dtabach 14/02/2020
Da importância das camélias para a sanidade mental
Duas inusitadas narradoras, uma zeladorta letrada e uma pré-adolescente superdotada, que são de certa forma, a mesma personagem (alter egos da autora?), em fases de vida e classes sociais diferentes. Ambas superinteligentes e observadoras, cada uma dá o seu jeito de lidar com a pobreza de espírito no meio da riqueza material que as circunda.
A mais velha, conformada em levar uma vida externa medíocre, compensa isso com uma vida interior clandestina enriquecida com toda a arte, cultura e filosofia que sua condição social permite acumular. Essa idossincrasia é o caldo para uma miríade de observações ácidas sobre as relações intersociais, mesmo entre indivíduos que, teoricamente, sabem lidar de forma madura e justa com as questões de classe.
A mais nova simplesmente desiste de viver, mas quer dar um mínimo de significado para o seu projeto de se matar, relatando, com sua visão simples e intuitiva, profundas questões existenciais, além de crônicas divertidas sobre os costumes da alta classe francesa.
Em suas elucubrações, ambas nos brindam com insights interessantíssimos, que vão desde resenhas de entretenimento (colocar na playlist: Chuva Negra, Dido e Eneas, As irmãs Munekata...), até belas reflexões sobre o significado da vida, a passagem do tempo e a importância das camélias para a sanidade mental, além de um guia bastante esclarecedor para apreciar naturezas mortas holandesas!
Sou um chorão inveterado em salas de cinema, mas isso não costuma ocorrer com livros. O final deste Elegância do ouriço quebrou a regra. Ótima leitura, muito instigante e tocante!