Venenos de Deus, Remédios do Diabo

Venenos de Deus, Remédios do Diabo Mia Couto




Resenhas - Venenos de Deus, Remédios do Diabo


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Jéssica 12/08/2012

Um livro tão bom quanto seu títuto. Que revela de modo tão sutil os costumes e religiosidade de África. Uma leveza em temas como vida conjugal, incesto, subjulgação cultural e outros ao ponto de parecer que eles nem estão lá. Personagens cativantes. Um ritmo lento, macio, redondo, marcante. Frases marcantes também. Por fim, digo que me senti um pouco em casa, alguns costumes daquele vilarejo lebraram-me os do interior da Bahia.
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Rosa Santana 21/05/2012

"Venenos de Deus, Remédios do Diabo", Mia Couto, Companhia das Letras, 188 páginas.

Entre os venenos destilados por Deus e os remédios espalhados pelo Diabo, na Vila Cacimba, África, nesse paradoxal espaço em que se trocam os papéis, é que Mia Couto distribui seus não menos paradoxais personagens: um médico, um mecânico-poeta e sua esposa Munda, cheia de ardis. Ambos moram em Vila Cacimba.

Sidônio, o médico(?) português, chega à Vila em busca de Deolinda, a mulata por quem se apaixonara, em um congresso no seu país e que há um tempo não via. Ela era filha de Bartolomeu Sozinho e de dona Munda, a quem o marido nomeia 'feiticeira'. O pai da moça, o negro Bartolomeu, se encontra prostrado, vítima de uma doença a que o médico vem curar, atendendo às cartas que a amada lhe envia, e que recebe pelas mãos da mãe. Nelas, a mulata faz vários pedidos a Sidônio, entre outros, esse! A população da Vila está, em sua grande maioria, assolada por uma epidemia que motivou a vinda do médico, via Suacelência, o mandatário local que também quer se ver livre dos suores que o acometem, já que esse tipo de 'doença', é, na verdade, dos pobres de quem ele quer se distanciar!

É esse o meio de que Mia Couto se serve para criar verdades escorregadias que se entrecruzam, deixando-nos em dúvida sobre o que mais vale: o misticismo de Munda, da Vila, da África ou a verdade da ciência, representada pela medicina, pelo médico, por seu país e até mesmo por seu continente? Segundo o conhecimento mítico dos moradores locais, por exemplo, as flores colhidas no cemitério e colocadas em jarros se transformam em mãos que pingam sangue; as doenças são encomendadas; morre-se não por doença, mas por saudade da vida! A esse contrapõe-se o discurso do médico, refutando-o e negando também o fumo, o álcool e, lógico, pregando a favor dos medicamentos...
O entrelaçamento de discursos cria um efeito embaçado, em que não se sabe o que é real ou não. O próprio médico se vê perdido entre as 'verdades' que cada um lhe conta e resolve voltar definitivamente ao seu país. Antes, porém, tem que fazer algo imperioso: visitar o cemitério. Lá se encontra com Munda, que lhe oferece para mastigar 'beijos-de-mulata', flores ali nascidas, "remédio para saudades e tristezas, essas que não tem cura"(182). Sidônio cai no terreno movediço, se vê envolto em névoa que se espalha à sua volta, deixando-o em estado de torpor. Assim, também o leitor, fica meio que vagando entre os fatos cheio de nebulosas.

Mia Couto com esse "Venenos de Deus, Remédios do Diabo, deixa claro ao leitor o quão difusa é a fronteira que separa sonho e realidade, e, também, que nenhum dos discursos pode ser estanque: à ciência, há que se mesclar fantasia e vice-versa.

"É o esquecimento e não a morte que nos faz ficar fora da vida." 25

"Viver é um verbo sem passado." 56
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Malu 10/05/2012

O livro é muito interessante, apesar de não ter uma linguagem tão simples, a sua leitura é muito boa. Não é o livro do tipo previssível e para quem não gosta de livros muito longos, esse é curtinho e com capítulos relativamente curtos. Em uma semana se consegue terminar de ler.
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Caio 15/09/2010

"Em África nada é o que parece"
Mia Couto, como sempre fabuloso, apareceu em bom momento para mostrar ao mundo lusófono que a África tem muito a contribuir para o engradecimento da língua de Camões. Ao explorar os limites da expressividade do idioma, o autor cria neologismos saborosíssimos. Dono de uma prosa ágil e envolvente, consegue cativar desde a primeira página.

Quanto a este livro, em particular, é uma cortina de fumaça. Ao entrar em Vila Cacimba, espere o inesperado. E se ao sair da leitura persistir ainda um certo atordoamento, parabéns! Mia Couto conseguiu te atingir em cheio.

A história trata de um médico português que acaba parando num vilarejo perdido no meio da África atrás da mulata Deolinda, e acaba enredado nas teias da família da moça, presa do magnetismo do pai - que mantém uma relação tensa com a esposa, mãe de Deolinda. Mas nesse caso, amor e ódio são as faces opostas de uma mesma moeda.

Há ainda a crítica a esses régulos tão conhecidos nossos e que também sangram a África, representados por Suasselência, o governante da cidade. A personagem é uma personificação da identificação que ocorre em algumas sociedades pós-coloniais entre Estado e a pessoa do governante. Vaidoso, fútil e deslumbrado, como todo tirano, Suasselência deseja encontrar uma cura para parar de suar, uma vez que o suor é caracter indicativo da pobreza.

A galeria de personagens interessantes é rica e complexa, e não cabe aqui tentar esgotá-la, muito melhor é se preparar para entrar em África, guiado por Mia Couto, sabendo que lá nada é o que parece.
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Dany Dantas 07/09/2009

"Sonhar é um modo de mentir à vida, uma vingança contra um destino que é sempre tardio e pouco."
Foi o primeiro livro que li de Mia Couto e simplesmente adorei. A poeticidade contida na reflexão de sua personagens sobre a vida é de tamanha beleza e infinitude. A frase do livro que coloquei como título é a mais interessante, em minha opinião, e que perpassa bem por todo o fantástico do livro. Altamente recomendável!
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Julinha 30/08/2009

Venenos de Deus, remédios do Diabo é um dos livro mais recente de Mia Couto. E não é só o nome que surpreende nessa obra do escritor moçambicano: O enredo da obra, envolto em uma névoa de mistérios, é cheio de revelações inesperadas que prendem o leitor nas páginas do livro.

O livro conta a história de um médico português que se instala na pequena Vila Cacimba atrás de Deolinda, moça africana que conheceu em Lisboa. Nessa trama, Mia desenvolve diálogos entre seus personagens (portugueses e moçambicanos) que mostram a riqueza cultural e sabedoria popular do povo moçambicano e também o abismo existente entre as duas etnias, marcadas pela violência histórica da colonização.

Venenos de Deus, remédios do Diabo é um livro que nos leva à reflexão sobre conceitos básicos de nossas vidas, vistos através das lentes de outro povo, além de nos transportar um pouco para essa cultura africana que nos compõe e ao mesmo tempo está tão distante de nós.
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Tati 12/07/2009

África é esse desconhecido, Moçambique é dona dessa familiaridade ainda que nunca tenha sido possuída pela vista, Mia Couto esse amante que nunca se teve na cama. Vila Cacimba é o novo lugarejo mágico da escrita do moçambicano mais traduzido fora de fronteiras, avô recém-chegado aos 50.

Venenos de Deus, Remédios do Diabo é sonho e pesadelo. Verdade e mentira. Um antídoto para os solitários, onde todos vivem na solidão, narrado por uma sensibilidade sozinha. São diálogos supremos, que o comum dos mortais só consegue ter em uma conversa na vida e normalmente dá romance eterno.

«Amar – disse ele – é estar sempre chegando». O ele é Bartolomeu Sozinho, um mecânico na reforma, hipocondríaco sem certezas, um negro negro com reminiscências de um barco colonial. O médico português Sidónio Rosa, rebaptizado Sidonho naquelas terras poeirentas, aguenta diariamente a escuridão de uma casa, estoicamente como só se aguenta por um amor. Cura epidemias mas não tem remédio para aquele lugar.

Entre superstições, rituais de uma raça que só conhece da intimidade de lençóis de Lisboa, aguarda pacientemente por Deolinda, também de Sozinho no nome, a mulata que conheceu num congresso na metrópole. Mas enquanto ela não regressa a Vila Cacimba (e amar é estar sempre chegando, como disse ele), o «Doutoro» torna-se da terra sem nunca deixar de dormir no quarto da única pensão local, repete visitas à esperada sogra Dona Munda, vê o administrador Suacelência embebedar-se em whisky e em privado, servido por sua esposa Dona Esposinha.

«Há mais coisas a descobrir numa família do que numa visita a Marte», cita Mia Couto o israelita Amos Oz. Daqui descola a narrativa, regressando a casa mais vezes do que delas sai. E nunca chega a sair, mesmo quando entra em delírio ao mascar pétalas de beijo-da-mulata, mesmo quando foge, exausto pela imersão na mentira, na camioneta que o levará de volta à cidade.
António Larguesa
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