Flora 29/06/2015Comecei O Doador meio incrédula, um pouco cansada de livros de distopia, mas me surpreendi positivamente quando não consegui colocá-lo de lado. Com uma narrativa envolvente e uma história emocionante, o livro me cativou do começo ao fim, se diferenciando de todos os outros livros distópicos que eu já li.
O que fez O Doador se destacar pra mim foi o otimismo, característica que muitos livros do mesmo tema pecam muito. Não me entendam mal, não quero dizer que a sociedade é representada de uma forma feliz e que o fim é ótimo e satisfatório, em um enredo nada realista. Não, o livro consegue ser realista e otimista ao mesmo tempo… Vou explicar melhor.
Ao receber as memórias, Jonas percebe que a sua sociedade deveria ser muito mais do que é, e que o amor, cores, música, sentimentos valem muito mais a pena do que o medo de uma guerra. E que viver sem eles não é viver. Ao se deparar com essa verdade, Jonas não pensa em se rebelar e destruir a sociedade, a fim de fazer o mundo um lugar melhor, não, o seu objetivo é compartilhar suas memórias e mostrar suas experiências maravilhosas para todos.
E ele não pensa nisso por algum motivo egoísta, não é para salvar sua família, nem por ser oprimido pela sociedade ou por ser parte de alguma profecia ancestral. Não, Jonas quer compartilhar apenas pelo seu desejo altruísta de ver a felicidade em sua comunidade, se arriscando até o fim apenas por esse objetivo, sem hesitar ideologicamente.
Esse altruísmo foi o que me conquistou nesse livro. Já vivemos em uma sociedade opressora e terrível em vários países, e os livros desses temas não nos ajudam a ter qualquer tipo de esperança, já que são lidados com tanto pessimismo. Precisamos de um herói que nos inspire a querer ser melhores individualmente, que nos dê esperança na raça humana e que se sacrifique pelos motivos certos e não por razões egoístas.
Tem um texto MARAVILHOSO que eu achei no tumblr que fala exatamente o que eu quero dizer. Traduzi para vocês:
"Para ser honesta, eu acho que o meu problema com a tendência “sombrio e rancoroso!!” em histórias modernas é isso. Há uma ideia na nossa cultura de que cinismo é realista?? Que apenas crianças acreditam em finais felizes, que pessoas são inevitavelmente egoístas e que ver com mente aberta significa ver que o mundo é um lugar horrível.
Esse idealismo é… fácil, eu acho. Borboletas e pôr-do-sol e amor são coisas fácies de se ter na sua cabeça. Mas desde que eu tinha quinze anos, esse idealismo – fé na humanidade – otimismo – é a coisa mais difícil no mundo.
Eu luto constantemente para ter fé na humanidade, porque é muito, muito fácil de perdê-la. É fácil olhar para as notícias e pensar “O que você estava esperando? Claro que os humanos agem desse jeito.” É fácil olhar o mundo e falar “ugh, não há esperança aqui” e os anos que eu passei pensando assim foram fáceis, miseráveis, mas fáceis.
É um trabalho duro ver o bom das pessoas, é difícil ter esperança. É difícil manter a fé e amar e apreciar a beleza da vida diária.
E quando produtores de filmes e de séries ou escritores pensam “meu deus! todos os personagens são egoístas e agem pobremente e não se amam, nada que acontece é feliz ou bom, porque isso é muito mais realista, é muito mais adulto!”. Não, não é.
É infantil. É a coisa mais infantil que eu posso imaginar. Porque é fácil acreditar na desilusão. O difícil é ter esperança. Mostre-me algo corajoso o suficiente para ver o bom nas coisas, precisamos de histórias assim."
O Doador nos traz tudo isso com uma sensibilidade incrível. É maravilhoso acompanhar a jornada do protagonista, enquanto ele descobre novas coisas, das quais não é capaz de descrever. Me emocionei junto dele, quando ele descobriu o que era o amor e tive uma angústia inexplicável quando ele entrou em contato com a morte.
Uma característica única também é que a sociedade não nos é introduzida com os preconceitos de algum personagem ou com a visão maniqueísta da narração em primeira pessoa. Não somos apresentados todas as características terríveis do mundo e como a tão sociedade utópica está errada. Ao contrário, vemos a história de como Jonas vive nesse mundo, como se ele fosse um de nós, e vamos nos aprofundando nos detalhes da sociedade, conforme a vida do personagem vai sendo mostrada, o que nos dá uma visão imparcial muito necessária.
A narração nos envolve e nos coloca na mente de Jonas, mas não de uma forma complexa e cheia de floreios, é simples e prática, mas bem efetiva. Com apenas 12 anos, acompanhamos seu crescimento e sua inocência, em uma das jornadas de desenvolvimento de personagem mais incríveis que eu já li.
Um livro maravilhoso do começo ao fim que nos dá exatamente o que precisamos. Uma visão otimista da humanidade e um herói real, humilde e bom, com um enredo cativante e emocionante. Estou apaixonada e mal posso esperar para ler os outros da autora.
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