história só sobre este ou aquele personagem e sim uma teia de relações em que a vida dos vários moradores de Middlemarch são afetados um pelos outros.
A história que mais me tocou foi a de Dorothea Brooke. A personagem que deseja aprender mais, ser alguém útil e está limitada por sua condição de mulher na sociedade. A solução que ela vê é se casar com Mr. Casaubon, um homem cerca de 30 anos mais velho e que ela acredita ser culto e capaz de guiá-la na jornada do conhecimento. Família e amigos consideram o casamento uma péssima escolha, mas Dorothea se guia pelo que acredita ser o melhor. Casaubon, infelizmente, se mostra aquém do esperado por Dorothea e ela tem que lidar com a frustração. Ao mesmo tempo, vai se aproximando de Will Ladislaw, parente de Casaubon, um rapaz de alma artística e que começa a desenvolver sentimentos profundos por Dorothea.
Paralelo à isso acompanhamos Tertius Lydgate, jovem médico cheio de novas ideias e ansioso por implantá-las na pequena cidade. Seus métodos são vistos com receio pela sociedade local, mesmo com seus casos de sucesso. Ele pretende se dedicar à carreira médica e não se casar tão cedo até que conhece Rosamond Vincy, a bela filha do prefeito local, que parece ser a concretização de todos os seus ideais de mulher.
Ainda temos a história do irmão de Rosamond, Fred Vincy, um rapaz de bom coração mas indolente, que não se adequa à carreira escolhida por sua família mas também não encontrou nenhuma vocação ainda. Ele é apaixonado por Mary Garth, jovem sensata que tenta lhe incutir algum juízo e responsabilidade.
Middlemarch de fato é uma história sobre as pessoas que formam uma cidade. Além dos personagens mencionados, que são os que mais se destacaram para mim, temos muitas outras pequenas tramas se cruzando. Vizinhos, parentes e amigos, cada um afetando a vida do outro assim como acontece na vida real, cada decisão trazendo um peso muitas vezes maior do que se poderia imaginar.
Eu li esse livro com a certeza de que é um livro para ser relido. A riqueza de temas e nuances talvez não possam ser absorvidas com uma leitura apenas. E acredito que quando reler, talvez a mensagem que mais me marcou nessa leitura não seja a mesma da próxima. Eu concluí o livro fascinada por Dorothea e com uma lição aprendida: ser fiel a si mesmo. Não importa que Dorothea tenha feito escolhas questionáveis ou até mesmo erradas, ela agiu conforme acreditava e sentia. Sua fidelidade às próprias crenças e ideais mostram a força de uma mulher convicta que não abaixa a cabeça e nem cede àqueles que não entendem o seu coração. Embora precise aprender que nem sempre está certa em suas convicções, ela não perde a própria essência no processo. É uma personagem digna de admiração e que só a história dela já valeria o livro inteiro para mim. Todas as tramas me encantaram mas a jornada de Dorothea Brooke me extasiou.
Sempre vi Middlemarch sendo citado como uma obra prima e após a leitura só posso dizer que concordo com isso. Que livro!