Marina 24/11/2012Já faz um bom tempo que tenho este livro, e me lembro até hoje de como descobri a obra de Yann Martel: eu tinha lido Cabeça Tubarão, do Steven Hall (recomendadíssimo, aliás), e depois fui fuçar em uns fóruns de discussão sobre o livro, que é cheio de interpretações, mensagens sutis, referências, etc. Bem, neste fórum várias pessoas citaram "A vida de Pi", numa comparação da obra do Steven Hall (elas em nada se parecem, apenas no final, que obviamente não vou dizer o que é). Tantas pessoas comentaram que fiquei curiosa, e fui atrás do livro.
A premissa não decepciona: Pi Patel, um garoto indiano, está de mudança para o Canadá com a família em um navio, que leva também animais do zoológico de seu pai que foram vendidos. O navio naufraga, e Pi consegue escapar num bote salva-vidas. O problema é que há outros sobreviventes no bote: uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de bengala. Já no início os animais matam uns aos outros, sobrando apenas Pi e o tigre, o que faz com que o garoto tenha a tarefa não só de tentar sobreviver ao naufrágio no meio do oceano pacífico, como também sobreviver ao seu companheiro de bote, um animal selvagem.
O desenrolar do livro é simplesmente sensacional. Yann Martel constroi tão bem o personagem de Pi (que é o narrador do livro), que ele se torna quase palpável. Você sente a tensão, a solidão, e todos os sentimentos que ele parece transmitir. Em momento algum do livro a parte do naufrágio se torna tediosa, pelo contrário: a angústia só vai crescendo, e você sempre quer saber o que acontecerá no dia seguinte.
O livro só não é perfeito pela sua introdução extremamente longa (razão pela qual dei 4 estrelas e não 5). O enredo, dividido em três partes, só alcança o naufrágio na segunda parte, sendo a primeira destinada a contar a vida de Pi no zoológico do pai e de suas crenças religiosas. O assunto é interessante, e há um porquê disso ser descrito. As explicações sobre o comportamento e o instinto dos bichos casa com os acontecimentos de animais confinados num bote e a convivência de Pi com eles, assim como as crenças de Pi se tornam um fator crucial na sua luta pela sobrevivência. Religião, aliás, é um tema muito presente na estória, e gostei bastante da abordagem de Martel, mas ainda assim, a parte inicial se arrasta e se alonga sem necessidade.
O final é para arrematar com chave de ouro. Eu sou bem chata em relação aos finais dos livros, raramente algum me impressiona, seja porque já é o caminho esperado, por ser previsível ou anti-climático. Mas a terceira parte e desfecho de A Vida de Pi me deixou mais que satisfeita.
Estou ansiosa para ver o filme de Ang Lee baseado nesta obra, mas tenho certeza de que nada será tão bom e tão rico em detalhes quanto o livro. A Vida de Pi é, sem dúvida alguma, um must read e Yann Martel já entrou para a minha lista de escritores para se acompanhar. Uma excelente referência saída de outra excelente leitura. Win-win.