Vic 22/04/2024
É incrível perceber como em alguns momentos da vida o único meio de ter certeza é, sem sombra de dúvida, abandonar qualquer ideia que tínhamos das nossas certezas e largar tudo para ir em busca delas.
A coragem que Cheryl teve, não só de fazer a caminhada mas relatar em detalhes tantos momentos anteriores a ela, é admirável. Se permitir tanta vulnerabilidade é o caminho mais fácil para acessar o todo do mundo, e ser acessada também.
O livro acompanha a parte da vida da escritora pré-PCT (Pacific Crest Trail), que é onde entendemos as esquinas que ela virou para levá-la onde levou. Nessa parte é bem fácil se identificar com alguns trechos porque, basicamente, conta das escolhas de vida de uma jovem adulta passando pelo inferno que é viver uma das maiores dores que um ser humano pode sentir e como para lidar com isso não existe fórmula. É vivendo que se aprende.
A parte que compreende todo o percurso da trilha é um pouco mais difícil de engatar, porque tem muitos detalhes sobre os lugares que ela percorre e os percalços que ela enfrenta, além de muitas coisas técnicas que atendem mais a quem é adepto à trilha. Mas não deixa de ser interessante, justamente pelas reflexões que a solidão e a imensidão da natureza proporcionam a uma pessoa tão quebrada que nem parece mais uma pessoa. Os encontros, mesmo que breves, também são momentos muito bons de acompanhar.
O livro termina de forma bonita e me deixou pensando que, talvez, para alcançar a nossa redenção basta que a gente se perdoe. É bom perceber que às vezes só ver o peixe sob a água basta, não precisamos tocar com nossas mãos, e compreender isso é libertador.