jota 30/11/2011Escolhas que mudam a vidaNeste livro, em sua maior parte passado em 1951, segundo ano da Guerra da Coreia, temos Marcus Messner, jovem estudioso, responsável e cumpridor de seus deveres ("um jovem que todo pai gostaria de ter como filho", como diz o seu próprio a certa altura) estudando numa universidade distante de casa.
Filho de um açougueiro de origem judia, vigoroso e incansável trabalhador, o rapaz se vê sufocado pelo pai louco de medo e apreensão pelos perigos da vida adulta, pelos perigos do mundo que ele vê cercar seu amado filho único por todos os lados. Enquanto está estudando, pelo menos Marcus não será convocado para lutar na Coreia: é um consolo para ele.
Por conta desse amor exagerado, sufocante, dessa preocupação excessiva do pai, a lhe seguir os passos dia e noite, Marcus decide deixar a casa da família em Newark, Nova Jersey, para ir estudar numa faculdade distante, em Winesburg, Ohio. Mudança que vai mofificar radicalmente sua vida.
Assediado pelas fraternidades de estudantes que o querem em suas associações, ótimo aluno que é, ele decide permanecer independente. Além do que, não lhe sobra muito tempo para nada, pois trabalha como garçom num bar, algumas noites por semana para ganhar alguns trocados e não depender tanto dos pais. Não liga nem mesmo quando estudantes ricos lhe pedem cerveja dizendo Ei, judeu, vem cá. Faz de conta que estão a dizer: Ei, ô meu, vem cá.
Então, a certa altura do livro, ao mudar de parágrafo, após lido o relato da primeira vez em que Marcus sai com uma garota da faculdade, Olivia, com quem tem uma experiência sexual inusitada, a primeira dele (um trecho que me lembrou o complexado Portnoy, do livro mais famoso de Roth, se bem que aqui as coisas se passem de outro modo, claro, e no automóvel de um colega de Marcus), vem uma passagem para a qual eu não estava assim tão preparado. Não mesmo.
Mas a vida segue em frente: a história não termina aí. Na sequencia, são cerca de muitas páginas engraçadas, algumas deliciosas, em que Marcus fica revivendo sua inacreditável noite de sexo com Olivia, páginas cheias de humor. E ainda tem uma longa conversa com o reitor da universidade, a intransigente defesa que Marcus faz do ensaio de Bertand Russell, Por que não sou um cristão, sua indignação contra tanta coisa que o reitor questiona ou quer saber, que ele sai da reitoria com uma certeza: será expulso da escola.
Justamente ele, que não tinha uma nota abaixo de 10 em todo o seu currículo, que sonhava ser o orador de sua turma de estudantes de Direito. Mas não. A expulsão não acontece nesse momento, o reitor parece ser um homem tolerante - mas até certo ponto. Ocorrerá mais à frente e por outro motivo. A expulsão da universidade é, assim, um divisor de águas em sua vida; em suma, um enorme risco que Marcus buscou para si mesmo.
Desde que Marcus resolveu deixar a casa paterna em Newark para estudar em Winesburg, até o derradeiro parágrafo desta história, permeando todo o livro pois, temos um relato pontuado pela inexperiência, tolice, resistência intelectual, descoberta sexual, coragem e erro. Erro fatal.
Como diz Roth, a escolha mais banal, fortuita e até cômica que fazemos pode conduzir nossa vida para um desfecho completamente diverso daquele que imaginávamos em nossos melhores dias aqui na Terra.
Belo livro. Engraçado e também bastante triste.
(Lido entre 28 e 29.11.2011)