Indignação

Indignação Philip Roth




Resenhas - Indignação


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Fernando 21/05/2011

Desde quando é preciso um final feliz?
Há muitos motivos para não se gostar de um livro. Certamente a infelicidade do protagonista não é um deles. Se você terminou de ler o livro e se sentiu incomodado com o destino do personagem principal, seja porque teve pena seja porque acreditava que merecia melhor sorte, ponto para o autor e para você. O livro não se chama Indignação à toa. Se o autor conseguiu transmitir-lhe o sentimento que desejava, a sua obra merece nossa admiração.

Ao longo da narrativa o protagonista fica indignado por diferentes motivos. Eu, porém, fico indignado com o fato de meu futuro depender, muitas vezes, de escolhas insignificantes feitas ao longo de um dia comum. É espantoso descobrir que uma escolha qualquer, certa ou errada, pode determinar meu futuro. Posso não estar com fome, mas a simples decisão de ir à padaria da esquina pode levar ao encontro de um novo amor, do amor da minha vida, de um assaltante ou da morte. É justo?

Esse imponderável que cerca nossas vidas sempre chamou minha atenção. Provavelmente pela minha própria história. Quando encontrei um romance que ilustrava esse aspecto da vida com muita competência, não havia como não ter a obra em grande estima.
Cláudia 24/05/2011minha estante
Fiquei curiosa. Adoro uma estória triste e/ou imprevisível, que consiga surpreender. Concordo contigo, não é preciso que o desfecho tenha de agradar ao leitor para ser considerado uma leitura digna de respeito.


jota 30/11/2011minha estante
Fernando: Terminei de ler ontem este livro. Muito apropriada sua resenha. Não tenho nenhum reparo a fazer. Somente gostaria de lembrar que as páginas sobre a iniciação sexual de Marcus Messner, o protagonista, e seu debate sobre as ideias de Bertrand Russell com o reitor Caudwell são, na minha visão, dois pontos altos da novela. E o livro todo é um alto momento na literatura de Philip Roth. "Indignação" é excelente, mesmo.


Renata CCS 25/10/2013minha estante
Você despertou meu interesse para esta leitura.
Muito instigante a sua resenha!




Bianca674 27/03/2021

Instigante
Instigante do início ao final. Embora o destino do personagem principal seja revelado logo no início do livro, a forma como desfecho se desenrola é ao mesmo tempo surpreendente e previsível. Foi a minha primeira leitura de Philip Roth e foi uma excelente experiência. Ansiosa pra ler outros títulos do autor, o próximo será Nêmesis enviado pela Tag nesse mês de abril de 2021.
Carolina.Lara 27/03/2021minha estante
Estou lendo Nêmesis! Estou gostando muito!!!


Bianca674 28/03/2021minha estante
Você é assinante da Tag também? Achei o projeto gráfico desse mês lindíssimo!!


Carolina.Lara 30/03/2021minha estante
Ainda não! ? Faculdade e pós apertam a vida da gente! Mas pretendo!!




Leo 06/07/2009

Já disse Camus que rebelde é o homem que diz não. Nesse sentido, Marcus Messner, o protagonista de “Indignação”, talvez seja um rebelde: é capaz de dizer não à hipocrisia, ao conformismo, às convenções e até mesmo a Deus.

Mas o preço que Messner irá pagar por essa suposta rebeldia (ou seria coerência?), a partir do momento em que entrar na universidade e passar a lidar com uma série de questões até então inéditas para ele, é completamente incompatível. A sensação de absurdo diante de seu terrível destino (não estou estragando a surpresa, ele é apresentado já no início da história) é apenas ressaltada pelo fato de que inúmeras tramas paralelas são deixadas em aberto ao final do livro.

Durante as páginas deste pequeno romance (são pouco mais de 150 páginas que prendem o leitor do início ao fim), Philip Roth aborda com extrema pertinência temas como ética e deslocamento, e mostra como pequenas decisões em nossas vidas, em grande parte tomadas por terceiros, podem ter consequências gigantescas.
Matheus Lins 04/03/2010minha estante
Sucinta e rica. Uma das melhores resenhas que já li neste site.


Peônia 13/04/2011minha estante
Concordo plenamente Matheus Lins! =)


DIRCE 07/06/2012minha estante
Sucinta e rica. Uma das melhores resenhas que já li neste site. (II)




Leila 12/08/2022

Eita, que agora eu estou enrascada, rs. Falar de um livro do Roth num é tarefa fácil, mas vou tentar. Acho que não é segredo para ninguém que curto para caramba esse autor e do ano passado pra cá estou lendo com uns amigos suas obras mais significativas e a cada livro lido fico mais surpreendida com a genialidade do "homi". Não existe um livro igual ao outro, ele nunca usou fórmula em suas obras, é simplesmente sensacional. Confesso que teve alguns que não gostei tanto, mas em todos reconheço a maestria do cara. Bom, mas vamos à Indignação, um livro curto (171págs) mas que fala muito.
Primeiro me pegou por eu ser mãe e na história ter um pai temeroso pelo filho, querer protegê-lo a todo custo, porque afinal "qualquer coisinha" pode dar ruim e pronto, ficamos sem o filho (no que ele não está errado, claro), mas ninguém consegue viver assim, né? e é justamente essa tensão que acaba distanciando pai e filho e levando nosso mocinho a ir cursar a faculdade em uma cidade longe da casa dos pais.
Outro ponto que achei massa demais é que o garoto era muito turrão em seus conceitos e em ser "quem era", em ser ele mesmo e focado no que queria, que naquele momento era estudar, ser um bom aluno e não decepcionar os pais (quem nunca?) e com isso ele acaba vivendo vários problemas sociais na universidade, problemas de convivência mesmo, situações que o colocam em maus bocados.
A efemeridade da vida permeia o livro todo, da primeira à ultima página e mais, como nossas escolhas, nossas pequenas ações nos guiam para situações adversas, nos mostrando que mesmo a gente tendo a melhor das intenções, o melhor dos planos e mesmo focados nas coisas certas, o "trem" descarrilha e não tem jeito, a tragédia é certa! Ou seja, meus amigos, lutas e derrotas!
O Roth não dá ponto sem nó e em todos seus livros você sempre encontrará críticas políticas, críticas ao "american way life", à religião e/ou ao que ele estava inspirado na época, o cara não tinha medo de nada e mandava ver nas palavras, doesse a quem doesse, e aqui em indignação ele usa a Guerra da Coréia como pano de fundo para a história do nosso mocinho. O garoto estava nessa ânsia toda de ser "perfeito" porque não queria ser convocado e fazer jus às premonições trágicas do pai super protetor. Agora se deu certo ou não, você terá que ler para saber, rsrsrs
Alê | @alexandrejjr 13/08/2022minha estante
Interessante, Leila. Esse não estava na minha lista, mas depois da tua resenha vou pensar a respeito desse título do grande e saudoso Roth!


Leila 14/08/2022minha estante
Alê, até o mais simples livro do Roth nunca é simples, o cara é genial e sempre tem mto a dizer




Filipe Santos 04/08/2009

Perturbador!
Com certeza este foi um dos livros mais perturbadores (talvez tenha até sido o mais perturbador) que eu já lí na vida. A história é muito boa e os personagens são interessantes. Mas o final é uma obra-prima.
Com excessão das oassagens de conteúdo moral inadequado, é um ótimo livro.


Palazo 10/01/2012

Indignação (Philip Roth)
Marcus Messner é um jovem de dezoito anos exemplar. Dividindo seu tempo entre o estudo, prática de esportes – beisebol – e o trabalho no açougue do pai, que mesmo não gostando do cheiro de “sangue e sebo” desempenha sua função como fora-lhe ensinado pelo patriarca no corte da galinha: “Abre o cu com um corte, enfia a mão bem fundo, agarra as vísceras e puxa para fora. Nauseabundo e repugnante, mas tinha de ser feito”.
O fato de ser o primeiro Messner a entrar na universidade é outro fator que enche de orgulho os pais de Marcus. Mas que também causa a transformação de uma história simples e pacata sobre o relacionamento entre pai e filho em uma reviravolta de acontecimentos, descobertas e conflitos na vida do jovem Messner que mudam a condução do livro e presenteiam o leitor com a narrativa arrebatadora de Philip Roth.
O livro Indignação, lançado pela Companhia das Letras, é o segundo da tetralogia composta também por “Homem Comum”, “A humilhação” e “Nêmesis”. Apesar da obra destoar de outros livros de Roth ao não abordar os temas da velhice, alguns questionamentos identitários são mantidos, como o conflito judaico no cenário cristão norte-americano.
Mas o que mais impressiona na obra de Roth é o poder narrativo do autor. Logo nas primeiras páginas do livro já é anunciado o destino do protagonista – a morte – que também está explícito no nome do capítulo de abertura, e majoritário da obra, chamado “Sob o efeito da Morfina”.
A comparação com Brás Cubas de Machado de Assis é inevitável, apesar de morar a dúvida se o narrador de Indignação está de fato morto no decorrer dos fatos. Mas assim como no romance de Machado, o desfecho não é o ponto chave da obra de Roth, mas o poder narrativo na condução de fatos corriqueiros que levaram Marcus ao seu destino.
Os problemas do protagonista começam com a entrada na universidade de Robert Treat, em Nova Jersey. O medo no futuro do filho único enlouquecem o pai, que passa a perseguir Marcus: “Como posso saber onde você está?”. Na esperança do retorno da sanidade do patriarca, o jovem muda-se para a distante universidade de Winsburd, em Ohio, que é uma tradicional instituição cristã.
Os conflitos ganham proporções maiores com a mudança. O foco de Marcus é unicamente o estudo – pelo menos é o que ele procura passar ao leitor – com o intuito de fugir da linha de frente da guerra da Coreia, que em 1951 vinha matando muitos soldados norte-americanos. Mas tão logo aparecem obstáculos como os companheiros de quarto, ora importunando o sono do narrador, ora com a indiferença da presença dele. Assim como também a preocupação do diretor na falta de integração do novo estudante a universidade, além das obrigatórias aulas de educação religiosa cristã – fato que gera repulsa em Marcus, que se diz ateu convicto – e a contínua loucura do pai que se agravava a cada ligação do filho para casa.
Em todos os conflitos que surgem ele opta naturalmente pela fuga perante a indignação de que sente por tudo que acontece a sua volta. Mas o envolvimento com a jovem e estranha Olivia Hutton muda os caminhos do protagonista, que não foge da jovem, mas mergulha em um mar de pensamentos provocados pela descoberta sexual, conflitos identitários e uma paixão juvenil que levam-no para o seu anunciado destino.
Quando o efeito da morfina passa Marcus perde a capacidade de contar sua própria história e é substituído. Inicia-se assim o segundo e último capítulo do livro que em poucas páginas conta, em terceira pessoa, o desfecho do jovem Messner.
Independente do seu trágico e premeditado destino, o efeito da obra de Philip Roth é impactante. A habilidade com que ele conduz a narrativa de fatos banais através das decisões e questionamentos do jovem Messner prende o leitor que é incapaz de largar o livro até a última página, e provavelmente ficará com o gosto amargo da obra por alguns dias ao tentar digeri-la.
Indignação
Autor: Philip Roth
Tradução: Jorio Dauster
176 páginas
Preço Sugerido: R$ 39,50


adriano1979 12/07/2009

Indignação é leitura obrigatória
De um simples relato de um garoto crescendo em Nova jersey em 1950 diante de várias mudanças sociais e históricas tentando sobreviver a um pai protetor se muda para outra universidade onde diante de pequenas e insignificantes escolhas que para o jovem Messner no momento não teriam muitos resultados significativos passam num curto espaço de tempo a ter devastadoras consequências que o levarão diretamente a guerra da Coréia.
Roth escreve de forma fantástica sobre a juventude suas dúvidas os primeiros contatos e descobertas do sexo de como a juventude consegue ser resistente e apaixonada para defender seus ideiais e também não mais do que presente na juventude a inexperiência.
Roth tem uma narrativa despojada bastante objetiva e além de tudo muito criativo vale a pena ser lido.
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Otávio - @vendavaldelivros 12/03/2024

“Será que a eternidade serve para isso, para que meditemos sobre as minúcias de toda uma vida?”

O que te indigna? O que te revolta e faz com que você “perca a linha”? É curioso como a indignação é tão influenciada por nossa história, nossa formação e como fomos moldados a enxergar o mundo. Indignação é um sentimento natural de todo ser humano, mas se pra muitas pessoas ela se manifesta com facilidade, para outras talvez ela nunca apareça.

Publicado em 2008, “Indignação”, do americano Philip Roth, traz a história de Marcus Messner, um jovem judeu de Nova Jersey, filho de um açougueiro kosher superprotetor, que precisa migrar para uma Universidade do Meio-Oeste americano para fugir do controle sufocante do pai. Tudo isso enquanto os EUA adentram com força na Guerra da Coreia e a sombra de um alistamento forçado começa a pairar sobre os jovens americanos.

A temática, a cultura judaica e os personagens judeus estão em praticamente todos os livros de Roth, mas fica claro que o autor era um mestre na criação de cenários, personagens e enredos que, ainda que estejam embaixo do mesmo guarda-chuva cultural, são plurais e impactantes.

Messner é um personagem que parece só querer viver sua vida, cumprir seus objetivos, alcançar suas metas, mas que, por não ter a habilidade social necessária para lidar com os ambientes e as pessoas que o cercam, acaba entrando em conflitos frequentes, além de dar voz à essa indignação. Uma indignação que se mostra muito maior do que os fatos corriqueiros, mas um efeito direto do mundo (e do pai) que o sufoca.

Muito interessante como Roth trabalha a juventude e as descobertas de Messner, um personagem muitas vezes inocente, com ideais fortes, mas que sofrem da falta de compreensão do mundo que a juventude tem.

Além de muito bem escrito, esse livro tem o que podemos chamar de plot twist no meio, que não muda a história, mas o ponto de vista de quem está lendo. A partir dessa “virada” de sentido, Roth traz algumas belas e profundas passagens em uma análise sobre a vida, a morte e o sentido de tudo. Foi meu segundo livro do Roth e definitivamente me fez querer ler muito mais do autor, além de alimentar um pouco das minhas “indignações”.
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Lima Neto 01/11/2009

um livro realmente muito bom, magnificamente bem escrito, com o estilo que consagrou o escritor norte-americano Philip Roth.
ansios, desejos, conflitos, descobertas e sonhos são os temas principais desse livro, tão complexo e, ao mesmo tempo, contado de uma forma tão simples e direta.
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Menezes 15/09/2009

Estou indignado
Estou indignado, não pelos mesmos motivos que afligem o protagonista deste romance, mas pelo fato do mesmo ser um completo idiota e não perceber isso nem tendo a eternidade para rememorar sua trágica história de 19 primaveras.
Tenho um grave problema com Phillip Roth, até o momento podendo ser ilustrado pelo dito popular do oito-oitenta. O Homem Comum foi depressivamente chato, quase caí de sono na página 40 de 120, em compensação o Fantasma saí de Cena foi um dos livros mais originais do ano passado, combinava o tom melancólico que sua escrita simples parece sempre conter, com uma análise dos demônios que assolam o país do Tio Sam recentemente, e até onde li o Complexo de Portnoy, ele era engraçado, mas não terminei por motivos que estão além de minha pessoa. Isso faz que você ao mesmo tempo fique ansioso com um novo livro, ao mesmo que apreensivo pois não sabe extaamente sobre o que vai ler. Nesse caso foi muito mais próximo do Homem Comum.
Meu problema não é com o nível técnico do escritor norte-americano, mas o nível de melancolia que ele expressa é um prato cheio para os seus fãs, mas para mim é uma ânsia tal qual a de Marcus Messner.
Aqui temos um personagem adolescente prestes que entra em uma faculdade para fugir do pai, que acha que ele está correndo perigo de vida até por atravessar a rua, completamente louco, louquíssimo para que o filho morra ou para que algo aconteça, um tonto completo, mas ele é só um coadjuvante, nosso protagonista é a sombra de uma medo crescente também, mas um medo proveniente de uma possibilidade de socialização. Na faculdade ele quer ser deixado em paz, não quer amigos, rejeita a tradição, não se junta a nenhuma fraternidade, desconfia quando uma menina se interessa por ele e despreza o diretor de uma faculdade católica, e alias, ele é ateu! Só saliento a contradição de um ateu entrar em um orgão cristão e se irritar por fazerem rituais cristãos.
A chave para entendê-lo está no diretor que resolve o quebra cabeça que é Marcus Messner, não e um quebra cabela difícil, e apesar de não precisar de uma explicação tão didática ele a fornece: Marcus sempre que vê algum desafio na vida, ou alguém que não partilhe de sua opinião foge, se esconde ou ignora, mas não tenta compreender, ou respeitar ele se põem em um nível tão alto que acha que todos são cegos, ao ser confrontado com esse disparate, faz aquilo que sabe melhor, se indigna a ponto de vomitar na sala do diretor.
Sucumbe aos pedidos da mãe, que é judia, com uma facilidade que só salienta sua falta de maturidade. Se apaixona por uma, mais pela possibilidade sexual do que por ela mesma (sério, é uma personagem plana, ele não a entende de maneira alguma, repete para si mesmo que suas atitudes são devido ao fato de ter pais separados?!) e se desapaixona porque descobrir que ela tentou se matar, posso continuar descrevendo as desventuras por horas, mas eu me irritaria.
Tenho certeza que é uma questão de gosto, seu final é um movimento natural afinal ele é um autor-defunto, e não deixa de ser engraçado pois eu já estava querendo matar o personagem! A orelha do livro diz que é um romance sobre amadurecimento, mas eu digo o contrário é um livro sobre a impossibilidade de amadurecimento e vale uma leitura, contudo vá preparado. Se você é fã, vai adorar!
http:\\metempsicose-metempsicose.blogspot.com
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Cris 15/11/2009

Indignação - Philip Roth
Muito bom livro. Mas não posso dizer que é ótimo. A trama se passa em 1951, quando os Estados Unidos estão lutando na Guerra da Coréia. Isso me deixa um tanto deslocado. Apesar de saber um pouco sobre essas guerras todas em que os norte-americanos se envolveram (Hollywood), elas não fazem parte dos meu verdadeiros conhecimentos históricos.
A história conta um pouco da vida de Marcus Messner. Uma história comum a vários jovens americanos daquela época. Jovens que tinham medo da guerra, e cuja uma das principais questões era estudar ou ser recrutado para a morte quase certa.
Mas Marcus era um jovem comum, sem necessariamente sê-lo. Sempre tinha que falar demais. Sempre o arrependimento pelo excesso de palavras. Sempre o excesso por causa da indignação. Sempre as atitudes precipitadas (ou não) pela falta de paciência. Mas quem pode julgá-lo sem vestir a sua pele?
Uma história de preconceitos. Intolerância. Conservadorismo. Uma crítica a tudo isso? Não diretamente, mas de certa forma o autor nos conduz a essa crítica. Pode-se lê-la também como uma crítica à rebeldia gratuita.
Não podemos esquecer que é uma história escrita nos anos 2000. E não em 1951. Então a crítica não é dirigida àquela época, mas a esta. E pensar que muito do que condenamos nos personagens do livro ainda existe hoje... (www.azuljanela.blogspot.com)
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jota 30/11/2011

Escolhas que mudam a vida
Neste livro, em sua maior parte passado em 1951, segundo ano da Guerra da Coreia, temos Marcus Messner, jovem estudioso, responsável e cumpridor de seus deveres ("um jovem que todo pai gostaria de ter como filho", como diz o seu próprio a certa altura) estudando numa universidade distante de casa.

Filho de um açougueiro de origem judia, vigoroso e incansável trabalhador, o rapaz se vê sufocado pelo pai louco de medo e apreensão pelos perigos da vida adulta, pelos perigos do mundo que ele vê cercar seu amado filho único por todos os lados. Enquanto está estudando, pelo menos Marcus não será convocado para lutar na Coreia: é um consolo para ele.

Por conta desse amor exagerado, sufocante, dessa preocupação excessiva do pai, a lhe seguir os passos dia e noite, Marcus decide deixar a casa da família em Newark, Nova Jersey, para ir estudar numa faculdade distante, em Winesburg, Ohio. Mudança que vai mofificar radicalmente sua vida.

Assediado pelas fraternidades de estudantes que o querem em suas associações, ótimo aluno que é, ele decide permanecer independente. Além do que, não lhe sobra muito tempo para nada, pois trabalha como garçom num bar, algumas noites por semana para ganhar alguns trocados e não depender tanto dos pais. Não liga nem mesmo quando estudantes ricos lhe pedem cerveja dizendo Ei, judeu, vem cá. Faz de conta que estão a dizer: Ei, ô meu, vem cá.

Então, a certa altura do livro, ao mudar de parágrafo, após lido o relato da primeira vez em que Marcus sai com uma garota da faculdade, Olivia, com quem tem uma experiência sexual inusitada, a primeira dele (um trecho que me lembrou o complexado Portnoy, do livro mais famoso de Roth, se bem que aqui as coisas se passem de outro modo, claro, e no automóvel de um colega de Marcus), vem uma passagem para a qual eu não estava assim tão preparado. Não mesmo.

Mas a vida segue em frente: a história não termina aí. Na sequencia, são cerca de muitas páginas engraçadas, algumas deliciosas, em que Marcus fica revivendo sua inacreditável noite de sexo com Olivia, páginas cheias de humor. E ainda tem uma longa conversa com o reitor da universidade, a intransigente defesa que Marcus faz do ensaio de Bertand Russell, Por que não sou um cristão, sua indignação contra tanta coisa que o reitor questiona ou quer saber, que ele sai da reitoria com uma certeza: será expulso da escola.

Justamente ele, que não tinha uma nota abaixo de 10 em todo o seu currículo, que sonhava ser o orador de sua turma de estudantes de Direito. Mas não. A expulsão não acontece nesse momento, o reitor parece ser um homem tolerante - mas até certo ponto. Ocorrerá mais à frente e por outro motivo. A expulsão da universidade é, assim, um divisor de águas em sua vida; em suma, um enorme risco que Marcus buscou para si mesmo.

Desde que Marcus resolveu deixar a casa paterna em Newark para estudar em Winesburg, até o derradeiro parágrafo desta história, permeando todo o livro pois, temos um relato pontuado pela inexperiência, tolice, resistência intelectual, descoberta sexual, coragem e erro. Erro fatal.

Como diz Roth, a escolha mais banal, fortuita e até cômica que fazemos pode conduzir nossa vida para um desfecho completamente diverso daquele que imaginávamos em nossos melhores dias aqui na Terra.

Belo livro. Engraçado e também bastante triste.

(Lido entre 28 e 29.11.2011)
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DIRCE 07/06/2012

Vai ,Marcus! ser gauche na vida.
Normalmente somos, nós, leitores, quem escolhemos o livro que vamos adquirir, mas, "Indignação"de Philip Roth, foi quem me escolheu. Estava, eu, em um sebo na minha cidade, com dois livros nas mãos e pretendia trocá-los por algum livro do escritor Mia Couto. Nada encontrei e, meio frustrada, me dirigi à saída quando me deparei no balcão com "Indignação". Não me lembrava de ter lido algo ou sobre Philip Roth, porém, o estado de conservação do livro, chamou a minha atenção – era novíssimo e mal haviam acabado de cadastrá-lo. Para não voltar para casa com os meus 2 livros, ou ter que vendê-los muito, optei por trocá-los por esse livro que,de certa forma, me "fisgou".
Já dentro do ônibus, comecei a lê-lo e, ao me deparar com uma prosa que me soou como uma confissão, não consegui parar de ler, contrariando minha intenção de não deixar nenhum livro "furar a fila". Ufa!!! fiz a leitura, praticamente, num fôlego só.
A narrativa é feita, até quase o final do livro, pelo moribundo (ou não) Marcus Messner – um jovem, filho de um açougueiro judeu, mas que, graças à sua inteligência e dedicação aos estudos, chegou até a Universidade. Entretanto, não foram só os esforços dos seus pais que moveram Marcus a se debruçar sobre os livros: ele temia ser recrutado e enviado ao front de batalha na Guerra da Coréia.
Fruto de uma criação excessivamente zelosa - muito mais que zelosa: seu pai foi acometido por uma espécie de paranóia, Marcus sentido-se asfixiado e necessitado de novos ares , optou por cursar uma universidade quilômetros e quilômetros distante da casa de seus pais, entretanto, apesar de toda a sua bagagem de conhecimento que permitia que ele defendesse suas idéias com garra, se sentia incapaz de viver o entremeio do seio familiar e a vida no campus da universidade, fato que me remeteu ao "Poema de Sete faces" de Drummond : (...)Vai, Carlos! ser gauche na vida (...)
Não sei se Marcus foi vítima ou culpado, mas sua ética demasiadamente rígida o levou às "profundezas".
Não querendo me alongar mais, concluo meu comentário deveras pensativa: será que a pessoa que se desfez de "Indignação" chegou a ler esse livro ( o livro traz a etiqueta do sebo e de uma livraria daqui de Sorocaba )? Seria lamentável, pois esse leitor teria deixado escapar a oportunidade de ler uma obra que permite mais que uma "leitura" e entendimentos em um só enredo. A outra "leitura" é de que, talvez, Marcus e seus conflitos, tenham sidos somente expedientes que P. Roth se utilizou para poder criticar a sociedade americana da década de 50.
E mais: Drummond tinha razão.
(...)Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução(...)
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