pimet800 11/03/2021
Arrancaram-me da masmorra para levarem-me ao suplício
(Edição Pé da Letra - Clássicos da literatura brasileira)
Sobre a edição, o que posso dizer é que ela é direta ao ponto: sem prefácio, apresentação, posfácio, notas de rodapé etc. Trata-se do texto bruto. Os problemas que tive foram relacionados mais à diagramação do que com a revisão do texto em si, pois, principalmente em algumas cenas de diálogo, estes ficaram dispostos num mesmo parágrafo (creio que para economizar espaço, ainda que não seja esta uma edição de bolso), o que às vezes dificultou o entendimento sobre quem dizia o quê. Fora isso, apenas alguns erros de digitação, como por exemplo o emprego do sinal agudo em alguns pontos em que se deveria utilizar o sinal gráfico grave.
Sobre a história, Isaura é uma cativa branca, fruto do relacionamento do feitor da fazenda com uma escrava mulata, de propriedade do Comendador Almeida. Desde seu nascimento, Isaura atraía "por sua graça, gentileza e vivacidade toda a atenção e solicitude" da esposa do Comendador. Por sua beleza, candura e generosidade, além de outras virtudes, foi criada na casa grande, o que despertava inveja de uma parcela de escravos que vivia na senzala. A esposa do Comendador criou Isaura como uma filha. O comendador ainda teve outro filho, Leôncio, o verdadeiro algoz da escrava.
Como a maioria dos romances desta época, tem-se na figura de Isaura uma personagem apaixonante, por quem vários outros personagens irão travar incansável disputa, como é o caso de Leôncio, Belchior, o jardineiro, André, pajem do feitor, Henrique, cunhado de Leôncio e outros.
O que mais chama atenção, entretanto, é a relação do personagem Álvaro na luta abolicionista. Álvaro surge na história a partir da metade final do livro. É um ferrenho defensor da liberdade dos escravos e, inclusive, é dito que este deu liberdade a todos os cativos herdados de seus familiares, além de proporcionar-lhes uma área da fazenda em que poderiam viver, plantar e trabalhar, para que, assim, conseguissem prosseguir com suas vidas longe da pobreza e das mazelas a que eram submetidos os recém-libertos.
Tendo em vista que o romance foi escrito mais de uma década antes da abolição da escravatura no Brasil, a leitura é importante para se ter uma ideia, ainda que romantizada, de como eram tratados os escravos, de seus sofrimentos, de sua insignificância, da tirania de seus senhores e da normalização com que parte - ou boa parte - da sociedade via a escravidão de um modo geral.
Leitura recomendada!