Rafael.Montoito 28/04/2021
Suspiros e calafrios
É preciso respirar fundo ao final do livro e dedicar alguns minutos para se entender porque este é o livro favorito de Stephen King - leitores que forem a ele com esta referência podem se sentir traídos, já que alguns livros de King são mais assustadores (ou, pelo menos, mais "explicitamente aterrorizadores") do que este "O grande deus Pã".
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Para entender o terror de suas páginas é preciso pensá-lo em seu tempo: escrito no século XVIII, o livro é testemunho de um momento em que dividiam-se as opiniões sobre o poder das ciências e do ocultismo - é com essa ciência que o autor galês faz sua narrativa de terror ter, como nascente, um experimento científico.
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Tal qual "Frankenstein" e "O médico e o monstro", o livro de Machen lida com as dicotomias: personalidade sã e com instintos irracionais, ciência e forças ocultas, sociedade moderna (Londres) e rituais primitivos, razão e loucura.
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Comparativamente falando, se fosse um filme, "O grande deus Pã" estaria mais para "O bebê de Rosemary" ou "O mensageiro do diabo" do que para "Jogos mortais" ou "O albergue". Isso não é, em hipótese alguma, demérito - basta o leitor ajustar, ao livro, suas expectativas.
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A história construída por Machen não é linear, esconde segredos em cada capítulo e requer atenção do leitor. Somente ao final é que todas as peças se encaixarão, como uma revelação que trabalha a potência do medo naquilo que não mostra, que deixa subentendido.