Caçando carneiros

Caçando carneiros Haruki Murakami




Resenhas - Caçando Carneiros


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Sarah | @only_a_snowflake 20/04/2021

Você já caçou um carneiro? | Booktalk sem spoilers
Gostaria que alguém tivesse me avisado de que se você ler 1 livro do Murakami não é possível parar até ler todos os livros do autor. Que dó do meu bolso :/

Caçando Carneiros é um livro bastante peculiar. O personagem principal, que não conhecemos o nome, vê sua vida tediosa e pacata virar de ponta cabeça a partir do contato com o "Secretário" de um figurão de extrema direita que convoca nosso protagonista a encontrar um misterioso carneiro com uma mancha de estrela nas costas dentre os 5 mil carneiros existentes em Hokkaido, com apenas uma foto como referência.

Neste livro vamos encontrar um gama de pessoas com "habilidades especiais", sejam orelhas sensitivas ou pessoas telepatas. O que mais gostei nesse livro é começa a acontecer tanta bizarrice na vida do narrador que chega um ponto em que quando ele conhece um homem-carneiro (pasmem!) ele nem sequer tenta entender, apenas aceita os fatos kkkkkk.

Sinto-me na obrigação de alertar ao leitores de primeira viagem de Caçando Carneiros que a obra tem um twist nas últimas 30 páginas, se tornando quase uma história de terror. Fiquem avisados.

Ao meu ver, o livro faz uma relação sobre a caçada do tal carneiro mágico com a obsessão. Como o fato de estar tão obstinado a encontrar/realizar algo que todo o restante simplesmente é esquecido, e quando o motivo da obsessão cessa, tudo o que resta é uma casca vazia. Não quero dar spoilers, por isso meu comentário vai ficando por aqui.



"É claro que todo ser humano tem suas fraquezas. Mas a fraqueza verdadeira é quase tão rara quanto a força verdadeira. Você não conhece essa fraqueza que arrasta incessantemente para as trevas. Mas ela existe, de fato. Você não pode resolver todos os problemas generalizando-os."

BGM: Ash Like Snow (the brilliant green)
//My hopes are alone in the desolate night sky,
They soared high until they were crushed
Each time the world changes shape,
The things I want to protect,
I end up breaking them//
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Larissa 04/12/2020

A leitura foi muito lenta e monótona na qual me fez pensar várias vezes se continuava a leitura ou se abandonava o livro. Quando cheguei na metade começou a ficar mais interessante e a leitura se tornou menos cansativa. O fim do livro não foi dos piores, mas criei expectativas que não foram preenchidas. Apesar disso, o universo que o Murakami cria em cada livro é extremamente única e faz compensar a leitura.
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@buenos_livros 06/02/2021

Caçando Carneiros - Haruki Murakami ??
Como todo livro do Murakami que li, este me prendeu pela excentricidade e por uma ter uma linha narrativa que pode levar a história para qualquer lugar. Nesse caso temos um personagem transformado em detetive flertando com o sobrenatural. Fiquei apegado a? histo?ria, mas confesso que Murakami a?s vezes e? maluco demais para mim.
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Trecho:
?Tempo e? uma coisa irremediavelmente encadeada, na?o e?? No?s e? que tendemos a nos confundir a?s vezes porque estamos habituados a corta?-lo de acordo com o nosso tamanho.?
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Carlos Eduardo 17/05/2015

Estranhamente bom
Depois que li a trilogia "1Q84" e "Do que eu falo quando eu falo de corrida", decidi me aventurar por mais uma obra do famoso escritor japonês e o resultado foi bem animador: Escrita envolvente, descrição dos ambientes fantástica, elementos da cultura ocidental bem presentes e história muito maluca, fruto de uma imaginação generosamente fértil. Neste livro, o Autor, assim como em "1Q84", escrito muitos anos depois, não revela todos os fatos e não conclui a obra com um desfecho conclusivo, todavia, isto não retira o brilho de sua escrita e de sua capacidade absurda de envolver o leitor. Ocorre que, por deixar, de fato, pontas soltas, o livro poderá decepcionar os leitores que preferem histórias mais amarradas. De toda forma, gostei muito do livro e acho que os mistérios não revelados o deixam mais divertido ainda. Uma boa leitura.
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Ricardo 15/02/2024

Esse livro ser uma continuação dos outros foi uma escolha apertadíssima. A gente já tem todo o background dos personagens, de toda a introspecção trazida nos outros livros, e isso não é abandonado, ao mesmo tempo que é introduzido um mistério na história, a questão dos carneiros, que achei super divertida. O jeito que o Murakami mistura o estranho e sobrenatural com o cotidiano é algo que sempre me agrada muito, e leva a umas resoluções satisfatórias e inesperadas. Gosto também dos personagens pragmáticos presentes, com o pensamento de lamentar menos os problemas absurdos e injustos, e mais aceitá-los e fazer o que se tem ao alcance pra resolvê-los.
Wercton 15/02/2024minha estante
Aguardando o vídeo ?


Ricardo 15/02/2024minha estante
*acertadíssima kkkkkkk


Lianlian 19/02/2024minha estante
Ele é um continuação dos anteriores?? Você sabe me dizer a ordem para ler?


Ricardo 19/02/2024minha estante
Seria primeiro Ouça a canção do vento, depois Pinball, 1973 e depois esse. Mas isso não é obrigatório, os eventos dos livros não se influenciam praticamente, no máximo são mencionados. O legal de ler na ordem é só que a gente conhece bem alguns personagens




Alexandre Kovacs / Mundo de K 07/10/2015

Haruki Murakami - Caçando Carneiros
Editora Objetiva, Selo Alfaguara - 336 páginas - tradução direta do japonês por Leiko Gotoda.

Somente Haruki Murakami seria capaz de imaginar e desenvolver uma trama tão absurda e inverossímil quanto a deste romance que envolve, entre outras situações, a estranha paixão do protagonista pelas orelhas perfeitas de uma mulher com um aguçado sexto sentido, a busca por um carneiro mágico capaz de proporcionar poderes especiais ao chefe de uma organização secreta e até mesmo a possibilidade de conhecer um número de telefone com acesso direto a Deus. Como sempre, os personagens de Murakami são confrontados com um universo fantástico e paralelo que é subitamente apresentado em meio ao rígido cotidiano das grandes metrópoles japonesas. O romance tem a ação ambientada no final dos anos setenta na cidade de Tóquio e também na distante região gelada de Hokkaido, norte do Japão, local isolado e inóspito, tradicional pela criação de carneiros, implantada em 1918 para o abastecimento de lã para os uniformes do exército japonês.

O romance é narrado em primeira pessoa por um protagonista curiosamente sem nome, assim como todos os outros personagens, inclusive o gato de estimação que ganha o apelido de sardinha (sempre existe um gato nos romances de Murakami). O personagem-narrador é completamente desinteressado em levar uma vida enquadrada nas convenções e princípios tradicionais da sociedade japonesa, ou seja: estudo, trabalho e família. Ele é um jovem publicitário de trinta anos, solitário e já acostumado a algumas perdas, entre as quais um casamento interrompido precocemente e sem filhos, quando é procurado pelo secretário de uma poderosa organização clandestina que quer saber mais detalhes sobre uma foto publicada por sua agência, onde inocentes carneiros aparecem pastando em um prado cercado por montanhas nevadas. A foto havia sido enviada juntamente com a carta de um antigo amigo, também sem nome e apelidado de Rato, que partiu em uma viagem sem volta há alguns anos.

A partir deste ponto inicia-se, por exigência e ameaças desta organização, a busca pelo protagonista de um carneiro específico que teria transmitido poderes especiais ao chefe da organização ao entrar em seu corpo, que funcionou como um hospedeiro desde muitos anos atrás (bastante estranho, não é mesmo). A insólita procura pelo carneiro, com base nas poucas pistas disponíveis, acaba conseguindo algum sucesso principalmente através das cartas enviadas pelo amigo desaparecido. Durante esta trajetória a investigação funcionará também como uma viagem de auto conhecimento e contará com a ajuda dos poderes sensitivos de sua nova namorada de belas orelhas.

"Ela tinha vinte e um anos, atraente corpo esguio e um par de orelhas das mais perfeitas, fascinantes. Era revisora freelance numa pequena editora, modelo fotográfico de orelhas e garota de programa num elegante clube, do tipo composto apenas por gente fina, bem conhecida. Qual das três ocupações era a principal eu não sabia. Nem ela. No entanto, se me perguntassem qual delas revelava seu verdadeiro perfil, eu diria que ela se apresentava com maior naturalidade no papel de modelo de orelhas. Assim pensava eu, e ela concordava. Mas o campo de trabalho de uma modelo de orelhas era restrito, baixo o status profissional e pequena a compensação financeira. Para o homem da agência de publicidade, para o fotógrafo, para o maquiador artístico e para o repórter da revista, ela era apenas a 'dona das orelhas'. As orelhas eram dissecadas, e corpo e espírito, descartados silenciosamente." (pág. 34)

Terceiro romance de Murakami, lançado originalmente em 1982, "Caçando Carneiros" tem um irresistível charme de literatura policial noir (Raymond Chandler é uma das influências de Murakami) e foi um dos motivos do seu sucesso imediato entre os leitores ocidentais, além disso o livro é considerado pelo próprio autor como um marco do verdadeiro início do seu estilo. Na minha opinião é um dos romances em que ele mais avança no fantástico e no terreno simbólico dos sonhos como podemos constatar no trecho abaixo em que é apresentado o curioso homem-carneiro (mais nonsense do que isto impossível, até mesmo para Murakami).

"O homem-carneiro vestia uma pele de carneiro que o cobria da cabeça aos pés. A vestimenta ajustava-se perfeitamente ao físico atarracado. A pele na região dos braços e das pernas tinha sido costurada posteriormente. O capuz que lhe envolvia a cabeça também era uma fantasia, mas os chifres espiralados que saíam do alto do crânio eram reais. Duas orelhas achatadas, obviamente estruturadas com arame, projetavam-se em sentido horizontal dos lados do capuz. A máscara que lhe envolvia a metade superior do rosto, assim como as luvas e as meias, eram feitas do mesmo couro preto. Um zíper ia desde o pescoço até as entrepernas, para facilitar o trabalho de vestir e despir." (pág. 276)
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Ed 09/10/2015

Uma história modesta, pra não dizer pobre
Esse é o quarto título que leio de Haruki Murakami. Como sempre, o que mais me cativou foi a narrativa fluida dele. Porém, no geral, achei o livro muito no sense com um final sem explicação. Lembro que em "Norwegian Woods" e "Após o anoitecer" o autor fez a mesma coisa e terminou o livro com várias pontas soltas. Parece que, infelizmente, ele tem esse jeito de terminar histórias como parte do seu estilo. É o único detalhe que não gosto nos livros do Murakami. No geral, não vejo Caçando Carneiros como um livro ruim, mas também não é bom. Apenas na reta final ele me empolgou, contudo, até a última etapa a leitura foi norteada de detalhes quesó serviam para ambientação sem qualquer influência no desenvolvimento da trama. Pelo modesto conteúdo, acredito que ela caberia em umas 70 páginas se for falar somente do que interessa.
Apesar de ainda não ter me cativado como em 1Q84 (seu melhor título), Murakami ainda é um dos meus autores prediletos. Entretanto, ler um novo título seu agora vai levar mais tempo do que o planejado, já que a cada livro a expectativa diminui.
Paula H. 02/01/2016minha estante
Não posso falar muito por ter lido apenas esta obra dele, então ainda não conheço outros livros do Murakami. Mas não acredito que a história "caberia em umas 70 páginas se for falar somente do que interessa". Considerando como Murakami criou o narrador, as frases que ele próprio diz sobre si mesmo, achei muito relevante as descrições mesmo das situações monótonas e banais. Pode ter lhe parecido que "não interessa", ou não é relevante, mas, desculpe-me, a meu ver, soou totalmente importante para a obra. Se tivesse apenas as "70 páginas", acredito que a obra não seria tão boa quanto ela é.
Desculpe-me o comentário, só achei que a obra merece uma atenção quanto a isso.


Ed 07/01/2016minha estante
Entendi. É que já li histórias mais curtas com uma quantidade de informações relevantes muito maior, por isso acho que essa história daria sim em 70 páginas. Mas cada um vê de uma forma, é isso que torna a literatura tão interessante.


Pedro.Cruz 30/01/2016minha estante
A descrição exarcebada é uma forma de criar uma atmosfera de suspense e situar na época.
1Q84 possui uma natureza descritiva também. Similar a livros de fantasia.

A diferença é que o foco desse livro é no ambiente e 1q84 aos personagens. Deduzo isso pelo fato dos personagens não terem nomes e serem bem superficiais em relação ao passado.
Diminui-lo a 70 paginas o transforma em um simples conto envolto em mitologia.


thaynamachado 04/11/2021minha estante
olha as mensagens por favor




Felipe 31/01/2016

Talvez seja fantasioso demais...
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dieipi 11/06/2022

coisa linda
Ali estava eu refletido fielmente da cabeça aos pés. Parado diante dele, contemplei-me por alguns instantes. Nada especial, digno de nota. Eu era eu mesmo, e ali estava com a mesma expressão ambígua de sempre no rosto. Apenas a imagem refletida era nítida demais. Nela faltava o caráter unidimensional das imagens espelhadas. Ao invés de ser eu contemplando minha imagem no espelho, eu era a minha própria imagem unidimensional contemplando o eu real. Ergui minha mão direita e limpei a boca com as costas da mão. O ?eu? refletido no espelho fez o mesmíssimo gesto. Mas talvez fosse eu que tivesse repetido o gesto do meu reflexo. Agora, não sabia mais com certeza se eu realmente limpara a boca com as costas da mão por minha livre e espontânea vontade.
Guardei a expressão ?por livre e espontânea vontade? na cabeça e, com o polegar e o indicador da mão esquerda, prendi minha orelha. Meu reflexo no espelho repetiu o gesto. Pareceu-me agora que ele também guardara na cabeça a expressão ?por livre e espontânea vontade?.
Desisti e me afastei do espelho. Ele também se afastou.
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Alan Martins 21/04/2017

O surrealismo continua
— As células se renovam a cada mês, até mesmo neste exato momento em que conversamos — disse ela estendendo a mão delicada diante dos meus olhos. — Quase tudo o que você pensa saber a meu respeito são apenas lembranças. (MURAKAMI, H. 2014, p. 183-184)

Esta obra, que é uma mistura de muitos gêneros, é o último livro da chamada “Trilogia do Rato”, além de ser o primeiro romance publicado do grande nome da literatura japonesa contemporânea, Haruki Murakami. Bem, essa é a parte final da trilogia, porém o livro “Dance dance dance” (Alfaguara, 2015), funciona como um quarto episódio, talvez como um epílogo; porém não é tão parte da trilogia por trazer apenas alguns personagens dos livros anteriores. Enfim, aparentemente é uma trilogia, que possui um quarto livro com uma certa conexão. “Caçando carneiros” segue a história do protagonista sem nome e de seu amigo, o Rato, apresentados nas histórias anteriores “Ouça a canção do vento & Pinball 1973” (Alfaguara, 2016). Veja a resenha que fiz sobre essas duas novelas que foram publicadas em volume único aqui no Brasil.

O SURREALISMO CONTINUA, PORÉM COM ALGUNS ACRÉSCIMOS
Podemos classificar esse romance como surreal, assim como as duas obras que o antecedem. Muitas dessas características foram mantidas e muito melhor trabalhadas pelo autor. É notável a melhora que sua escrita sofreu. O enredo se passa em um mundo real, o Japão do final da década de 70 é apresentado, porém a construção da narrativa adiciona certos elementos que fazem esse mundo real parecer irreal. É algo bem louco, porém que funciona. Até por isso podemos classificar o livro como “Realismo mágico”.

No primeiro livro da trilogia, o surrealismo imperava. O enredo até não possuía muito sentido, o que foi melhorado no segundo, entretanto a bússola continuava apontando para uma única direção, ou melhor, não apontava para lugar algum. Já nesse terceiro episódio, muito disso ainda está presente. Vejamos alguns exemplos. Nessa história, nenhum personagem possui nome, talvez até possuam, mas são referidos pela profissão, ou pela relação que possuem com o protagonista, também sem nome. Apenas temos o Rato, que nem é um nome, o J e o gato velho que o protagonista cria, que recebe um nome na metade do livro, sendo batizado de Sardinha. Esse gato garante alguns momentos cômicos. Temos a namorada do protagonista, dona de um certo poder, com suas lindas orelhas sendo capazes de “ouvir coisas”, como um sexto sentido, uma percepção apurada. Além disso, são as orelhas dela que cativam o protagonista. Temos também a figura de um mítico carneiro que movimenta a história, sendo o objetivo principal da trama.

O que torna esse um romance surreal é o fato de tudo ser levado de maneira natural por todas as personagens. Ninguém questiona a lógica de nada, até porque isso estragaria a magia e o encanto que o livro proporciona. Fora o surrealismo, temos a adição de elementos de mistério e aventura. Boa parte do enredo se foca em uma busca, que não é repleta de ação, mas sim envolta por um grande mistério a ser desvendado. Ademais, temos uma generosa dose de humor, o que faz a leitura ser gostosa e nada pesada. Cada elemento da construção do enredo contribui para esse lado humorístico. A narração em primeira pessoa ajuda nisso.

Uma outra característica que se manteve foi a de as personagens beberem muita cerveja e serem fumantes ávidos. Porém, aqui, houve a adição de suco de uva, algo que todos bebem, parece que só existe suco de uva, nenhum outro. Falei que muita coisa não faz sentido.

INTERESSANTE OS ELEMENTOS QUE COMPÕEM O ENREDO. MAS, DO QUE SE TRATA?
Não se trata de uma continuação direta, não do ponto exato onde “Pinball 1973” terminou. Alguns anos já se passaram, o protagonista expandiu seus negócios, até se casou. A história começa triste, com o protagonista separando-se de sua esposa, e até essa uma cena apresentada de maneira surreal. E, pouco tempo depois, de forma (advinha qual? Surreal, acertou!), ele encontra uma nova namorada, dona de belas orelhas, que vai acompanha-lo pelo resto do enredo. O Rato, um personagem que sempre foi misterioso e instigante, aparece pouco, fisicamente menos ainda. Há algumas cartas que ele escreveu ao protagonista e podemos saber um pouco do que aconteceu por ele através delas. J, dono de um bar na cidade natal do protagonista, também aparece bem pouco.

O foco da narrativa é mais no protagonista. O objetivo do enredo fica mais claro quando um homem trajando terno, que trabalha para o dono de uma grande corporação, muito influente na política e na economia do Japão, entra em cena. Seu pedido? Que o protagonista encontre um carneiro que seria detentor de poderes especiais, pois o Chefe precisa muito encontrar esse animal. Sem contar muito sobre o enredo, essa é a aventura na qual embarcamos.

UM LIVRO ÚNICO, ORIGINAL E CRIATIVO
São poucos os autores que conseguem criar uma mitologia fantástica dentro de um mundo real. Murakami conseguiu isso. A história do carneiro acaba se tornando crível com as explicações históricas que são apresentadas. Não são simples fatos jogados na cara do leitor, não, há a tentativa de firmar esse lado fantasioso. Criou-se o mito desse carneiro detentor de poderes especiais, há todo um pano de fundo. Quem ler esse livro aprenderá um pouco sobre carneiros e ovinocultura, além de desfrutar de uma boa leitura.

O autor criou uma cidade fictícia, chamada Junitaki. É uma cidade pequena, bem construída e caracterizada. Mas Murakami decidiu ir além e criou uma história para a cidade. Ele narra como a cidade foi colonizada, como ela começou do zero e se desenvolveu. Nem parece que se trata de uma cidade que não existe no mundo real.

Um grande clima de mistério toma conta do enredo a partir de certo momento. Isso motiva a leitura, faz com que a vontade de virar as páginas o mais rápido possível tome conta do leitor. Esse carneiro vai prender a sua atenção. E o Rato? Caramba, o que será que aconteceu com esse personagem tão legal? As outras personagens que compõem a trama também são legais e interessantes, como a namorada do protagonista.

Grande parte dos diálogos apresentam um tom filosófico. Não são falas rebuscadas ou difíceis. São simples e bem colocadas. Boa parte das conversas entre o protagonista e sua namorada são dessa forma. Não são falas românticas, de amor. Não há muito disso no livro, frases bonitinhas, de paixão. Os dois fazem muito sexo e se gostam, só.

Ler os romances anteriores é muito recomendável. Não que seja necessário para a compreensão, porém quem não os ler perderá muita coisa, mesmo que não fique confuso com o enredo.

PARTE FÍSICA
Quanto a isso, não há sobre o que reclamar. Essa edição segue o padrão das publicações da Alfaguara. Apresenta capa comum, com orelhas, fonte de bom tamanho, papel de qualidade para as páginas, ou seja, Pólen Soft. A tradução é a mesma da edição publicada em 2001 pela editora Estação Liberdade. Leiko Gotoda, que foi pioneira na tradução de livros diretamente do japonês para o português do Brasil, contribuindo muito para a popularização da literatura nipônica por aqui, traduziu essa obra de maneira exemplar. Achei interessante a tradutora utilizar muito a palavra “lusco-fusco”. Não que isso seja ruim ou bom, é apenas uma curiosidade. Os revisores fizeram um bom trabalho também, encontrei apenas dois erros gramaticais, porém nada que prejudique ou que seja um erro gravíssimo.

O VEREDICTO
Muito mais do que recomendado. Murakami é um autor mágico, que consegue transformar o real em fantasia e vice-versa. Não há muitos autores que conseguem escrever da mesma forma que ele. Sua escrita é muito influenciada pela música e isso se reflete em seus livros, com muitas referências musicais. “Caçando carneiros” é uma história mágica, surreal, que não pode ser levada na seriedade, pois seu tom é humorístico, o que proporciona uma leitura deliciosa e rápida. O livro é dividido em vários capítulos e subcapítulos, deixando-o dinâmico e nada cansativo. Aproveite para conhecer um pouco da cultura japonesa, apesar de esse não ser o autor mais japonês que existe, já que a cultura ocidental é a grande referência de Murakami. A “Trilogia do Rato” é uma trilogia única, mágica e divertida, não se vê por aí muita coisa parecida.

Minha nota (de 0 a 5): 4,5

Alan Martins

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site: https://anatomiadapalavra.wordpress.com/2017/04/21/minhas-leituras-15-cacando-carneiros-haruki-murakami/
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Luiz Miranda 10/03/2021

Um Carneiro Para a Todos Governar
Eu botei os olhos num livro do Murakami e percebi que ali havia algo diferente, uma conexão quase que imediata. Dono de um texto límpido, austero, rigoroso, Murakami transforma o trivial em sublime. É um exemplo do puro poder de sedução da escrita.

Em Caçando Carneiros, livro de 1982, acompanhamos o protagonista numa busca por um carneiro supostamente especial, não se deve falar mais nada sobre a história. O livro inteiro é permeado por uma atmosfera onírica, um sentimento incomodo e inexplicável de desconforto, de estar preso a um sonho que a qualquer momento pode virar pesadelo.

O escritor se equilibra muito bem no delicado território do surrealismo. A trama se desenrola sem pressa e mantem o interesse até o fim. Em determinado ponto passei a ter dúvidas se o escritor conseguiria tirar o coelho da cartola e concluir tudo de maneira satisfatória. Não só consegue como surpreende.

Murakami não é um escritor do gênero horror, mas acaba sendo mais assustador que a maioria deles. Baita livro fora da curva, experimente.

4 estrelas
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Emanuel.Silva 07/01/2019

Um ponto de partida interessante
Caçando Carneiros é o sétimo livro que leio de Haruki Murakami, os dois últimos antes desse foram Ouça a Canção do Vento publicado em 1979 e Pinbal, 1973 publicado em 1980. Mas o que isso tem de relevante em meu comentário? Estes dois livros foram os primeiros romances publicados pelo autor, são o seu ponto de partida, o inicio de sua carreira, neles encontramos uma escrita muito pautada no real, temos bastante referências a cultura pop, diálogos de jovens adultos em crises existenciais, rotinas do dia a dia e etc. uma especie de reflexo do que seria de certa maneira parte da vida do autor, é um técnica bem utilizada em alguns estilos dos anos 80.
Após escrever seus dois primeiros romances, Murakami publica em 1982 seu terceiro livro, este que acabei de ler Caçando Carneiros. Aqui Murakami se deleita com a ambiguidade de sua escrita, os diálogos e questões existenciais melancólicas de um protagonista passando pelo crise da meia idade são encontradas em todo o inicio do livro, as referências de cultura pop também, e é com um personagem sem nome (que não da nem nome ao seu gato de estimação) que embarcamos juntos em uma busca a lá on the road por um carneiro misterioso com uma estrela na pelagem. A partir da metade de seu livro, Murakami embarca, cria e abre portas para o surrealismo em sua obra, é em "Caçando Carneiros" que o autor japonês passa a exercitar aquilo que vai marcar grande parte de seus livros, a mistura da monotonia e certeza do real com a incerteza, inconsistência e agitação daquilo que nos escapa do real, daquilo que é sonho, que é mistico e ilusório.

Murakami me faz ler e acreditar naquilo que o personagem experiencia, sendo real ou não, espiritual ou magico, coisas da cabeça de suas personagens ou acontecimentos realmente concretos para todos ali, Murakami transforma o belo de natureza intocável em algo tão mistico e imaculado que uma leitura se torna pouco para saborear suas narrativas.
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Amanda.Moreira 18/05/2022

Já tinha começado a ler esse livro antes e abandonei, nao me arrependo de ter terminado a ler até porque é meu primeiro livro do autor, mas nao senti empolgação lendo, na verdade eu não lembrava durante o dia q estava no meio dessa história. Murakami escreve a história de um personagem que tá tudo certo pra ele sempre, o que pode ser ruim sendo q a vida o leva e ele não faz nada a respeito e tb bom, talvez o autor queria demonstrar ai uma nova filosofia de vida.. No final tem pontas soltas, situações que não entendi, mas não pretendo ler de novo para tentar compreender. Acredito que esse não seja meu estilo de leitura..
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Gabriela M. 18/08/2020

Resenha da minha primeira leitura de Murakami
Caçando carneiros, Haruki Murakami

Muitos conhecem ou já viram o nome desse autor nas livrarias e sebos. Meu primeiro contato com Murakami foi brevíssimo: uma amiga devorava 1Q84. Ela tentava explicar o quanto gostava dessa trilogia e como tinha algo em comum com o livro 1984, de George Orwell. Enquanto ela, que sempre considerei prolífica sobre infinitos assuntos, ficou sem conseguir me dizer a trama entre entusiasmos, fui marcada pelo pensamento: um dia vou ler esse autor.

Li 1984 em março de 2018. Sei o mês e o ano da leitura porque fui devastada por aquela distopia; por muitos meses nenhum livro parecia me remeter à profundidade de sensações e sentimentos que tive. Até hoje, talvez não saiba dizer outro livro tão impactante. Um dos pensamentos instantâneos, daqueles que não se sabe como achou seu caminho de volta ao plano de atenção principal e que fica somente um minuto em cena foi: poderei ler 1Q84.

O mundo dá voltas, e a mesma pessoa que me emprestou 1984 recebeu o exemplar de Caçando carneiros como um presente meu. Depois de ter sido lido e de um certo tempo decorrido, o livro encontrou meu olhar e a leitura começou. Esse mesmo objeto que tem em suas linhas uma narrativa específica, me recordam afetividades. Esse sentir da literatura me fazia falta. O compartilhamento, as discussões, os empréstimos, as consultas, as retomadas, as leituras de trechos em voz alta. Isso tudo havia desaparecido aos poucos ao longo de alguns anos de leituras individuais e, em um período de isolamento social combinado com muita conexão virtual, finalmente voltou.

Acredito que é por isso que escrevo agora. Vamos, então, ao livro. Seus personagens não são nomeados: conhecemos alguns por apelidos, outros por descrições físicas ou pelo que são em relação a outra pessoa. Exemplo disso são a garota com orelhas incríveis, J, Doutor Carneiro, Rato, Chefe, o “secretário”. Até o gato não tem nome. E, como um bom universo construído, isso faz sentido e não faz falta alguma.

A trama começa já mostrando que o clima e a narrativa serão repletos de anedotas e pensamentos fluídos. Temos como narrador um personagem principal - sem nome, publicitário e recém-divorciado -, sendo sua maneira de pensar e responder aos acontecimentos o que mais me conectou ao livro. Parece que tanto os segundos observando o nada quanto os acontecimentos fantásticos são percebidos de maneira sagaz e irônica. Este homem, que vive no Japão e é um dos sócios de uma agência publicitária, chama a atenção de uma organização absurda por um de seus trabalhos. Acredito que mais informações que essas sobre o enredo seria uma antecipação de conclusões de pequenas tramas e dúvidas.

Nosso publicitário reflete muito sobre o passar do tempo - ele logo fará 30 anos. Ainda não li “Em busca do tempo perdido”, mas impossível não remeter à essa obra quando três de oito capítulos foram intitulados “Em busca do carneiro” (I, II, III). Ao falar de tempo, também se fala da Vida, do mundo, do universo além de si.
Selecionei um trecho da página 108 para demonstrar a fluidez do pensamento sobre passado, tempo e mundo. É longo. Discorrer sobre reflexões rápidas exige extensa descrição para que, quem não as estão pensando, as entendam:


“Fez-me lembrar certa garota que conheci no tempo em que eu frequentava o terceiro ano primário e aprendia piano. Ela e eu tínhamos idade e nível de aprendizado semelhante e, por causa disso, treinamos juntos algumas vezes. Já não sabia como se chamava ou qual era sua aparência. Recordava-me apenas de seus dedos, longos e brancos, dos cabelos bonitos e do vestido vaporoso. Não consegui me lembrar de mais nada além desses detalhes.

Que estranho, pensei. Eu lhe havia extirpado os dedos, os cabelos e o vestido, e o que restara dela devia viver ainda em algum lugar. Impossível, naturalmente. O mundo continuava a girar, independente de mim. Independente de mim, as pessoas cruzavam o asfalto, apontavam lápis, locomoviam-se para o leste à velocidade de cinquenta metros por minuto ou executavam perfeitamente melodias de conteúdo zero em saguões de hotel.

Mundo. A palavra tinha o dom de me trazer sempre à mente uma imagem da tartaruga e dos elefantes gigantescos sustentando um disco monumental. Os elefantes não percebem o papel da tartaruga, a tartaruga por sua vez não percebe o que os elefantes fazem, e nenhum deles tem noção do que vem a ser o mundo.”

A história é bem encerrada. A trajetória do nosso narrador que acompanhamos ao longo de mais ou menos três meses é concluída com a sensação de que sim, é isso que podíamos conhecer desse publicitário e muito mais do que deveríamos saber sobre o carneiro, se essa ficção fosse real.

site: https://floreslivrosetempo.blogspot.com/2020/07/cacando-carneiros-haruki-murakami.html
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