Kamilla 17/02/2021Aquele ship destinado a dar erradoUm livro que divide opiniões a respeito de vários de seus aspectos, desde a personalidade da heroína até se o livro de fato tenta 'criticar' a escravidão, os aspectos que ele critica na sociedade inglesa.
Não consegui ler o livro puramente como 'a história da Fanny', de certa forma, ela serviu mais como o ponto de vista, o olhar exterior para o processo de degradação de uma família que aparentemente era um modelo de virtudes para a época.
O tom do livro é mais sóbrio do que os demais romances da autora, a crítica feita do ponto de vista de Fanny é menos irônica e bem humorada do que um leitor dos livros de Jane Austen está acostumado, até porque Fanny é uma clássica introvertida e tem diversos problemas de timidez e baixa auto estima, dessa forma, as narrativa é marcada pela sua angustia, pela sua passividade, que pode apenas observar a degradação se infiltrando no seio da família sabendo que não tem nada que ela possa fazer para impedir o processo.
Sinceramente, em nenhum momento levei o casal Fanny e Edward muito a sério, o amor dela estava tão infestado de gratidão e ilusão, era mais uma obsessão de uma menina que ficou extremamente grata pelo carinho que o primo demostrava para ela em um ambiente frio e hostil, não acho que era o amor de uma mulher madura, enquanto Edward foi realmente apaixonado por Mary, Fanny foi a escolha que ele fez para ter uma mulher estável e segura, de certa forma educada por ele, para viver de acordo com os princípios dele, alguém que nunca vai decepcioná-lo ou discordar dele.
De certa forma, ainda acho que Henry teria sido um par melhor para Fanny, até a autora em determinado momento informa como as coisas poderiam ter dado certo entre eles, e esse seria o final perfeito para mim, mas lógico, a partir do momento que a escolha dela foi fazer o casal Fanny e Edward terminar junto o personagem restante do triângulo amoroso seria empurrado a fazer algo imperdoável, para transforma-lo em um par inelegível e acabar com os obstáculos para o casal principal. Eu sinceramente não acho que a fuga do Henry com a Maria faça sentido para o Henry naquela altura da história, mas esse foi o recurso que Jane Austen resolveu utilizar.
Mesmo com o ritmo lento e introspectivo, considero um dos melhores livros na Jane Austen, Mansfield Park deixa uma pista do tipo de histórias que Jane Austen continuaria escrevendo se tivesse vivido mais tempo e me faz lamentar muito o fato de ela ter tido tão pouco tempo de vida.
Ps: Esse livro também merece uma adaptação que faça justiça a obra.