Andrea 07/08/2015
Bestialidade humana e o fantástico na figura do vampiro
Deixa ela entrar é um livro que fala sobre vampirismo e bullying de maneira crua, objetiva e, ouso dizer, bruta, sim, esse não é um livro para crianças, apesar de ser protagonizado por uma, e não é um livro para quem está acostumado com YA dentro das temáticas citadas acima. Nesse livro veremos a natureza humana desmascarada em toda a sua crueldade e bestialidade, não ficando claro para nós quem são os verdadeiros monstros, porque na verdade "de médico e louco, cada um tem um pouco"...
Oscar é um garoto de 12 anos que sofre de problemas urinários sérios e muito, muito nojentos, desculpem - me a digressão, mas as cenas em que ele mexe na "esponja" me causaram imenso nojo e pena também, eu só conseguia pensar: - Credo, tadinho! Ele vive sozinho com a mãe, pois seus pais são divorciados, e tem uma vida de merda, de MERDA mesmo, pois além de ter o referido problema urinário, Oscar é gordinho, quieto, bom aluno, introspectivo, com pais ausentes, logo, uma vítima excelente para o bullying, e aqui, minha gente, o terror físico e psicológico é extremo, as coisas que os "colegas" de classe fazem com Oscar, são horríveis, por falta de outro adjetivo, eles torturam o menino simplesmente pelas características que eu já citei! É rídiculo, revoltante e ainda assim, real.
No entanto, a vida do menino muda quando ele conhece "Eli" em uma pracinha próxima a seu condomínio, ele fica muito curioso porque a Suécia está sofrendo com o inverno mais rigoroso de sua história e a menina está descalça, com uma camiseta e só, sem falar na sujeira e no cheiro de podre que emana dela.... Sim, Eli é uma vampira-criança, possivelmente com a mesma idade de Oscar, ela existe em toda a essência do vampiro clássico: alimenta-se apenas de sangue, não pode expôr-se ao sol, não entende a humanidade e procura não ter contato com ela, não cuida de sua higiene, enfim, vampira. As duas crianças iniciam uma amizade estranha, porque em alguns momentos Oscar faz com Eli um pouco do que ele sofre na escola, o que nos mostra que ele não é uma criança legal, se você pensou - Coitado do menino! - bem, ele não é um menino "bonzinho", muito pelo contrário, a única diferença entre Oscar e seus algozes é que eles tem coragem de fazer suas maldades e nosso protagonista não. Sem falar que Eli diz não ser nem menino, nem menina, ela diz ser "nada", deixando o garoto muito confuso.
Além disso, nós temos a figura de Hakan, pedófilo que vive com Eli e a "serve" coletando sangue - matando pessoas e animais, não roubando bolsas de sangue em hospitais - que é de longe a criatura mais repulsiva que há nesse livro! Sério, acho q a única coisa que o salva é sua lealdade à Eli, a quem ele chama de "meu senhor"...
Outra coisa que é preciso dizer sobre Oscar, é que ele é humano, não é 100% bom ou mal, e em alguns momentos demonstra ingenuidade infantil, como no capítulo em que pergunta a Eli se ela quer "ficar" com ele, essa é uma das cenas "bonitinhas" entre os dois, que ajudam a quebrar a atmosfera lúgubre que permeia toda a narrativa.
Além dessas, há outras personagens nesse livro, outros focos narrativos, a história de Oscar e Eli é importante, mas não é a única. Vemos a cada capítulo o comportamento de determinada personagem e o que está acontecendo com ela, até que no fim, tudo é concluído em um final que nos deixa com a seguinte indagação: - O que acontecerá com Oscar?