NightPhoenixBooks 02/12/2016[Resenha] As Crônicas dos Mortos #1: O Vale dos MortosQuem me conhece já deve ter me ouvido falar da série “As Crônicas dos Mortos” pelo menos umas 10 mil vezes. Essa série é uma das minhas queridinhas, comecei a lê-la em 2013 e só agora criei coragem para escrever uma resenha, as vésperas (oremos) do lançamento do quinto, e último, livro “Era dos Mortos”. Ao contrário do que você possa achar, é muito mais difícil escrever sobre algo que você ama do que sobre algo que você odeie...
“E o terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela ardendo como tocha (...) E o nome da estrela era Absinto...
... e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E a fumaça que saiu do fundo do abismo escureceu o sol e o ar.
E da fumaça vieram seres como gafanhotos sobre a terra, mas com poderes de escorpiões.
E foi-lhes dito que não fizessem dado à erva da terra, nem a árvore alguma, mas somente aos homens.
E naqueles dias os homens buscarão a morte, e não a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles. (Apocalipse 8 e 9) (Página 5).
“O Vale dos Mortos” é o primeiro volume da saga “As Crônicas dos Mortos” de um dos melhores autores nacionais da atualidade, Rodrigo de Oliveira. Palavras não descrevem o quanto eu me apaixonei por esse mundo, personagens e principalmente, pela escrita do Rodrigo...
Em um futuro não tão distante assim (no final de 2017), a NASA descobriu um novo planeta escondido no nosso sistema solar, que foi chamado de Absinto (um planeta colossal descrito primeiramente no livro do Apocalipse, sintam a desgraça), este colosso era cerca de 20 vezes o diâmetro da Terra e aparentemente estava em rota de colisão com o nosso planeta.
Imagine o seguinte: um meteoro com cerca de 50 metros de diâmetro é capaz de destruir Moscou, capital da Rússia, com cerca de 2.500 km². Você consegue imaginar o que um planeta maior que Júpiter, que tem cerca de 2.5 vezes a massa de todos os planetas do nosso sistema solar juntos, faria? Se você ainda não conseguiu enxergar o tamanho da desgraça, vou simplificar: adeus Terra, você vai virar poeira da poeira da poeira espacial.
Após o mundo entrar em colapso com essa notícia, cientistas e matemáticos perceberam que seus cálculos estavam errados (valeu bando de trolls), e que na verdade o planeta passaria raspando na Terra, fornecendo um espetáculo nunca antes visto. Cientistas ainda conseguiram prever o dia exato que o planeta atingiria o ponto mais próximo com a Terra: 14 de julho de 2018.
“Naquele dia, se Deus existia de fato, decerto preferiu desviar o olhar. Porque aquele planeta não trouxe apenas um belo espetáculo.” (Página 23)
Estamos em 2018, na cidade de São José dos Campos, no estado de São Paulo. Ivan é um ex-militar de 35 anos, que atualmente trabalha como TI na capital. Ele é casado com Estela, analista de sistemas e mãe dos dois filhos do casal: Matheus, de 8 anos e Ana, de 6.
O dia não poderia ser mais normal no ensolarado sábado, 14 de julho de 2018. O casal resolveu passear no shopping com os filhos, já que não conseguem passar todo o tempo desejado com eles, devido a rotina corrida do trabalho. Porém mal sabiam eles que esse passeio era o começo de um pesadelo...
De repente durante o passeio, centenas de pessoas caem no chão, aparentemente desmaiadas, e não se levantam – pelo menos nunca mais como elas mesmas. Em um espaço de minutos, cerca de 2/3 da população mundial se torna algo saído dos piores pesadelos: feras de olhos brancos, desalmadas, famintas e extremamente violentas - zumbis para os íntimos.
Como se a situação já não fosse ruim o suficiente, uma por uma, essas “pessoas” começam a se levantar, imediatamente atacando quem estiver mais próximo. Um pânico ainda maior se instala, onde antes se encontrava um ente querido, agora se encontra um demônio usando a sua casca vazia.
Em meio ao caos, Ivan e Estela começam sua batalha pela sobrevivência, eles pensam rápido e conseguem escapar do meio do inferno em formação com os filhos, se refugiando com outros sobreviventes em um shopping que estava fechado para manutenção. E a partir daí que a batalha pela vida realmente começa...
“Aquelas crianças não estavam reconhecendo os próprios pais; era como se tivessem se convertido em soldados de um instante para o outro. Não sabiam no que os pais iriam se transformar com o passar do tempo. Matheus e Ana não faziam ideia de que se achavam diante de dois dos maiores predadores vivos da Terra.” (Página 88)
Lembro que achei esse livro sem querer, a capa me chamou a atenção em uma livraria e o peguei para ler a sinopse... Mal sabia eu que estava selando meu destino. Me apaixonei pela escrita do Rodrigo, pela descrições de cenário, personagens, criação e desenvolvimento do relacionamento entre os personagens, enfim.. por tudo.
Nada e ninguém que é apresentado nesse livro está lá por acaso, um personagem que é apresentado no começo do livro, aparecerá novamente – no melhor estilo tapa na cara de ser – fazendo aquele clique na nossa cabeça. O Rodrigo dá uma dica bem sutil e lá na frente todas as pontas são amarradas perfeitamente e você ainda é virado de cabeça para baixo.
Esse livro aborda, além claro de como sobreviveríamos perante a um apocalipse zumbi, as relações entre os sobreviventes. Mostra que em tempos de crise, abandonamos a nossa própria humanidade, matando inocentes e ignorando o que acreditavamos como sendo o correto, se isso for nos beneficiar ou tornar nossa “vida” mais fácil, então eu vos pergunto: quem são os verdadeiros monstros? Os zumbis ou os homens?
“- E do que fala essa música – Estela quis saber.
Ivan sorriu de forma significativa. Depois respondeu:
- Fala que quando surgir um sinal misterioso no céu, a Besta estará livre para vagar sobre a Terra. E os homens terão que se unir para enfrentá-la.” (Página 192)
Não posso dizer que eu não tenha me apegado a todos os personagens, a narrativa é tão bem desenvolvida que eu muitas vezes me via lá no meio, sentindo desespero, aflição, comemorando e sentindo todas as perdas, aliás já deixo um aviso para os mais fracos: ninguém está à salvo, esperem mortes, e muitas.
Esse é um dos livros que é melhor ler em casa, pois você caro leitor, assim como eu, vai gritar a cada reviravolta. “O Vale dos Mortos” é um livro com um ritmo frenético, você fica roendo as unhas e se descabelando, devorando as páginas até descobrir o que vai acontecer e aí, o livro acaba e te deixa sem fôlego.
Não preciso nem ressaltar que estamos falando de uma obra nacional, preciso? Vamos lá meu povo, vocês ficam reclamando que quase não existem livros nacionais bons e blá blá blá... Aproveitem a oportunidade, pois infelizmente não vejo tantas pessoas comentando sobre essa obra.
Acompanho essa série desde o seu início e posso dizer que ela já me trouxe todo tipo de sentimento, inclusive as piores ressacas literárias. Por ter lido todos os livros publicados posso dizer que é melhor vocês preparem os corações, com os volumes seguintes o que já era sensacional melhora ainda mais e temos mais: ação, zumbis, dramas, mortes, reviravoltas, desenvolvimento de personagens e revelações de cair o cú da bunda, que eu infelizmente não posso falar nada... AI MEU CORAÇÃO! Sério Rodrigo, como você conseguiu pensar em tudo isso?
Eu não consigo ressaltar o quanto quero que todas as pessoas do mundo leiam esse livro, aliás se você me conhece e ainda não leu, a única forma de me fazer calar a boca é lendo. Afinal de contas, o que pode ser melhor do que um livro sobre o apocalipse zumbi que se passa no Brasil?
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