Um artista da fome / A construção

Um artista da fome / A construção Franz Kafka




Resenhas - Um Artista da Fome / A Construção


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arthur966 13/06/2022

a construção oferece, com efeito, muita segurança, mas absolutamente não o suficiente; acaso cessam nela para sempre as preocupações? elas são outras, mais altivas, mais ricas de conteúdo, o mais das vezes amplamente reprimidas, mas o seu efeito devorador é talvez igual ao das preocupações que a vida lá fora apresenta.
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Gabriel.Larrubia 20/07/2022

Não sei o que escrever! Mas quanto mais leio Kafka mais gosto de Kafka... Faz muito sentido os últimos escritos da vida dele serem um balanço sobre arte, a relação dele com a arte, da arte dele com o mundo, e em decorrência dele com o mundo etc etc... Muito massa construção terminar como termina, assim como carta ao pai, meio abrupto, provavelmente não terminado, porque até agora foram os dois escritos que mais parecem girar em torno do inconsciente... E é realmente uma relação complicada de se construir sozinho. Enfim! muito bom mesmo fiu fiu talvez meu preferido até agora. Tenho a impressão que o absurdo em metamorfose e o processo são muito diferentes do absurdo aqui, sendo o primeiro um estranhamento muito crítico do funcionamento do mundo e o último só as contradições que se é preciso lidar de qualquer jeito vivendo... Mas também tenho uma impressão de uma destrutividade muito forte nos fins dos contos... Pode ser só impressão também! Cada frase vale muito ser pensada nesse livro... Quero muito pensar nos elementos do último parágrafo do artista da fome...
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lucasfrk 22/10/2022

Um artista da fome / A construção ? Resenha
As densas obras kafkianas nos auxiliam a refletir sobre as contradições do mundo moderno ao apresentar elementos que tornam clarividentes os processos constitutivos da subjetividade humana. Suas narrativas parecem explicitar os paradoxos da condição humana, conseguindo, portando, captar aspectos da gênese social do indivíduo. Quando evoca imagens animalescas, Kafka cria espaços alternativos, possibilitando uma concepção de humanidade produzida no cerne de uma sociedade que banaliza a injustiça e se submete às frias ações da indiferença. Ao tensionar a dimensão humana e animal através de sua escrita invertida, Franz Kafka estilhaça as imagens falsárias de um mundo que naturaliza práticas desumanas.

As narrativas reunidas no presente livro ? composto de quatro contos escritos entre os anos de 1922 a 1924, e uma novela ? estão entre as mais fortes e originais escritas pelo escritor tcheco, no derradeiro momento de sua vida. Capitaneadas pela potência da experiência, do humor e do mistério, essas histórias se apresentam como uma meditação poética que encontrara sua forma artística plena na evidência da contemporaneidade. Os clássicos como ?O artista da fome? (1922) ? título de seu último livro de contos, publicado pouco antes de sua morte ? e ?Josefina, a Cantora?, bem como ?Primeira dor? (1922) e ?Uma mulher pequena?, há mais de meio século participam do repertório universal do conto contemporâneo com o crédito devido às obras-primas. Para complementar este volume, nota-se a formidável novela ?A construção? (1923), densa e sombria, publicada postumamente, e, portanto, considerada por muitos o verdadeiro testamento literário. Para tanto, a tradução excepcionalíssima de Modesto Carone procura reproduzir as repetições formais e intencionais do autor, sua linguagem protocolar e seca.

Nota-se em, sumariamente, em Um artista da fome e A construção, a consciência do derradeiro fim pela tuberculose. Essas histórias abertas, de plurissignificação, pertencentes à fase final do escritor, representam os pontos altos de seu estilo de narrar, marcado pela batida protocolar e repetitiva. Textos como Um artista da fome e Primeira dor trazem arquétipos do artista obsessivo, que revelam uma face titânica; A construção, a grande ficção autobiográfica do autor, evoca a imagem insuperável do modo de existência do escritor perseguido pela doença e pelo fascismo alemão. Neles evidencia-se como nunca um pessimismo fatalista, repleto de insegurança e paranoia diante da morte iminente.

Uma mulher pequena, narrada em primeira pessoa, tematiza o elemento do pecado e do arquétipo do judeu, na medida em que essa inadequação do indivíduo é imposta por um indivíduo externo, expressando, portanto, a modalidade interpretativa do totalitarismo: no qual o ódio e a violência são instrumentalizados em cima do sujeito. Kafka é profético ao invocar um narrador acossado, que teme o que lhe ocorrerá caso a insatisfação da mulher venha à luz do povo ? e dessa maneira ele pensa deixar as coisas como estão, temendo que o povo se volte contra ele.

A objetificação do indivíduo volta a se apresentar em Josefina, a Cantora / O povo dos camundongos. Texto de alta carga simbólica, o conto possui uma precisão vocabular, retratando um realismo inquietante. Concebido durante a curta permanência de Kafka em Berlim, onde viveu na companhia da então noiva Dora Diamant, entre 1923 e 1924, o conto se abre a inúmeras possibilidades de sentido, mas não negligencia o fato de espelhar ?as angústias do escritor nos tempos sombrios da ascensão do nazismo?, de acordo com as palavras do próprio tradutor. Josefina, a Cantora pode se configurar como uma alegoria de pessoas medíocres (como certos artistas frustrados e ressentidos da história), dispostos a assumir espaços vazios de poder e se transformar em líderes políticos da coletividade através dos mecanismos de alienação inerentes à modernidade. No entanto, é notável notar que Kafka atualmente seja visto com bons olhos pelas dicotomias políticas, desde os mais progressistas aos mais conservadores (rendendo interpretações elitistas de que Josefina, por exemplo, incorpora artistas ?sem talento?, ?exaltados pelo público débil e alienado?).

Em Kafka, a mentira tem o efeito de verdade. O conto retome temas anteriores: o ?povo? dos camundongos pode remeter ao povo judeu, pois várias características desse ?povo? ressaltadas pelo narrador evocam esses aspectos ? como a ?esperteza prática?. A condescendência em relação ao artista (Josefina), dado por ?martírio?, no esforço que fazem para preservar a ilusão de que a personagem é uma cantora singular. A crença e a arrogância de Josefina controlam todo um povo.

A construção é uma das novelas mais fortes de Kafka, criando uma cadeia de imagens e alegorias em movimento que dinamizam a análise e representações do mundo kafkiano. O escritor retoma o drama de Josef K., explorando verticalmente o desespero, em técnica semelhante à utilizada em ?O processo? (1925). O animal que constrói sua toca com o objetivo de protegê-lo de qualquer perigo está constantemente em busca da plena segurança, sofrendo da insegurança e da paranoia pela sobrevivência que o acomete, deixando-o paralisado e impedido de viver. A vida desse ser se reduz a se autopreservar, a fugir de inimigos virtuais que o ameaçam por todos os lados.

Podemos ver um contraste temático com os primeiros textos de Kafka, onde, como em ?O veredicto? (1913), que inaugura a sequência de obras-primas kafkianas, se passam em ambientes familiares, cotidianos; já em A construção, esse ambiente está deslocado. Os espaços adquirem estranhamento na medida em que essa narrativa monótona, mas repleta de suspense, se imbui de uma temporalidade esvaziada, de um espaço claustrofóbico que aprisiona a personagem. Pode-se ler a construção do animal como a construção inconsciente do ?eu?. O escritor descreve uma interioridade humana desprovida de qualidades, uma subjetividade autárquica que se fecha em relação ao outro ? e que, portanto, acaba estranhando o próprio ?eu?, vendo somente um labirinto de espelhos, infindável em direção à morte inexorável. É um dos textos kafkianos mais disruptivos e poderosos estética e dramaticamente, tornando-se uma experiência imagética sublime.
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Ângela Bittencourt Cardoso 21/11/2022

Livro filosófico
Esse livro foi escrito em meados de 1920. A obra é bem metafórica. O conto preferido meu foi o artista da fome. A construção foi escrita já no final da vida dele, beirando os 40 anos.
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astrphysics2 23/01/2023

Ótimo
Meu primeiro contato com Kafka foi em "A metamorfose" mas não terminei e decidi tentar seus contos primeiro. Levando em conta toda a situação que ocorria em seu interior e exterior, todos os contos são de certa forma autobiográficos, o que me auxiliou no entendimento de "a construção".
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