spoiler visualizarerbook 16/01/2022
Viva o bom ócio criativo!
“Há um ócio criador,
há outro ócio danado,
há uma preguiça com asas,
outra com chifres e rabo!
Há uma preguiça de Deus,
e outra preguiça do Diabo!
E então, a moral é essa,
que mostramos à porfia!
Viva a preguiça de Deus
que criou a harmonia,
que criou o mundo e a vida,
que criou tudo o que cria!
Viva o ócio dos Poetas
que tece a beleza e fia!
Viva o Povo brasileiro,
sua fé, sua poesia,
sua altivez na pobreza,
fonte de força e Poesia!
Viva Deus, viva seu Filho...
E viva a Virgem Maria!
Mãe de Deus e nossa Mãe,
mãe do sonho e da alegria!”
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Nosso saudoso e grande Ariano Suassuna, paraibano, radicado no Recife, nos brinda em “Farsa da boa preguiça” com teatro de qualidade, inspirado na literatura de cordel. Nessa peça, Suassuna, com bom humor, distingue o ócio criativo daquele improdutivo. Católico praticante, não deixa de fazer alusão ao catolicismo incluindo na peça figuras representativas do Senhor, de São Pedro e de São Miguel Arcanjo.
Ariano tece críticas ao ateísmo em personagens como o casal Aderaldo e Clarabela, que não acredita em pecado e tampouco em virtudes; trai o marido e se torna uma pessoa fútil e sem valores.
O autor, por meio de sua arte, também apresenta aspectos da fome, pobreza e astúcia do povo brasileiro, sempre com bom humor. No enredo, o poeta e tocador de viola, Joaquim Simão, casado com Nevinha, não quer saber de trabalhar pesado, mas apenas de escrever versos, dormir e curtir música. Aderaldo, por outro lado, trabalha muito e é ganancioso por dinheiro.
Prefiro não contar as peripécias para não estragar o deleite dos leitores. Apenas leiam, pois a peça é de leitura rápida e agradável!