Fernanda631 18/11/2022
O Lado Bom da Vida
O lado bom da vida, foi escrito por Matthew Quick e publicado em 2 de setembro de 2008.
Narrado em primeira pessoa pelo próprio Pat, O Lado Bom da Vida é fácil de ser lido. Os capítulos são curtos e dão velocidade à história, que flui de maneira muito tranquila. O que mais deixa o leitor curioso é entender o que aconteceu entre Pat e Nikki – pois é evidente desde o início que o personagem vive um grande delírio em relação à possibilidade de voltar com a ex-esposa.
Pat arma um plano perfeito para que ele consiga se reaproximar de sua esposa, mesmo sem saber o porque de eles estarem separados e com isso, ele emagrece 25 kilos e faz exercícios todos os dias, começa a ler todos os livros de romance que Nikki adorava, mas ele nunca lia por não achar “legal”. Ele quer se tornar o marido perfeito, tudo o que ele aparentemente não era quando eles eram casados.
A história trata de Pat Peoples, um ex-professor que está saindo de uma temporada internado em um hospital psiquiátrico e voltando para a casa dos pais. O motivo? Bem, nem ele mesmo se lembra direito. Ele só sabe que sua esposa Nikki queria ficar um tempo longe dele e agora ele precisa reconquistá-la. Precisa ficar bem novamente para poderem retomar as coisas.
Apesar da fluidez da narrativa, muitas passagens do livro são cansativas e repetitivas. O livro é muito focado em Pat tentando conseguir sua sanidade de volta enquanto busca reconstruir suas relações. A mãe e o irmão o apoiam incondicionalmente, mas o pai é um homem rude que mal lhe dirige a palavra. A única coisa que os dois tem em comum é a paixão pelo time de futebol americano Eagles, e esse é um aspecto de grande importância na trama.
Em contrapartida, é muito bacana o modo como o autor constrói um protagonista com evidentes problemas psiquiátricos com tanta leveza, por mais que ele aborde assuntos difíceis. O único problema é que, por mais que Pat seja carismático, ele também é irritante – especialmente quando insiste na ilusão de que sua vida é um filme e que o final feliz está esperando por ele. Porém, como o livro se passa inteiramente sob a perspectiva do protagonista, acabamos simpatizando com o personagem (que tem um bom coração) e torcendo para que ele consiga se curar das feridas emocionais que o assombram.
Seu melhor amigo Ronnie que para tentar ajudar Pat, o convida para um jantar em sua casa e chegando lá, ele conhece a misteriosa Tiffany, cunhada de Ronnie, uma mulher muito bela mas que também tem alguns “parafusos” a menos na cabeça, fazendo com que, talvez, no meio de tantas loucuras, nasça uma improvável amizade.
Ele vêm tentando juntar os pedaços de sua memória, tentando montar o quebra-cabeça que sua vida se tornou. Sua única certeza é que ele acredita nos finais felizes, no amor e no lado bom das coisas. E como já diz a mundialmente famosa citação, ele está tentando ser gentil ao invés de ter razão. Ao mesmo tempo, Pat se tornou viciado em fazer exercícios físicos, seja para aliviar a tensão e a ansiedade, seja para tentar melhorar seu corpo.
É durante uma de suas corridas matinais que ele percebe a presença de uma pessoa correndo com ele: Tiffany, sua vizinha, que já tinha sido apresentada a ele num jantar entre amigos. Ela é depressiva e incompreendida pelas pessoas ao seu redor e se aproxima de Pat de uma forma um pouco rápida demais, mas os dois se entendem e se compreendem de uma maneira que o resto das pessoas não consegue fazer. Eles começam a sair e conversar e Tiffany escuta mesmo quando Pat só consegue falar de Nikki sem parar.
Apesar de ser um livro muito divertido e de leitura fácil, quando pensamos sobre a história, percebemos que ela é um pouco mais sombria do que o autor deixa transparecer com seu estilo bem humorado de contá-la. É profunda e complexa e seus personagens são muito bem construídos em cima de suas próprias histórias catastróficas.
Algo que se sobressai é que todos ali enfrentam problemas, seja em maior ou menor escala. E podemos acompanhar isso de perto, pela visão um pouco inocente de Pat. Ele foi diagnosticado com transtorno bipolar, apesar de esse não ser o foco do livro. Depois de muito tempo no hospital, ele passa a considerá-lo um lugar ruim e quer desesperadamente sair dali. Uma de suas principais motivações quando chega em casa, inclusive, é que ele não quer voltar para o lugar ruim.
Seja como for, a delícia de se ler O Lado Bom da Vida é justamente poder acompanhar como Pat começa a lidar com as coisas de uma forma leve. O livro todo, aliás, é escrito de forma muito leve, com capítulos mais curtinhos que tornam a leitura bem dinâmica. Quick escreve de forma fácil de ler e que nos impulsiona sempre a continuar. É possível acabar a leitura em um dia.
Sendo uma leitura fácil, é possível também apreciar a relação de Pat e Tiffany crescer e se aprofundar. Tanto quanto o auxilia, Tiffany se apaixona por ele, em um nível tão grande que passa a escrever cartas para ele fingindo ser Nikki. Isso faz Pat criar ainda mais esperanças de reatar seu relacionamento e mostrar a ela que mudou e que sente muito a sua falta.
Sob o mesmo ponto de vista, vemos também o quanto Pat idealiza Nikki. Talvez pela falta de memória, talvez pelo sentimento de culpa de não ter dado tanta atenção a ela quando estavam juntos. O fato é que ele enxerga uma mulher que na realidade não existe, porque Nikki o traiu e o abandonou, apesar de Pat não se dar conta disso e nem se lembrar do porquê. Esse mistério existe não apenas para ele, mas para o leitor também.
Algo ruim no livro, posso acrescentar que a ingenuidade de Pat às vezes pode ser muito irritante. Apesar de saber que isso se deve a problemas psicológicos e de que ele está em tratamento.
De uma forma muito, muito leve, Matthew Quick é capaz de discorrer sobre as possibilidades infinitas da vida, sobre saúde mental, sobre as rasteiras que levamos ao longo de nossas vidas, sobre se levantar e por vezes cair novamente. Mas, principalmente, ele nos dá uma lição sobre nunca desistir.
O Lado Bom da Vida não é um livro que tenha muita ação ou muitos acontecimentos marcantes, mas, sem dúvidas, é um livro que nos faz refletir amplamente e nos deixa contagiados pela positividade de Pat. A leitura é muito gostosa e, apesar de o tema ser um pouco sombrio, nos proporciona uma sensação de esperança.
No livro vemos pessoas que apesar de não serem compreendidas, são apenas seres humanos como nós, tentando encontrar o seu lado bom da vida.