Venenos de Deus, Remédios do Diabo

Venenos de Deus, Remédios do Diabo Mia Couto




Resenhas - Venenos de Deus, Remédios do Diabo


52 encontrados | exibindo 16 a 31
1 | 2 | 3 | 4


Camila.Guntzel 11/11/2020

Poetico
A leitura em si, ao meu ver, deve ser aproveitada e degustada em cada frase escrita por mia couto, com suas nuances e genialidade que confere profundeza e genialidade a trechos ?simples/quotidianos?. A história global do livro em si não me fez morrer de amores, entretanto ler mia couto é sempre um processo de visitação do nosso próprio espaço interno, de autoconhecimento, de trazer beleza ao que é simples e natural. Certamente um dos meus autores favoritos.
comentários(0)comente



rodrigo963 06/07/2020

Desafio 2020 - julho || África
Um livro com linguagem simples e fácil leitura do escrito Mia Couto, ele nos apresenta um novo mistério em Moçambique, país de origem do autor. Esse mistério esta relacionado na chegada do médico português Sidónio Rosa na vila de cacimba, procurando os familiares de Deolinda. Deste modo, toda essa história ocorrem em torno das relações animável ou conflituosa do português com os pais de Deolinda (Bartolomeu Sozinho e Dona Munda) e aos moradores desta vila.  No decorrer desta história, contemplamos segredos e mentiras que ocorrem em volta desta família, quais os segredos || mistérios que eles escondem? No processo de leitura, presenciamos elementos das crenças africanas, conflitos interpessoais, patriotismo e colonialismo, política/filosofia moral e modernização/globalização.

. . . . . . . . .
comentários(0)comente

rodrigo963 06/07/2020minha estante
Os **




Lucio 29/04/2020

Mia couto sempre nos impressionando
QUe livros meus caros, com certeza entrou no meu TOP 5 do Mia couto. O livro é cheio de frases que são um verdadeiro tapa na nossa cara. EM um dos momentos Bartolomeu questiona o porquê o Português sempre pergunta se gostam dele, sendo que ninguem pergunta aos Europeus se gostam dos Africanos, porque ja sabem a resposta. Essa doeu, de verdade.

vale muito a pena a leitura.
comentários(0)comente



Leila.Cavalcante 21/04/2020

Como eu estava um pouco ressabiada com a primeira leitura do Mia Couto, da qual não havia gostado tanto, fui pra esse livro com um pé atrás, mas ele acabou me surpreendendo. Apesar de manter a mesma prosa poética, aqui a linguagem é mais, digamos, simples. Por outro lado, a história é cheia de entrelinhas, o que é bem interessante. No começo, as coisas parecem bem simples, um médico português chega na aldeia de Vila Cacimba, em Moçambique e é visto como uma autoridade, pois o lugarejo está enfrentando um surto de meningite. Mas à medida que a história avança, o leitor se ver envolvido num emaranhado de histórias, onde não dá pra saber o que é verdade e quem é quem é verdade. Tem uma frase do Bartolomeu que ele diz pro Sindónio que ele não mente, ele é de mentira. É uma leitura leve e ao mesmo tempo toca em assuntos pesados.
comentários(0)comente



Lucinelly 08/04/2020

Surpreendente!
"Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco." Foi o primeiro livro que li de Mia Couto e simplesmente adorei. Um livro tão bom quanto seu títuto. Que revela de modo tão sutil os costumes e religiosidade de África. Uma leveza em temas como vida conjugal, incesto, subjulgação cultural e outros ao ponto de parecer que eles nem estão lá. Personagens cativantes. Um ritmo lento, macio, redondo, marcante. Frases marcantes também. Muito top'
comentários(0)comente



Madalena.Leite 20/03/2020

É...
Cheio de mentiras e um tanto confuso no início, o livro conta a história de um médico que vai a Vila Cacimba, moradia de sua amada, esperar por ela. Lá ele vai descobrindo uma série de segredos e mentiras dos moradores.Não é meu tipo de livro. Quase abandonei no meio. A leitura não é muito fluida.
comentários(0)comente



Karin Cristine 20/07/2019

Mia Couto
Olá meus amores tudo bem com vocês??
O veneno de Deus, Remédio do diabo foi o meu primeiro livro do autor Mia Couto, não errei é autor mesmo kkkkk também pensei que era uma mulher.
Conta a história de Sidónio que vai para Vila cacimba atrás de sua amada Deolinda, lá ele trabalha como médico, mas sofre alguns preconceitos por ser branco.
Confesso as vezes eu mw perdia na escrita pôs achei meio diferente kkkk
Mas te ensina muito!!!
Uma história boa que te faz pensar muito eu super gostei!! Com um toque de mistério.

???? Um bom médico escuta as dores mesmo antes de os sentir.

???? A velhice é assim, faz noite a qualquer hora.

???? O sofrimento é sempre a nossa escola maior.

???? Quem não sabe de nada sempre desconfia de tudo.

???? Todo médico tem um pouco de mãe.

???? Viver é verbo sem passado.

???? Passamos a vida desperdiçando vidas.

???? O juízo final é todos os dias.

Já leu?? me conte o que achou!!

Espero que tenham gostado super beijão
Kah?
comentários(0)comente



Norberto 18/01/2019

Não consegui me situar por muitas vezes, sem saber o que era sonho e o que era real, embora talvez tenha sido essa a intenção (certamente) - sentir como se o nevoeiro da Vila fizesse parte da experiência de leitura. Apesar disso, quase todas as páginas tem alguma frase que permite reflexão e me peguei só concordando com muitas delas. Bom livro.
comentários(0)comente



Fernanda Diogo 04/01/2019

Não é um livro ruim, mas tambem nao é excelente, é bom. O intitulo como um livro para passar o tempo e só... ao mesmo tempo que gosto, acho muito confuso.
Nao achei perca de tempo ler, mas também não é un livro que eu saia indicando pra todo mundo ler kkkkk
comentários(0)comente



regifreitas 09/08/2018

Se tivesse sido a primeira obra do autor lida por mim, talvez a avaliação fosse diferente. Mas como Mia já é uma leitura recorrente há uns bons anos, este romance em específico não foi tão memorável. Não que a obra não apresente as características marcantes do autor. Continuam aqui a linguagem extremamente poética, repleta de neologismos e jogos de palavras, e também a presença de personagens incomuns e situações inusitadas. Porém, faltou um algo a mais que a destacasse dos demais trabalhos do autor.

A princípio me senti um pouco perdido, como o personagem Sidónio Rosa, no meio de tantos relatos desencontrados, idas e vindas da história. Esse jogo feito pelo autor, de alternância entre supostas verdades e mentiras, é proposital, eu sei, mas a mim me pareceu travar o enredo. Tanto que cansou a determinada altura, mesmo se tratando de um romance curto.

Passa longe de ser ruim, mas não está no rol das minhas obras preferidas. Esperava algo novo, e o autor entregou algo já visto em outros livros. Se bem que, em se tratando de muitas obras e autores contemporâneos, isso já seja grande coisa.
comentários(0)comente



Manuel Gimo 03/02/2018

As Incuráveis Vidas da Vila Cacimba!
AUTOR: Mia Couto
TÍTULO: Venenos de Deus, remédios do Diabo: As incuráveis vidas de Vila Cacimba
LOCAL DA PUBLICAÇÃO: São Paulo
EDITORA: Companhia das Letras
ANO DA PUBLICAÇÃO: 2008
PÁGINAS: 95
FORMATO DO LIVRO: eBook (PDF)

SINOPSE:

Bartolomeu Sozinho é um velho mecânico naval moçambicano, aposentado do trabalho, mas não dos sonhos ardentes e dos pesadelos ressentidos que elabora em seu escuro quarto de doente terminal. Ele é atendido em domicílio por Sidónio Rosa, médico português.

A narrativa entrelaça a vida de Bartolomeu, de sua rancorosa mulher, Munda, da ausente e quase mitológica Deolinda, filha do casal, do dedicado Doutor “Sidonho”, bem como de Suacelência, o suarento e corrupto administrador de Vila Cacimba, um lugarejo imerso em poeira e cacimbas (neblinas) enganadoras. São vidas feitas de mentiras e ilusões que tornam difícil diferenciar o sonho da realidade.

Aparentemente, Sidónio veio de Lisboa para curar a vila de uma epidemia. Mas é o amor pela desaparecida Deolinda, por quem se apaixonara em Lisboa, que impulsiona seus passos mais íntimos. Quando Deolinda voltou para sua terra natal, Sidónio viu-se teleguiado pelo sonho de reencontrá-la. Mas Vila Cacimba não é o lugar do médico, nem poderá ser jamais.

_________________******_______________

«— Viver é que não tem cura, caro amigo.» (p. 8)

Já não via a hora de pegar uma obra de Mia Couto nas minhas mãos e devora-la por inteiro. Então, eis que vi-me submerso neste "Venenos de Deus, remédios do Diabo", título um tanto quanto ousado.

«Depois de tantos anos, deixamos de viver na casa e passamos a ser a casa onde vivemos.» (p. 13)

Mia Couto dispensa quaisquer tipo de apresentações, portanto vamos directo ao assunto, até porque a obra é curta portanto a leitura é rápida e fluída. Em "Venenos de Deus, remédios do Diabo", somos levados até à Vila Cacimba (assim chamada porque é envolta em cacimbas), e conhecemos seus habitantes. Começando por Bartolomeu Sozinho, mecânico reformado, com uma doença terminal recebe visitas regulares do português Sidónio Rosa, o médico(?) da Vila. Este homem exilou-se no próprio quarto, e este tornou-se a sua nação.
No passado, mais exactamente na era colonial, Bartolomeu fora mecânico naval no transatlântico "Infante D. Henrique", sendo o único tripulante negro daquele navio. Por conseguinte, aos olhos dos outros irmãos moçambicanos negros, Bartolomeu era um herói que vencera horizontes. Mas para Alfredo Suacelência, o administrador da Vila, ele era um preto decorativo para os colonos, um "tripulante apenas como instrumento de uma mentira: de que não havia racismo no império lusitano." (p. 14). Aliás, o passado desses dois, Bartolomeu e Suacêlencia, cruza-se. De tão sinistro esse passado que Bartolomeu Augusto Sozinho se exilou. A propósito, o nome de baptismo de Bartolomeu é Tsotsi Bartolomeu Tsotsi, mas mudou-o por vergonha da sua raça e cultura, no acto que pode ser entendido como auto-colonização (ou seria aculturação/transculturação?).
O enfrentamento entre o paciente e o médico leva-nos àquelas questões: como os portugueses de hoje vêem os africanos de hoje, e vice-versa, levando em conta os factos históricos que une esses povos?

«— Uma coisa aprendi na vida. Quem tem medo da infelicidade nunca chega a ser feliz.» (p. 19)

Então, somos apresentados a Dona Munda Sozinho (sim, feminino de "Mundo"), esposa, mulata, a "semiviúva", do Bartolomeu. Vive em brigas com o esposo doente, o implicante.
Esta fora renegada pela família por se casar com o negro Bartolomeu, razão: fazia “a raça andar para trás”. Bartolomeu também fora renegado pela sua própria família por se envolver com uma mulata, porque era traição. Então, estes dois enfrentaram o mundo por amor. Do fruto deste amor, nascera Deolinda, também mulata porém "mais clara que a própria mãe." (p. 17). Amor lindo este, se diria, não? Mas as coisas mudam. E um acontecimento em especial mudou tudo. E o que é uma mulher nessa nossa sociedade? Vemos o olhar da sociedade na seguinte passagem: "O destino das mulheres é serem culpadas. A idade torna-as ainda mais donas de perigosos saberes. Não é preciso prova. Basta que recaia sobre elas a acusação de feitiçaria. A justiça é sumária, sem juízes, sem juízos. O veredicto está facilitado: as mulheres já foram julgadas antes de haver tribunal." (pp. 30 - 31); e na subjugada Dona Esposinha, mulher do administrador Suacêlencia.

«Saímos para o estrangeiro quando a nossa terra já saiu de nós.» (p. 55)

Bom, vamos falar do português Sidónio Rosa. Este deixou a sua amada Lisboa e se aventura nas terras moçambicanas em nome do amor. Tivera um caso com Deolinda Sozinho, que conhecera em um congresso em Lisboa. "Parecia uma coisa passageira. Que o amor acontece para a gente desacontecer. Mas depois se viu que era mais que uma lembrança teimosa. E fizeram durar correspondência, deixaram crescer juras e promessas. Até que, subitamente, Deolinda deixou de responder às cartas. Desde então, o médico avaliou desejos, pesou saudades." (p. 20). Então, sedento de paixão, o médico ruma até a terra da sua amada em busca dela. Mas quando chega a terra de Deolinda, a Vila Cacimba, Sidónio, homem da ciência, vê-se em choque com tradições e costumes daquele povo, ao mesmo tempo que a Vila está sendo palco de actuação de uma misteriosa epidemia que faz as vítimas afectadas, que são soldados na sua maioria, vaguear, febris e sujos feito loucos, sendo chamados, pelo povo, de tresandarilhos. Ao mesmo tempo, o doutoro Sidonho (assim chamado pelos habitantes locais) descobre que há muito que Deolinda deixara a Vila e partira para um outro lugar que ninguém conhece, supostamente para uma capacitação e que voltaria logo. Mas a verdade é que os motivos "dessa partida" está envolta em mistérios, mentiras e segredos. Nesta longínqua terra africana, Vila Cacimba, os segredos "não se enterram nunca em cova. Ficam em buraco aberto como ferida que nunca ganha cicatriz." (p. 53). Esta Vila "tem o viver de um rio. Manso e vagaroso, mas com fatais enchentes." (p. 85).

«Não seremos nada enquanto governarmos o país como se fosse um quintal e dirigirmos a economia como se fosse um bazar.» (p. 86)

O administrador da Vila Cacimba, Alfredo Suacelência, simboliza os novos-ricos, um tema muito recorrente na escrita miacoutiana. Estes novos-ricos fazem do seu país um "universo feito de empresários sem empresa e de funcionários públicos que apenas desempenham funções privadas." (p. 24). São homens que outrora lutaram pela ideia de união e liberdade, e que agora vêem os seus irmãos com assustador indiferença. São os pobres de ontem; mas os ricos de hoje. Vemos isso no seu desejo de querer uma cura para o suor porque, nas suas próprias palavras, "O suor é um defeito dos pobres. E nós, meu caro Doutor, estamos a combater a pobreza, não é verdade?" (p. 23).
O mais interessante é a rivalidade existente entre Sualência e Bartolomeu. A prova de que o colonialismo português em Moçambique, ou de modo geral o colonialismo em África, não prejudicou a todos nativos. A queda do salazarismo em Portugal não alegrou a todos os negros.

«É isto: a gente nasce sem pedir e morre sem ter licença.» (p. 86)

Devo admitir que apesar de conhecer muito bem a escrita de Mia Couto e as histórias mirabolantes que ele cria; as suas brincriações na escrita (os neologismos), os nomes surpreendentes que ele dá às suas personagens, as línguas moçambicanas incorporadas no seu texto, o lirismo e a poeticidade da sua escrita, é simplesmente incrível. Saboroso de se ler. Eu, porém, não esperava muito deste "Venenos de Deus, remédios do Diabo". Fui surpreendido, contudo. A história prova ser verossímil e intrigante. Senti-me tão perdido quanto o Sidónio Rosa pelas múltiplas revelações. Venenos (verdades) e remédios (mentiras) se confundem numa trama que nos leva a reflectir sobre o racismo, incesto, o esquecimento, a solidão, tristeza e existencialismo. É simplesmente fantástico. Este senhor, Mia Couto, é um poeta-escritor de mão cheia. Tiro-lhe chapéu toda vez que o leio.

«— O sofrimento é sempre a nossa escola maior.» (p. 16)

OUTRAS CITAÇÕES:

«— Sonhar é uma cura.» (p. 9)

«É o esquecimento e não a morte que nos faz ficar fora da vida.» (p. 14)


«Quem não sabe de nada sempre desconfia de tudo.» (p. 16)

«“Todo o médico tem um pouco de mãe” [...].» (p. 20)

«Quem pede sempre, não sabe querer.» (p. 25)

«— Ainda tenho uma dúvida, Dona Munda.
— O que quer saber, Doutor?
— Quem são esses misteriosos mensageiros que trazem as cartas de Deolinda? Quem são eles que ninguém os vê?
— O senhor quer saber muito, Doutor. São familiares. O senhor sabe, aqui, em África, todos são familiares.» (p. 25)

«A casa só é nossa quando é maior que o mundo.» (p. 26)

«A idade é uma repentina doença: surge quando menos se espera, uma simples desilusão, um desacato com a esperança. Somos donos do Tempo apenas quando o Tempo se esquece de nós.» (p. 34)

«— Viajar é muito bom, mas as pessoas deviam morrer no sítio onde nasceram.» (p. 36)

«O senhor sabe, as famílias são caixas de histórias, segredos e mentiras.» (p. 46)

«O suficiente é para quem não ama. No amor, só existem infinitos.» (p. 51)

«Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior que fomos perdendo à medida que o mundo foi deixando de ser nosso.» (pp. 57 - 58)

«— Uma mulher adivinha. Uma esposa sente. Uma mãe sabe.» (p. 63)

«Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco.» (p. 77)

«— O tempo é o lenço de toda a lágrima.» (p. 78)

«Neste mundo, as mulheres são falsas e os homens são mentirosos.» (p. 79)

«— As pessoas demoram a mudar. Quase sempre demoram mais tempo que a própria vida…» (p. 83)

«E se Deus não nos ajuda, como recusar auxílio do diabo?» (p. 83)

«A gente não sabe nunca que um filho morreu.» (p. 84)


«Feridas da boca curam-se com a própria saliva.» (p. 87)

«A antiguidade das coisas está no desejo de as esquecermos.» (p. 90)

AVALIAÇÃO: 9.9/10

______________***________________

Review by: Manuel Gimo

site: www.fb.com/manueltchatche.rmt
comentários(0)comente



Mick 03/11/2017

Muito boa leitura!
"Venenos de Deus, remédios do diabo", foi o primeiro livro do moçambicano Mia Couto que li ... Muito boa leitura! Com certeza lerei muitos outros livros desse autor, que há muito planejava ler! É um livro que se inicia sobre a premissa de uma história de amor entre um branco europeu e uma negra africana, mas é muito mais que isso, reflete sobre racismo, cultura e sobre a solidão e as incertezas na vida do ser humano.

"Venenos de Deus, remédios do diabo" conta a história de Sidónio Rosa, um médico português, que viaja para Vila Cacimba, em Moçambique, para supostamente curar o vilarejo de uma epidemia. Mas na verdade, ele está à procura de Deolinda, uma mulata pela qual se apaixonou durante uma viagem que ela fizera a Lisboa. Porém ela está desaparecida, e como quisesse ter de alguma forma a sua presença, o médico passa a cuidar do pai de Deolinda, Bartolomeu, ex-mecânico naval e doente terminal, que nunca sai de casa. O velho tem o espírito pessimista de quem morreu já bem antes mesmo de a alma sair de dentro do corpo, e um ar misterioso que percorre toda a narrativa".

A narrativa entrelaça a vida de Bartolomeu, de sua mulher, Munda, da ausente e quase mitológica Deolinda, filha do casal, do dedicado Doutor Sidonho, bem como de Suacelência, o suarento e corrupto administrador de Vila Cacimba, um lugarejo imerso em poeira e cacimbas (neblinas) enganadoras.

Como é comum em suas obras, o fantástico e o real se cruzam, se tornando praticamente a mesma substância, pois como o próprio autor já disse em uma das edições da Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco) "não há grandes separações entre esses aspectos na realidade africana".
comentários(0)comente



Marcos Pinto 19/04/2017

Maravilhoso!
Algumas vezes, os remédios vêm do Diabo e os venenos de Deus; algumas vezes, as mentiras são amorosas e vêm de quem menos se espera. E quem não mente? Nesta obra, Mia Couto mostra como as pessoas são um emaranhado de histórias, visões, tendências e mentiras. Neste enredo, tudo cheira a enganação, é repleto de segundas intenções. Todos são humanos e, por isso, potencialmente enganosos.

Na presente obra, conhecemos Sidónio Rosa, médico português que está na Vila Cacimba para cuidar dos doentes. Entretanto, apesar da aparência de bondade e de visita humanitária, o médico está ali mesmo por Deolinda, mulher maravilhosa que ele conheceu e teve um caso por outras bandas. Para ficar mais perto dela, foi morar em sua terra; entretanto, ela escapou pelos dedos e está em outra localidade, supostamente estudando. Na ausência de sua amada, ele “não era uma pessoa. Ele era uma raça que caminhava, solitária, nos atalhos de uma vila africana” (p. 117).

Enquanto Deolinda não volta, resta ao médico cuidar da família da moça: Bartolomeu Sozinho, ex-mecânico, ex-vivente, ex-sonhador, e Dona Munda, mulher que mente, engana, mas que cuida dos seus com toda a alma. Os três, aliás, serão o núcleo do romance, onde, através de conversas e vivências, tentarão descobrir e redescobrir, em meio às mentiras, a verdadeira razão de viver ou a inexorável praga que é somente existir.

Na ânsia de ter Deolinda de volta, o médico português busca a verdade por trás de sua partida, pois essa ideia de que está estudando o incomoda e parece mentirosa. A partir dessa investigação, descobre um emaranhado de verdades. Terá mesmo partido Deolinda por não conseguir ver os seus no estado em que se encontravam? Teria mesmo ficado grávida de outro? Teria sido abusada? Todas as verdades são levantadas; ou melhor, todas essas mentiras. Cabe ao protagonista saber em que ponto todas as informações se unem e mostram algum indício de serem verdadeiras.

Partindo dessa premissa, Mia Couto mais uma vez desnuda a alma humana, criando personagens tão verdadeiros que é impossível não se envolver e se apaixonar. Todas as falhas e anseios humanos são apresentados nas relações de Munda, Bartolomeu e Sidónio. Os diálogos são portas para a alma; os questionamentos são universais. O chão africano palpita em consonância com o coração dos personagens e, ao mesmo tempo, embalam o nosso também. A vida se torna mágica, apesar de triste, nas palavras de Mia Couto.

A partir da poética, o autor brinca novamente – pois já fez isso em outros livros – com a questão da memória e da imaginação. A verdade das lembranças parece ser diminuta; a imaginação é muito mais parecida com uma foto do que o passado. É em meio às imaginações e quase lembranças que navegamos, quase que sem rumo, tentando entender o amor, a vida e, principalmente, os venenos de cada dia.

Além da beleza e da poética que o autor já coloca em seus livros de forma constante, ainda há espaço para a crítica social. Assim como acontece em Mulheres de Cinzas, aqui o lugar da mulher na sociedade é trabalhado. Seja no retrato quase serviu da mulher que se chama simplesmente “Dona Esposinha” ou nas acusações de feitiçarias, o autor nos chama a atenção para uma cultura sexista e que beira à misoginia. Como o narrador muito bem destacada:

O destino das mulheres é serem culpadas. A idade torna-as ainda mais donas de perigosos saberes. Não é preciso prova. Basta que recaia sobre elas a acusação de feitiçaria. A justiça é sumária, sem juízes, sem juízos. O veredicto está facilitado: as mulheres já foram julgadas antes de haver tribunal. (pp. 58-59)

Por fim, entre poesias e críticas, resta-nos tentar resgatar um pouco mais da beleza humana, dos sentimentos e das esperanças. Nas vozes de Mia Couto, todo o mundo é mais bonito, basta olharmos com mais atenção. Muitas vezes, o que precisamos é do nosso “amardiçoar” (p. 97) de cada dia ou da vida toda, pois é nele que talvez more o sentido da vida. Ou talvez não. Entre tantas idas e vindas, verdades e mentiras, qual o sentido em um buscar um sentido?

Além do excelente enredo, o livro também chama a atenção pelo ótimo trabalho feito pela Companhia das Letras. A capa é belíssima e retrata bem o que encontraremos na obra; a diagramação está muito confortável e a revisão está perfeita. Ou seja, tudo contribui para que tenhamos uma excelente leitura.

Em suma, Venenos de Deus, Remédios do Diabo é uma obra tocante, envolvente e que nos faz enxergar as pequenas belezas da vida, até mesmo as que estão nas inverdades. Essa é uma obra que merece estar nas nossas estantes e corações; uma obra para quem não se contenta com apenas entretenimento, quer a arte e a beleza desfilando diante dos olhos.


site: http://www.desbravadordemundos.com.br/2017/04/resenha-venenos-de-deus-remedios-do.html
comentários(0)comente



Wags 13/01/2017

Uma cacimba que veio pra ficar na cabeça
Foi minha primeira experiência com uma obra de Mia Couto, em decorrência de uma disciplina da faculdade que enfoca a literatura africana escrita em português, minha porta para finalmente ler o autor, que há tanto tempo queria se escancarou de vez. E não me decepcionei. A incerteza laureada pelo lirismo em prosa único do autor, faz com que esse romance seja uma experiencia que esboça uma satisfação até a última frase. Faz com que não sabemos em qual personagem acreditar, tomar gosto, é uma história de caminhos enevoados, tal qual as ruas da Vila Cacimba com seus moradores igualmente cobertos de neblina, neblina que não esconde apenas seus segredos e ressentimentos, mas sua própria identidade, que por muito tempo foi mantida debaixo de um véu pela colonização. É uma leitura extraordinária, deixo aqui por fim, meu amém Mia Couto.
comentários(0)comente



52 encontrados | exibindo 16 a 31
1 | 2 | 3 | 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR