Casa-Grande & Senzala

Casa-Grande & Senzala Gilberto Freyre
Edson Nery da Fonseca




Resenhas - Casa-Grande & Senzala


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Saracino 14/12/2012

Para ler Casa-Grande & Senzala

É bom que se leve em conta algumas coisas antes de iniciar a leitura deste clássico da história brasileira.
A primeira delas é a conjuntura mundial do momento em que Freyre viveu e pesquisou: No início do século XX o objetivo principal das pesquisas de todas as ciências é evidenciar a hierarquia racial, partindo da supremacia ariana até a marginalidade das raças negras. É no momento que Freyre escreve este livro que os discursos de Hitler atraem mais e mais ouvintes. Lembre-se então que Freyre (e nem Monteiro Lobato) não é preconceituoso no sentido que a palavra possui hoje. Na época em que viveram, estava em sintonia com os grandes pensadores do mundo todo.
A segunda conjuntura é a nacional: Vargas assume a presidência do Brasil e começa a incentivar que se criem sólidas bases nacionalistas. Para que haja nacionalismo, é pressuposto que haja identificação com a nação. Vargas inicia o árduo trabalho de inserção da cultura negra como parte da cultura nacional (o que era até então negado), o Brasil deixa de ser do Índio e do Português apenas para o ser também do Negro. O samba passa a ser exemplo da cultura nacional, a feijoada passa a ser prato típico, a mulata passa a ser símbolo de beleza e a capoeira passa a ser o orgulho nacional. Esta obra é parte deste processo.

Capítulo 1 - Características erais da colonização portuguesa no Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida.

Freyre inicia o capítulo fundamentando, com base nas teorias raciais predominantes de seu período, o sucesso da colonização do Brasil, de clima tropical, pelo português. O autor defende ser o português, de toda a Europa, o único povo capaz de se adaptar ao clima tropical sem "degeneração da raça", diferentemente do ariano.
O autor trata também da sensualidade portuguesa, do fetiche em relação à mulher bronzeada, como a muçulmana que ocupou durante tantos anos Portugal o que levou o português a sentir a mesma atração pela índia brasileira e logo inciar a mistura de raças. Freyre defende que o português, diferentemente da maior parte dos povos europeus, em sua cultura, é o povo menos xenofóbico, o povo que, apesar de ter grande intolerância à diversidade religiosa, agrega com facilidade a diferença racial.
Sobre a vinda massiva de degenerados para o Brasil, o autor chega a conclusão de que grande parte dos degenerados foram expulsos de Portugal por crimes religiosos, como adultério, que eram considerados mais graves que assassinatos.
Freyre aborda aspectos negativos da predominância latifundiária e de monocultura no Brasil, chegando a afirmar que o brasileiro em sua avidez pelo plantio de cana-de-açúcar, esquecia-se da necessidade de outros gêneros, como legumes e frutas, e passava fome. Esta má alimentação levou ao degredo racial de toda a camada média da população. Em compensação, o Grande latifundiário e o escravo negro escapam à deficiência nutricional, sendo que, o escravo escapa por possuir grande valor, não só o valor de sua compra, mas, por dele depender toda a produção de seu senhor.
Para concluir o capítulo, Freyre passa a desmistificar a hibridez apenas entre índios e portugueses, evidenciando a mistura entre negros e índios, índios e portugueses e portugueses e negros. Fala da sensualidade dos portugueses, da falta de tabu sexual entre os índios e da escassez de mulheres negras para mostrar como todos os povos tinham seus motivos para efetuar a mistura. Encerra com o ponto negativo, o rápido avanço da sífilis no povo brasileiro em formação.

Capítulo 2 - O índígena na formação da família brasileira

Qual é o papel do índio na cultura brasileira? Qual foi o relacionamento estabelecido entre indígenas e portugueses? Qual era o papel do homem, da mulher, das crianças e até mesmo dos homossexuais na sociedade nativa? Qual o papel desempenhado pelo jesuíta? Qual o resultado final deste encontro? São estas as principais questões que o autor tenta responder neste capítulo.
Segundo as pesquisas de Freyre, quando comparada a dos espanhóis e a dos ingleses, a colonização portuguesa não pode ser chamada de brutal, o português não é racista como os ingleses e miscigena, o português não é intolerante como os espanhóis e tenta converter os índios. Por isso, a cultura do índio influiu grandemente na cultura brasileira.
Abordando de maneira geral o capítulo, podemos dizer que Freyre atribui a caça, a pesca e serviços pesados ao homem, o plantio, a educação e afazeres da tribo à mulher, o trabalho místico e feminino aos homossexuais e ao pequeno índio cabia uma educação rigorosa que o preparasse para a vida adulta. Freyre ressalta a todo momento o misticismo existente na cultura indígena, o que influenciava nas cores usadas, nos adornos, nos nomes, nos costumes e até nos tratamentos das doenças.
Quanto ao papel "civilizador" do jesuíta, Freyre afirma ter sido um dos principais motivos da devastação da cultura indígena, submetia os homens à agricultura, o que levava a depressão e a morte, o contato direto também contaminava os índios com doenças trazidas da Europa, o que também levava a morte. Freyre afirma também o aumento da mortalidade infantil. Causando um lento extermínio dos índios.

Capítulo 3 - O Colonizador português: antecedentes e predisposições.

O autor retoma aqui diversos pontos trabalhados no primeiro capítulo. As motivações do português para a expansão ultramarina, a adaptabilidade do português ao Brasil. A força da Igreja Católica em Portugal (que no Brasil é substituída pelo núcleo patriarcal da Casa Grande). O autor fala do acolhimento de sangue estrangeiro pelos portugueses no Brasil (desde que o estrangeiro se dissesse católico). Trata de modo geral, neste capítulo, da maneira natural com que os portugueses encaravam a miscigenação e principalmente com a facilidade com que aceitavam interferências culturais (de índios, europeus, árabes e judeus).
Freyre passa a falar da deficiência da alimentação portuguesa, com base no peixe: "Colonizou o Brasil uma nação de homens mal-nutridos."(313), desnutrição que se reflete também no Brasil. Freyre justifica a vinda do escravo africano no Brasil como reflexo da constatação de que o Brasil não serve para o extrativismo bruto e sim para a o cultivo agrário da cana e de que nem o índio nem o português tem a força de ânimo para a execução de tal trabalho braçal exigido no cultivo agrário, concluindo o capítulo dizendo "que o Brasil era o açúcar e o açúcar era o negro."(342)

Capítulos 4 e 5 - O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro

A primeira afirmação do capítulo é a de que não exista brasileiro (mesmo o mais alvo e loiro) sem um vestígio de negro ou de índio. Informação esta que serve de base para a elaboração do capítulo cujo objetivo é mostrar a profundeza da influência da cultura negra (e um pouco da indígena) no povo brasileiro. Muito do capítulo 4 é especulação sobre as influências da alimentação nos caracteres genéticos, sobre se a miscigenação por si é degeneradora ou se essa degeneração se dá pela má alimentação (reflexo da condição social), fala sobre superioridades ou não de raça, influências ou não de raça. Ou seja, como já foi dito no prefácio, este capítulo é o mais perigoso de ser lido sem uma contextualização do período em que o livro foi escrito. No entanto, nas entrelinhas, por trás de todos os termos como braquicefalia e seiláoquecefalias, Freyre vai diluindo seu ponto de vista, ao mesmo tempo que apresenta argumentos de uma diferenciação racial, problematiza as condições sociais, valoriza a cultura do negro, critica aqueles que inferiorizam o negro. Junto a este tema, como que em uma complementação, o autor passa a mapear as etnias de negros vindo para o Brasil e fazer um esboço de sua cultura na África, mostrando que este surto de "história da África" que temos hoje no Brasil já era observado com curiosidade por estudiosos quase 100 anos atrás.
Ainda no capítulo 4, Freyre passa a abordar uma questão que achei interessantíssima: a sensualidade africana e mulata seria depravação natural deste grupo? Questão de inferioridade de raça como muitos cientistas apontam? Ou simplesmente consequência da escravidão? O autor argumenta incansavelmente em favor da tese de que a luxúria é resultado do autoritarismo da Casa-Grande e não da sensualidade da Senzala. Fruto do sistema escravista que autoriza um grupo a praticar quaisquer atos que queira em um outro grupo, resultando na banalização do ato sexual com escravas, as vezes ainda impúberes. Soma-se a isso o fato deste ato sexual poder trazer aumento de capital, afinal, a gravidez da escrava nada mais é do que um futuro novo escravo para seu senhor.
O assunto da sexualidade continua permeando o livro até seu término, no entanto, mesclado com outras questões interessantíssimas como a influência dos escravos que trabalhavam dentro da Casa Grande na vida da família dos senhores de engenho. Aqui vale a pena fazer outra observação. No prefácio do Fernando Henrique, ele critica Gilberto Freyre por este apresentar um relacionamento quase sem brutalidades entre senhores e escravos. Eu discordo desta opinião. Temos de lembrar que um dos objetivos do livro é mostrar a MISTURA, a INFLUÊNCIA, ou seja, não focar demais na SEPARAÇÃO, na RUPTURA. Freyre deixa em vários momentos bem claro o sadismo português em relação ao escravo e faz uma distinção bem clara entre o escravo 'quase-animal' que realiza o trabalho bruto do campo e que quase não é citado no livro por fazer parte da SEPARAÇÃO E RUPTURA e o escravo 'quase-gente' que realiza o trabalho doméstico ou nas ruas dos centros urbanos, este sim largamente trabalhado no livro por fazer parte da MISTURA e INFLUÊNCIA. Portanto, não é de se estranhar que o livro cite apenas uns casos de violência e sadismo e não trate com mais insistência deste assunto.
Freyre vai tratar ainda do amolecimento da língua portuguesa falada no Brasil, em consequência da influência dos escravos negros, dentro de casa, cuidando das crianças brancas. Das influência das negras contadoras de histórias. Passa a falar da educação, das crianças, livres em excesso nos primeiros anos, rígida em excesso após os primeiros sinais de amadurecimento (pequenos adultos, contidos, solenes, todo vestidos de preto). Fala também de professores negros, da educação dos padres. Volta ao tema da sexualidade para tratar da frequência com que religiosos criavam família no Brasil. Fala da precocidade com que as filhas dos senhores de engenho se casavam, da vida preguiçosa que as famílias da Casa Grande passaram a levar, resultado da diligencia com que os negros efetuavam todo o trabalho. Ao final do capítulo 5, Freyre faz um excelente trabalho sobre a influência da culinária africana na culinária brasileira. O livro termina falando, na última página, das doenças e mortes por suicídio, dos negros, reflexos dos abusos da escravidão.

Esta resenha não é nenhum ideal de resenha, devido à grande variedade de temas tratados nessa obra. No entanto, acredito que sirva para dar uma ideia geral do livro.

Ronaldo Silva 09/02/2021minha estante
Ótima contextualização


Mah 20/03/2021minha estante
Obrigada pela contribuição. Comecei a ler agora rs


Eraldo Macêdo 26/04/2022minha estante
Muito bom,obrigado!


Elizeu.Ferreira 30/01/2023minha estante
Não consigo abrir


Fabiana.Amorim 06/02/2023minha estante
Obrigada! Muito pertinente suas colocações!




Lista de Livros 26/07/2016

Lista de Livros: Casa-Grande & Senzala - Gilberto Freyre
“A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. Nem intransigentemente de uma nem de outra, mas das duas. A influência africana fervendo sob a europeia e dando um acre requei-me à vida sexual, à alimentação, à religião; o sangue mouro ou negro correndo por uma grande população brancarana quando não predominando em regiões ainda hoje de gente escura; o ar da África, um ar quente, oleoso, amolecendo nas instituições e nas formas de cultura as durezas germânicas; corrompendo a rigidez moral e doutrinária da Igreja medieval; tirando os ossos ao cristianismo, ao feudalismo, à arquitetura gótica, à disciplina canônica, ao direito visigótico, ao latim, ao próprio caráter do povo. A Europa reinando, mas sem governar; governando antes a África.”
*
“A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa; sem ela não se explicaria ter um Portugal quase sem gente, um pessoalzinho ralo, insignificante em número – sobejo de quanta epidemia, fome e sobretudo guerra afligiu a Península na Idade Média – conseguido salpicar virilmente do seu resto de sangue e de cultura populações tão diversas e a tão grandes distâncias umas das outras: na Ásia, na África, na América, em numerosas ilhas e arquipélagos. A escassez de capital-homem, supriram-na os portugueses com extremos de mobilidade e miscibilidade: dominando espaços enormes e onde quer que pousassem, na África ou na América, emprenhando mulheres e fazendo filhos, em uma atividade genésica que tanto tinha de violentamente instintiva da parte do indivíduo quanto de política, de calculada, de estimulada por evidentes razões econômicas e políticas da parte do Estado.”
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“No Brasil pode-se afirmar que nas áreas mais características o sistema da grande plantação foi, desde os primeiros anos de colonização, misto: pré-capitalista e capitalista, feudal e comercial. E também: criador de valores ao mesmo tempo que devastador do solo e dos homens.”
*
Mais em:

site: http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2016/07/casa-grande-senzala-formacao-da-familia.html
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Natalie Lagedo 12/06/2017

Não tenho formação em Ciências Sociais ou História, não consigo identificar em qual método de pesquisa o livro se insere e foi com esse olhar inexperiente que ingressei na obra de Gilberto Freyre. Nasci e vivi em meio à cana-de-açúcar. A casa dos pais de minha mãe fica onde já foi o antigo Engenho Almirante. Agora, onde está a casa de farinha, era a senzala. A casa-grande foi substituída por outra, construída em meados da década de 1950, por ocasião do casamento dos meus avós. Na infância, uma de minhas brincadeiras era procurar vestígios das histórias que meu avô contava. Encontrava pedaços de louça, de quadros, talheres, tudo soterrado pelo terreiro. Foi com a motivação de descobrir um pouco mais daquilo tão próximo a mim que iniciei esta leitura.

Mas quem é o brasileiro para Freyre? Ele fala do índio, negro e português com certo romantismo, explorando o aspecto econômico somente quando acha que é imprescindível para a compreensão da formação do povo. A arquitetura robusta das casas-grandes, a igreja familiar, o catolicismo lírico, a culinária fortemente influenciada pela africana, desigualdade na forma do vestir cotidiano e em público, dentre outros detalhes tão interessantes do passado são incessantemente procurados para justificar aquilo que somos.

Alguns estudiosos atribuem o caráter de uma nação ao clima; outros, ao desenvolvimento econômico; ainda há quem entenda que os caracteres físicos definem as pessoas. Para o autor, apesar de afirmar em alguns momentos que não se filia a nenhuma corrente extremista, é nítida a opção que faz ao defender que a maneira como os impulsos sexuais são tratados por uma sociedade a delineiam. Não que o negro (ao contrário da posição majoritária da época) fosse mais predisposto ao sexo, mas o sistema escravocrata os levava a isso, por condição de submissão ao branco. No entanto, Gilberto não faz de ninguém anjo ou demônio. Reconhece a bravura dos europeus desbravadores, a higiene e medicina indígena e a doçura forte e alegre dos negros, ao mesmo tempo em que cita os defeitos característicos das três culturas básicas formadoras do país. Eleva a mestiçagem a motivo se não de orgulho a pelo menos um fato comum na humanidade, não isolado do Brasil. Casa-grande e Senzala é um livro para saborear cada página, cada informação.
@ALeituradeHoje 12/06/2017minha estante
Amei a resenha! amei...


Natalie Lagedo 12/06/2017minha estante
Obrigada. :)


Hérico 12/06/2017minha estante
Boa resenha!


Natalie Lagedo 12/06/2017minha estante
Obrigada!


Thiago 22/07/2017minha estante
Você escreve muito bem Natalie! Muito mesmo!


Marco 26/10/2017minha estante
Parabéns pela resenha que me convenceu a iniciar a leitura da obra.


Daniel 24/07/2018minha estante
Excelente resenha!




Samira_santos 11/03/2022

Finalmente lido
Não saberia explicar bem o porquê, mas eu sempre quis ler Casa grande e Senzala. Talvez a aura de imponência que permeia a obra, ou alguma outra coisa. O fato é que finalmente li, de peito aberto, sem esperar demais e acredito que tenha conseguido fazer uma leitura proveitosa.
Gilberto Freyre fala de diversos temas, até os mais espinhosos, o que acaba sendo inevitável em um estudo sociológico do magnitude deste livro.
Fala sobre o processo de colonização; passando pelo forte caráter religioso da época; também aborda as ocupações daquele período, seus tipos e etc. Além disso, analisa aspectos da sexualidade dos indivíduos.
Me chamou atenção as considerações acerca da cor vermelha, ou encarnada como é colocada em alguns momentos, sem spoiler, mas achei bem curioso.
O livro traz citações em francês e italiano, eu acho, que eu não consegui entender, isso deixou a desejar.
Outro aspecto abordado por Freyre que me chamou atenção foi a colocação de como o brasileiro é por excelência o povo da crença no sobrenatural. Consegui entender como essa crença é arraigada, antiga e dotada de um papel tão determinante, no Brasil daquela época e também no de hoje.
Falando em abordagens que se destacaram, quero citar a tendência para o sadismo do Brasil colonial. Era algo que nunca tinha me ocorrido mas, lendo Casa grande e Senzala, pude perceber que faz muito sentido, não é exagero definir o Brasil colonial como sádico.
No mais, desconsiderei algumas passagens, por serem preconceituosas, ou mesmo inadequadas, mas também mantive em mente que não se trata de um livro escrito neste século, por isso dei um pouquinho de desconto. No geral, eu gostei, claro que não é a leitura mais simples do mundo, mas anda longe de ser tão inacessível quanto eu imaginava.
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mii.dprates 13/06/2021

Casa Grande e Senzala: por trás da miscigenação
O livro Casa Grande e Senzala do Gilberto Freyre, carrega tanto críticas como elogios. Ele tem uma influência da antropologia cultural norte americana. Rompe com o racismo científico que visa a justificar e consentir atitudes de discriminação e perseguição contra as raças que se consideram inferiores. A principal base do livro é a relação entre a Casa Grande e a Senzala, ou seja, vai englobar esse espaço de relação. Ele explica de onde vem essa cultura violenta e patriarcal que existe nos dias de hoje, os princípios do livro são construídos pela análise do Engenho Noruega. O autor transforma por exemplo a Escravidão brasileira sobre essa visão dualista: o branco extremamente mal e o negro sofredor, ele aborda de uma maneira mais complexa. A harmonização das relações raciais, é apresentada de forma positiva sobre as miscigenações, o livro sobressai inclusive as questões de formação de Portugal. O ponto que eu mais gostei foi em relação ao Patriarcalismo, que é a dominação do homem branco, do pater sobre todas as áreas: política, família, economia entre outras.


Todavia, é possível perceber que o autor expressa sua ideia de que esse domínio patriarcal não excluí nenhum indivíduo, mas sim domina. É extremamente discutido a sexualização das negras e índias, onde argumenta que a partir dessa relação carnal com essas mulheres foi o advento do Brasil. Somos frutos de uma intensa violência física e sexual. A ocorrência de uma miscigenação tão forte é explicada pela escassez de mulheres brancas na colônia (Brasil), assim a Igreja Católica, incentivou o casamento de Portugueses com indígenas (jamais com negros). Freyre disserta igualmente acerca da origem da opressão contra a mulher, como os homens cultivavam um sentimento de posse em relação as suas senhoras. A nossa realidade atual é apontada como produto do sistema social da época, escravocrata e patrimonialista. O nosso Brasil é a verdadeira Casa Grande- Senzala, com relações harmônicas, racismo velado, violência... é uma verdadeira herança cultural dos tempos de escravidão.
Thauam 13/06/2021minha estante
Pq você não avaliou?




Rafael 29/05/2021

A raiz ideológica da ?democracia racial?
"Essa coisa do racismo, no Brasil, é coisa rara. O tempo todo jogar negro contra branco, homo contra hétero, desculpa a linguagem, mas já encheu o saco esse assunto", disse o então presidente da República, Jair Bolsonaro, em entrevista exibida na Rede TV, em 07 de maio de 2019.

Seja entranhada na cúpula do poder oficial, seja presente nas conversas de bar, há muito predomina estruturalmente no Brasil a ideia de que brancos e negros convivem em harmonia, desfrutando iguais oportunidades de existência. Embora esse mito, conhecido como democracia racial, tenha uma de suas raízes ideológicas em "Casa-grande & senzala" (1933), convém lembrar, como bem destaca Silvio Almeida, que ele não nasce do acaso, mas dentro de um projeto de estado recém-industrializado, que demandava um discurso de unificação nacional voltado para naturalizar/invisibilizar as profundas desigualdades experimentadas pela já numerosa população brasileira.

Na obra de Freyre, a casa-grande, completada pela senzala, representa todo um sistema econômico, social, político. Nesse contexto, a formação brasileira é vista como fruto de um processo de equilíbrio de antagonismos (a cultura europeia e a africana; a africana e a indígena; a economia agrária e a pastoril; o católico e o herege; o bacharel e o analfabeto etc.), sendo o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo. Para o autor, a contundência desse antagonismo era amortecida ou harmonizada por algumas medidas, como a miscigenação ou o "embranquecimento" (movido pelas ideias eugênicas de Francis Galton, Freyre acreditava, assim como alguns de seu pares contemporâneos, que o gene ariano, entendido como superior, predominava sobre o negro, no entrecruzamento das raças).

A despeito das interessantes observações que fizera sobre alguns usos e costumes coloniais, e até sobre antecedentes e predisposições do português, Freyre lamentavelmente sustentou que a este não restou alternativa senão praticar a escravidão durante a colonização do Brasil.
comprido 09/11/2022minha estante
Achei estranha sua resenha, logo de inicio , mas logo depois eu achei bem interessante




BeatrizFonseca1 12/10/2023

Embora a obra seja critica por conta da suposta ideia que o escravismo brasileiro foi brando , é um ótimo livro, sobre a questão negra no Brasil, aborda o tema de forma bem explicada, argumenta que os negros tinham suas tarefas dividas e como eles eram excluídos da sociedade, fala da questão da estrutura da senzalas e como os escravos viviam nesse ambiente e como era seu dia-a dia e tal, obra maravilhosa
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Saulo.Tarso 01/12/2020

O livro tem sua importância histórica e poucas ressalvas
Casa-grande e senzala foi escrito pelo Sociólogo Giberto Freyre na década de 30. Foi muito importante para a construção de nossa imagem e identidade social como brasileiros, entendimento da grande importância de nossa miscigenação além de importante arquivo histórico. Hoje em dia sofre críticas (algumas delas muito justas) por relativizar temas como a escravidão. Mas temos que ter consciência que o autor escreveu a obra em outros tempos, outras realidades, outros entendimentos de certo e errado, outros pensamentos que hoje divergem do policamente correto. Apesar dessas poucas infelicidades do autor, é uma obra muito rica, vasta, complexa, e importante para quem quer conhecer mais sobre o Brasil.
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MateusCantele 13/12/2020

Uma excelente fonte de pesquisa com ressalvas importantes.
Gilberto Freyre demonstra de maneira muito bem fundamentada a realidade da relação entre a casa grande e a senzala. Entretanto, por favorecer a ideia de que o Brasil é formado por uma raça miscigenada ele enfraquece a ideia de racismo estrutural no Brasil. Claro que essa é uma visão anacrônica de minha parte. Por esse motivo, o livro é uma ótima fonte de pesquisa e fundamental para o entendimento do cenário que o Brasil esteve e permanece inserido.
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Geovana189 29/01/2021

Esse livro é super necessário para entender a mentalidade no período colonial. Me incomodei com os capítulos iniciais, e com forma de naturalizar o abuso de mulheres negras a partir da escrita, através de termos pejorativos nessa edição. No entanto, curiosidades sobre sexualidade, vivência e costumes do período fizeram a leitura ser enriquecedora para aqueles que buscam entender a dinâmica social no contexto descrito.
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Osório 16/10/2021

eu tenho um caso de ódio e gostar (razoável) pelo Gilberto Freyre, eu adoro alguns pontos desse livro, porque ele tem umas sacadas muito massa quanto a saúde, a escolaridade, a religião e etc do período colonial, mas ele é um escritor do começo do século XX, branco, que escreve para uma parcela elitista, "desvalorizando" a cultura negra e aborígene e sempre elevando a cultura branca, com aquele estereótipo ariano, como a única que vai trazer progresso para o país. ele vai subdividir o livro, falando sobre a cultura dos indígenas, mas vai sempre referenciar o branco como instrutor do índio, como se a colonização, o genocídio e a aculturação fossem um favor, na parte da cultura negra, ele termina sexualizando-os e colocando como inferiores e dispensáveis( é tanto que o nome dos dois capítulos são: o escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro), se referindo muito mais ao branco, do que ao próprio negro, como se fosse um povo dependente e sem cultura. mais me estressei do que gostei desse livro.
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Vivi 12/10/2021

Quando mais nova sempre odiei as aulas de história ( sempre eram umas velhinhas chatinhas e que davam sono ?). Anos luz depois olha eu aqui lendo um livro show de bola emprestado claro ( olha o medo de não gostar ?). E não é que gostei.

Gilberto Freyre foi um dos mais importantes sociólogos do Brasil, tendo construído uma obra inteiramente dedicada à análise das relações sociais no período colonial brasileiro e como essas relações contribuíram para a formação do povo brasileiro no século XX. Seu destaque deu-se por defender uma teoria de que a miscigenação formaria uma população melhor e mais forte, ao contrário do que pensavam as teorias etnocêntricas, higienistas e eugênicas dos antropólogos e intelectuais do século XIX e XX. ( fonte google)

?Em 1933, após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre publica "Casa-grande & Senzala", livro que revoluciona os estudos no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade literária. É considerado o livro capital da cultura brasileira. Passados 80 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura, mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela mistura de raças e culturas. A atual edição possui introdução de Fernando Henrique Cardoso.

? Os sonhos de riqueza dos portuguêses
? A formação social/ racial e os benefícios dessa mistura: Brancos, índios e negros.

? A adaptação dos portugueses que ao contrário do que poderia imaginar passou por etapas. E foi o maior motivo de aqui ficarem

? O açucar era o fator principal para os negócios na época. Fora os escravos.

? A violência com os negros e indíos.

? Casa Grande era o local de grande poder e tudo que acontecia ambito social e econômico eram resolvidos nessas casas.

? Na época haviam poucas mulheres. Português se misturaram com índias mesmo a igreja sendo contra. Ele pega também a parte religião / jesuítas e a lavoura e as doenças que eram passadas.

? A luta pela sobrevivência dos negros e os maus tratos das sinhas com os filhos de escravos. A raiva eram descontadas neles.

?Várias pesquisas, referências e notas que ajudam na compreensão da obra.
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Agnes.Camargo 03/05/2022

Histórico
Não há como falar de outra maneira seja de ?Casa Grande e Senzala? como de Gilberto Freire.
O livro data de 1933 - como uma extensão de seu mestrado - por isso deve-se relevar determinados escritos que à época era o que estudavam e assim
davam como certo.

Passaram-se 90 anos de sua primeira edição, Gilberto Freire mergulhou na colonização brasileira de forma inigualável.

Há muito o que se relevar, como disse, mas há muito do que se concordar e muito ainda que se explorar cada dia mais. O apagamento dos povos originários, a escravidão como um todo, desde a captura dos povos até às mais sutis formas como foram escravizados, como foram aos poucos apagando a cultura africana, como demonizaram os povos originários.

O livro é denso, mas é muito válido. Incrível para quem quer ter os olhos atentos de 2022 para lê-lo como deve ser lido um livro de 9 décadas.
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Larissa 28/03/2016

Genial
Este livro é um divisor de águas no meu entendimento sobre o Brasil. Confesso que fiquei receosa de começar a lê-lo, já que sou leiga no assunto. Porém, entendo que a narrativa romanceada do tema faz com que qualquer pessoa consiga entender, e mais: ficar viciado no assunto.
Fiquei com um gostinho de quero mais, visto que o final ficou no ar (?!). Não vejo a hora de ler Sobrados e Mucambos, e após, Ordem e Progresso!
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