Vitor Hugo 29/04/2023
THIS IS AMERICA
Impossível dissociar o livro do filme homônimo de 1994, dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks, vencedor do Oscar de Melhor Filme.
No entanto, o Forrest Gump do livro, e o livro em si, é outro. Aqui o protagonista, embora também "idiota", como ele mesmo admite, apresenta-se de forma muita mais sarcástica, desnudando grandes instituições e eventos da história norte-americana.
Não há aqui um Forrest Gump simplesmente ingênuo, alheio às injustiças e contradições da sociedade norte-americana de sua época. Ao contrário, por meio de sua "idiotice", a personagem principal expõe as feridas da América, retratando a segregação racial, os absurdos da Guerra do Vietnã e os erros de grandes políticos norte-americanos (como, por exemplo, Richard Nixon, cujo nome não é mencionado, mas cuja descrição caricatural é inconfundível).
Por seu turno, o próprio Gump revela uma personalidade e um caráter diferentes daquele amável protagonista do filme, pois o Gump do livro se mostra muito mais atento ao que lhe cerca, além de cometer faltas e erros que não ocorrem no filme, como uma certa omissão em relação a sua mãe, o vício temporário em maconha e certa indiferença aos sentimentos da amada Jenny, quando, como por exemplo, insiste na babaquice das lutas livres arranjadas (outra "instituição" norte-americana), contrariando os desejos de Jenny.
Dito isso, é muito enriquecedor ler o livro após assistir ao filme (o que deve ter acontecido com 99% das pessoas), na medida em que é possível revisitar a obra cinematográfica com outros olhos, confrontando-a, enquanto "sonho americano" e "terra das oportunidades" (mesmo para um "idiota"), com outra América, igualmente verdadeira, mas bem menos resplandescente do que aquela da telona.
E isso é tudo o que tenho para falar sobre o assunto (não poderia deixar passar o clichê).