spoiler visualizarKorea 29/05/2024
Propositalmente desconexo
Um livro que conta a princípio duas histórias a cerca de uma região no Vale do Paraíba, interior de Minas e São Paulo, digo a princípio pois as duas histórias principais (de Sinhá Carolina e Joca) servem, de maneira até confusa, como ?pano de fundo? para várias outras histórias, sim isso mesmo, os protagonistas e a história principal, servem como cenário de diversos contos de estilo caipira, cheios de superstição e inocências típicas do morador interiorano.
É curioso e fascinante como a autora consegue te colocar naquele universo, e você sente o clima em certos trechos do livro, sente como é o café da manhã na roça, o festejar, até o temer, em certo capítulo, já no conto de Joca os homens começam a contar causos de terror, sobre espíritos, lugares assombrados e etc, cito este trecho pois me senti MUITO ambientado, como se eu estivesse ali com eles ouvindo as histórias e ficando com medo.
Quando digo que a obra é propositalmente desconexa, eu falo que a autora usa essa ?desconexão? como mais uma ferramenta de atenção do livro, exigindo que o leitor capte certos sinais e passagens, a leitura flui, mas as vezes flui muito rápido como um rio agitado, se você não prestar atenção, perde a toada.
Não descarto que isso tenha acontecido também por culpa minha, que leio fracionado, e frequentemente passo alguns dias sem ler quebrando o ritmo da leitura, mas depois percebi que realmente a autora conecta e desconecta coisas propositalmente, resgata mensagens e troca de cenários, narradores e personagens em foco sem nenhum aviso prévio, exigindo que o leitor procure as conexões, assim se atentando mais ao romance, destaco também o momento em que Joca iria se casar com Mariana, nesse trecho me perdi totalmente, quando vi Joca estava com Curiango, tive que ler algumas partes de novo, e me relembrar de certos momentos pra me situar.
Os contos são extremamente bem construídos, e tem diversos personagens marcantes que são descritos até de maneira repetitiva (porém benéfica), que criam no leitor um conhecer gigantesco a cerca das personas, dou como exemplo o Bugre, toda vez que o livro passa por ele, a autora descreve, e faz uma comparação sobre os trejeitos do homem, fixando na mente do interlocutor características do caipira xucro. A autora destaca como os moradores da região atribuem tudo ao extra-material, nada é por acaso, tudo é fruto de alguma misticidade, praga, algum motivo, desde o sorriso até o choro.
Também deixo avisado ao futuro leitor, que é uma obra repleta de coloquialidade e regionalidade (de maneira a ambientar a história), não digo que usa palavras difíceis, mas sim desconhecidas, pois a maioria você entende com o contexto, mas não conhece etimologicamente a palavra, o que exige um esforço pro entendimento completo, Ruth também usa muito de comparações e metáforas para ilustrar momentos, cálice que brilha igual sol, olhos como de cobra, corpo que flui como água no rio, entre outros.
Uma obra maravilhosa, mas que não dei a atenção que merecia e que PEDE, por isso repito, LEIA com atenção certifique-se que você sempre está por dentro e está acompanhando o fio narrativo.