Blog MDL 13/09/2013
Simplesmente surpreendente!
Julia deixa sua cidade natal e parte para Toronto em busca da realização de um de seus maiores sonhos, que é ser especialista em Dante Alighieri. Apesar de todas as dificuldades que enfrenta por estar em um lugar desconhecido com pouco dinheiro, ela não pensa sequer na hipótese de desistir. Nem mesmo quando o misterioso Gabriel Emerson, um famoso especialista em Dante, e seu professor de mestrado, deixa bem claro na frente de toda a classe, que sua presença em suas aulas é mais do que inconveniente, é simplesmente insuportável. Ainda que profundamente humilhada e magoada, ela continua a frequentar o curso na esperança de que um dia tenha seu valor reconhecido e tenta não ceder aos caprichos de Gabriel que a quer fora de sua vida. O que ela não sabe é que ela desperta nele a estranha sensação de familiaridade, e que por já ter se auto-condenado ao Inferno, ele não acredita em mais nada que não seja na sua própria culpa, nem mesmo que ela e seu ar de anjo possam retirá-lo da danação eterna.
Narrado em terceira pessoa o autor disponibiliza para o leitor o ponto de vista não só de Gabriel e Julia, como também, dos demais personagens que os cercam. Contudo, o que a princípio pode se mostrar como um distanciamento do leitor e dos personagens, no decorrer da narrativa mostra-se algo favorável, já que com diálogos bem construídos e com a possibilidade de saber cada lado da mesma história, é possível se conectar com todo o universo criado pelo autor. Não vou mentir para vocês e dizer que a história é de fácil leitura, porque não é, por vezes você se sente um intruso, alguém que não deveria estar ali sabendo de todas aquelas coisas – que em alguns momentos chegam a ser extremamente espantosas –, mas com o decorrer da trama você acaba se acostumando com os segredos dos personagens e se conformando com algumas atitudes deles.
Não vou dizer todas as atitudes, porque se teve uma personagem que me irritou muito no livro foi a Julia. Ela é daquele tipo em que é passiva quando deve ser ativa, e ativa quando deve ser passiva (juro que não estou fazendo nenhum trocadilho infame de cunho sexual - risos-). Além do que, me senti um pouco incomodada com o jeito dela de quem ruboriza com tudo e fica sempre olhando para baixo como se fosse uma criança e não uma mulher de 23 anos. Sério, apesar de o Gabriel ser problemático, eu pensei: “Uau, como ele aguenta essa garota?”. Porém, foi com certa relutância que no final eu tive que admitir que por mais que ela tivesse me chateado, ela foi maravilhosa com o Gabriel e o fez vislumbrar um novo caminho para sua vida.
E por falar em Gabriel é válido dizer que ele vive no melhor estilo Bon Vivant, pois mesmo enfrentando vários problemas e escondendo segredos escabrosos, ele não perde a oportunidade de desfrutar as coisas boas da vida. E foi justamente essa dualidade no seu modo de viver que me deixou intrigada com relação a ele. Sei que muitas pessoas não vão gostar dele porque às vezes ele tem picos que só posso nomear como sendo de bipolaridade, porém apesar de sua controversa, ele é um personagem original e que superado as primeiras cem páginas, torna-se extremamente cativante. Acredito que eu teria gostado menos dele se ele tivesse permanecido com sua postura de “eu não estou nem aí para o mundo”, mas a mudança exercida por Julia, credita a ele certa vontade de viver que acaba revelando todo o charme que ele possui.
Boa parte do encantamento que me manteve cativa na história se deve ao fato do autor ter explorado muito bem o livro “A Divina Comédia”, do italiano Dante Alighieri. Como eu já tinha lido o livro, gostei da abordagem e da forma como trechos do livro foram citados na história, bem como, do importante papel que Dante e Beatriz tem no decorrer da trama, apesar dos personagens não pertenceram a Sylvian. E como se não bastasse explorar essa obra-prima, o leitor ainda tem a chance de conhecer vários autores da literatura clássica que são citadas na história, como também, ver através dos olhos de Gabriel e Julia obras de arte que vão desde quadros e esculturas a exposições da época renascentista. E para fechar esse banho de cultura que o autor mescla com sua história original, temos ao decorrer do livro, uma playlist de tirar o fôlego, artistas como Mozart, Edith Piaf e Andrea Bocelli, acrescentam ao enredo certo romantismo que nos envolve mais e mais no decorrer das páginas.
Principalmente, porque todo esse universo da literatura e das artes é explorado de forma adjunta ao romance que ocorre entre Gabriel e Julia. E dessa forma o romantismo é predominante na maior parte do livro. Contudo, quando falo em romantismo, eu não falo em apelo sexual de forma crua e sem nexo, porque ao contrário do que imaginei quando comecei a ler o livro, o autor soube explorar a sensualidade dos personagens sem fazer disso a parte principal de sua história, tanto que não vemos uma cena de sexo em nenhum lugar que seja, antes das últimas 50 páginas finais. Por isso posso dizer com sinceridade: comparações com outras séries do gênero hot são completamente infundadas. E por mais que possa ser estranho admitir isso com toda a moda literária em cima do gênero, foi justamente por “O Inferno de Gabriel” seguir outro caminho que eu me apaixonei pela história e não hesito em dizer para vocês: LEIAM! LEIAM! LEIAM!
site: http://www.mundodoslivros.com/2013/03/resenha-o-inferno-do-gabriel.html